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Janeiro Branco: um convite para olhar a saúde mental com mais carinho
Anthony Tran/ Unsplash
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Insônia, cansaço extremo, dores de cabeça e alterações de humor podem ser alguns sintomas de doenças que afetam a saúde mental, como ansiedade, depressão e burnout. Elas podem estar associadas a várias causas e impactam profundamente todas as áreas da vida. A campanha do Janeiro Branco alerta e educa sobre a importância dos cuidados para a saúde mental.

Nesse cenário, o Brasil se destaca de maneira negativa. O país foi classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o mais ansioso e o quinto mais depressivo. Além disso, ele é o segundo com mais casos de burnout, a síndrome de esgotamento físico e mental, relacionada ao estresse crônico no trabalho.

A explicação para o quadro preocupante do Brasil é complexa e envolve fatores como a falta de acesso à saúde e à educação, além de aspectos culturais e a grande desigualdade socioeconômica do país.

Os fatores que influenciam a saúde mental no Brasil

Embora o tema esteja cada vez mais em destaque, falar abertamente de saúde mental ainda é um tabu. Além disso, precisa ser desenvolvido em bases mais sólidas. “As mudanças estão ocorrendo muito devido ao falar sobre a temática e trazer informação. Mas não é só isso que vai fazer com que a gente tire a saúde mental desse lugar de tabu”, explica a psicóloga e especialista em gestão de pessoas, Mariana Holanda. “Precisamos de políticas públicas práticas, iniciativas colocadas através de rotinas e de processos dentro das empresas”, diz.

Além disso, não se pode esquecer do contexto histórico e social do Brasil para explicar o alto índice de adoecimento. “País de passado colonial e escravocrata que nunca buscou curar suas feridas sociais. É uma das maiores economias do mundo, mas, também, uma das mais desiguais e perversas” aponta Leonardo Abraão, psicólogo e fundador do Instituto Janeiro Branco, sobre alguns fatores que justificam o adoecimento visto no Brasil.

O ativista também pontua o machismo e o racismo estruturais, a homofobia, falta de consciência política e a ausência de políticas públicas efetivas para aumentar a qualidade de vida das pessoas de modo geral.

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Saúde mental como uma questão holística

Todos esses aspectos são importantes para pensar a saúde mental. Isso porque ela perpassa por todos os elementos que compõem a vida.

“Saúde mental é o eixo em torno do qual gravitam todas e quaisquer questões relacionadas às vidas humanas. É o tema mais onipresente de todos, pois é a condição de existência para a realização da vida humana, tanto individual, quanto social”, explica Leonardo Abraão.

Assim, a saúde mental funciona como uma via de mão dupla, pois é fundamental para que as pessoas executem suas atividades. Mas, condições propícias devem existir para que se possa usufruir dessa condição de saúde. Isso significa que síndromes e doenças podem interferir o desempenho de atividades cotidianas. Na outra ponta, condições externas também afetam a saúde interior.

Mariana Holanda lembra que “nós temos um país extremamente desigual, em que a maioria da população não vive, sobrevive. Então, de uma maneira geral, todos nós seremos afetados pelas condições sociais”. Além disso, existem fatores como relacionamentos familiares, autoconhecimento, ambiente de trabalho que impactam o bem-estar mental.

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O trabalho tem um grande papel na saúde mental

Deve-se observar o lugar que o trabalho ocupa na sociedade quando se fala de saúde mental. A maneira como ele é tratado evidencia aspectos culturais e valores da sociedade, além de indicar pontos em que as condições podem ser melhoradas.

A relação que os brasileiros têm com o trabalho é influenciada pelas culturas dos Estados Unidos e do Japão, baseadas em alta produtividade e eficiência. Esse modelo normaliza condições de trabalho que demandam altas entregas com poucos recursos e também ajuda a explicar o adoecimento das pessoas. “A gente vende que o propósito está completamente conectado com o trabalho e isso faz com que você aceite condições que você não deveria aceitar”, explica Mariana Holanda.

Uma pesquisa realizada pela plataforma Phomenta dá um panorama sobre esse cenário. No total, 55% dos profissionais que atuam no terceiro setor relatam preocupações com a saúde mental. Excesso de trabalho e falta de recursos necessários são as principais causas de estresse apontadas pelos participantes. Essas condições levam ao aparecimento de sintomas como ansiedade, exaustão física e transtorno do pânico.

Como melhorar o ambiente de trabalho para ter mais bem-estar

Pessoas com a saúde mental fragilizada apresentam sintomas que afetam o desempenho de suas atividades cotidianas. Isso pode impactar inclusive o trabalho, criando fenômenos como turnover (alto índice de demissões e contratações) e presenteísmo (quando um trabalhador está fisicamente presente, mas tem dificuldades em completar suas atividades).

Seja por pelo aspecto humano ou pelo econômico (pensando em redução de prejuízos), é importante realizar ações para melhorar a saúde mental, mesmo que em um ritmo lento. O médico do trabalho, Marcos Mendanha, aponta que “quando uma organização investe na promoção efetiva da saúde mental dos seus trabalhadores, esses prejuízos [turnover, presenteísmo] são substancialmente reduzidos”.

Segundo o especialista, para cuidar, de fato, da saúde dos trabalhadores, algumas ações e ideias são fundamentais:

  • Carga horária sustentável;
  • Maior autonomia dos trabalhadores;
  • Recompensa adequada;
  • Sentimento de coletividade;
  • Inclusão e equidade;
  • Promoção de autocuidado físico e mental;

E como cuidar da saúde mental além do Janeiro Branco?

Apesar de não existir uma fórmula mágica ou uma resposta pronta que vai funcionar para todas as pessoas, Mariana Holanda indica cinco esferas que exigem atenção e interesse das pessoas:

  1. A primeira é a do autocuidado, que envolve atividades como exercícios físicos e de respiração, que já possuem comprovação científica dos benefícios para a saúde devido aos hormônios liberados. Nesse aspecto, alimentação saudável e higiene de sono, também estão inclusas.
  2. Na outra esfera, a de autoconhecimento, a psicóloga aconselha a ter mais curiosidade sobre si. “A partir do momento que você aprende sobre seus comportamentos e reações, você começa a lidar com as outras pessoas em um formato mais empático”, explica a psicóloga. “E para você ir para a ação, melhorar a sua vida e a do outro, é necessário que você trabalhe a autocompaixão”. De forma consciente, é possível realizar exercícios de reflexão e autoconhecimento para reavaliar acontecimentos e comportamentos.
  3. Como terceira esfera, a psicóloga lembra dos relacionamentos interpessoais. “Somos seres coletivos. Para que você tenha uma vida melhor, uma saúde equilibrada, você precisa ter boas relações”, diz a psicóloga.
  4. A espiritualidade também é um fator que contribui para o bem-estar. Entender-se como parte de algo maior, independente da religião que você tem, pode ajudar a melhorar a autopercepção e a lidar com os acontecimentos.
  5. Também fundamental, como última esfera, tem-se o acesso à educação e as políticas de saúde necessárias para cuidar da saúde mental.

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