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A arte pode nos deixar mais saudáveis?
Dimitar Belchev | Unsplash
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Dia desses estava vagando pelo site do Tate, o museu de arte moderna mais importante do Reino Unido, e me deparei com a seguinte pergunta: “Como você está se sentindo?”.

Pisquei para acreditar e, por um momento, imaginei que era castigo por ter falhado algumas vezes na tentativa de incluir uma terapia na rotina. Mas era só a chamada para um teste que, em parceria com um psicoterapeuta, prometia relacionar o meu estado emocional a uma obra de arte do acervo museu.

Resgatei a memória da adolescente viciada em revista Capricho e, óbvio, não hesitei em iniciar o teste. E, se aquilo fosse mesmo real, pensei, certamente haveria de aparecer algo na linha de “Ansiedade”, 1894, do norueguês Edvard Munch.

“Ansiedade”, Edvard Munch, 1894. (Imagem: reprodução)

O questionário me transportou para uma série de situações para as quais eu não tive a menor dúvida da resposta. Quando finalmente terminei, surgiu na tela do computador um desenho de 1998, do artista visual britânico David Shrigley. Uma estrela de oito pontas, claramente mal desenhada. Logo abaixo, uma frase dizia “esse tipo de estrela é rara”.

David Shrigley, 1998. (Imagem: reprodução)

Compreendi o recado do Tate: talvez eu não estivesse sendo gentil comigo mesma, possivelmente deixando ressoar alto demais a voz interior que nos sabota, oculta as nossas singularidades e sussurra que nunca somos bons o suficiente.

Uma perspectiva tão distorcida de mim mesma quanto a daquele rabisco improvisado. Lembrei-me de Brené Brown e repeti internamente: é preciso coragem para ser imperfeito.

Arte para sentir-se feliz

A brincadeira do museu revela, em verdade, a enorme quantidade de estudos científicos que está por trás da sinérgica relação arte-saúde mental. Posso apostar que boa parte dos meus leitores deve se considerar um ansioso.

Quem nunca sentiu aquele frio na barriga que evolui repentinamente para um sofrimento emocional extremamente desagradável? Além de auxílio profissional, seguimos buscando maneiras de contornar temores irracionais e transtornos das mais variadas ordens. Regulação de sono, exercícios físicos, e um sem número de aplicativos de meditação que começam a se proliferar no celular.

LEIA TAMBÉM: O que aprendi ao levar minha filha a museus

O contato com a arte é também um aliado das terapias tradicionais? Aqui um parêntese porque falo de arte como campo da cultura pouco delimitado que é e, por isso, consciente das armadilhas de um discurso excessivamente amplo.

Será que podemos contar com esse consumo diário para apoiar um estilo de vida mais saudável e dar uma trégua da realidade estressante dos nossos dias?

A arte lava nossa alma da poeira do cotidiano”, Pablo Picasso.

Arte e saúde mental

Nos últimos anos, houve um grande aumento das pesquisas acadêmicas que investigam os impactos benéficos da arte na saúde.

No Reino Unido, que tem desempenhado um papel de destaque nessa expansão, mais de seiscentos museus e galerias já executaram com seriedade projetos voltados para o bem-estar, tornando-se verdadeiros promotores de saúde pública. Uma iniciativa do Arts on Prescription, um programa apoiado pelo Conselho de Artes da Inglaterra, órgão dedicado à promoção das artes visuais, demonstrou uma queda de 37% nas taxas de atendimento no sistema de saúde quando as pessoas frequentam ativamente galerias e museus.

VALE A PENA: O mundo da arte é para todo mundo!

Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2019, mapeou mais de 3 mil estudos globais e identificou um papel relevante da arte na prevenção de problemas de saúde, gestão e tratamento de doenças ao longo da vida.

Aparentemente, ainda conhecemos pouquíssimo da interseção entre arte e saúde mental, mas não há mais como negar a sua existência.

Para o psiquiatra Filipe Batista (@filipebatistapsiquiatria), com quem conversei sobre o assunto, “a arte liga-se fortemente à saúde mental, seja como expressão criativa do que não pode ser inteiramente compreendido ou dito, uma ponte entre a subjetividade e o universo externo, ou como recurso terapêutico largamente utilizado na prática clínica, uma ferramenta de reestruturação e ressignificação simbólica, um modo de atenuar ou sublimar o sofrimento psíquico”.

Pelo visto, a questão não estava no site do museu à toa. Para quem também desejar fazer o teste, basta acessar esse link.

E obrigada por perguntar, Tate. Estou me sentindo bem, obrigada.

Leia todos os textos da coluna de Iasmine Souza em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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