Quando eu falo, mas não consigo dizer o que sinto
Muitas vezes falamos, mas não conseguimos expressar da forma mais adequada aquilo que sentimos. Como superar os problemas de comunicação?
Muitas vezes falamos, mas não conseguimos expressar da forma mais adequada aquilo que sentimos. Ruídos ou falhas na comunicação são recorrentes em discussões na família ou trabalho, mas como superar ou lidar melhor com essas questões?
Quem nunca se arrependeu por ter dito algo certo com um jeito equivocado?
Toda mensagem que emitimos tem um conteúdo e uma forma. A forma é a maneira como dizemos algo e isso pode incluir o tom, a entonação, o volume e também o não verbal, como o gestual. Já o conteúdo diz respeito a ideia do que queremos transmitir. O equilíbrio e o ajuste entre esses dois fundamentos é o que garante que nossa comunicação seja eficaz e atinja os objetivos.
Lembra daquele professor que sabia muito, mas não conseguia transmitir o conhecimento porque era muito detalhista ou monótono? E quanto àquele político que tinha um plano de governo brilhante, mas não transmitia confiança?
Se pararmos para pensar um pouquinho, lembraremos de vários exemplos em que a pessoa é preparada, tem ótimas ideias, bons argumentos, mas não consegue amplificar o que que diz por falta de um bom empacotamento do discurso.
No nosso dia a dia também é assim. Quantas vezes temos clareza e certeza sobre o que queremos dizer, mas derrapamos na forma, colocando tudo a perder?
Quantos desentendimentos, mágoas e enganos nascem da falta de harmonia entre o que quero dizer e como eu digo?
Descompassos na comunicação
Vivemos esse descompasso na comunicação com nossos filhos, em nossos relacionamentos, no trabalho e também no diálogo com nós mesmos.
Quando uma mãe perde a paciência e grita por dizer pela décima vez ao filho que ele não pode deixar a toalha molhada em cima da cama, é muito provável que a mensagem não cumpra o seu papel. E pior, cause ainda mais confusão.
Se essa mãe perceber que estava muito irritada e que foi demasiada bruta, é capaz de voltar ao quarto do filho, alguns minutos depois de ter falado, e pedir desculpas. E aí a confusão acontece. Tanto do lado dela, quanto do lado do filho.
“Afinal, não tenho direito de reclamar da toalha molhada?” Pensa a mãe, e o filho, ao ver a mãe pedir desculpas, pode entender que tudo bem deixar a toalha ali ou que não era preciso tamanho estardalhaço por uma coisa tão “pequena”.
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Caímos em um ciclo de culpa
Quantas e quantas vezes nos vemos nessa cilada, confusos com o que dizemos, nos martirizando por não termos conseguido nos expressar como gostaríamos. A namorada que quer dizer que deseja mais carinho, mas acaba criticando, ou a mãe que gostaria de dizer que precisa de ajuda e acaba cobrando. Tantos e tantos exemplos de ruídos na comunicação que causam frustração, solidão e distanciamento.
Ao longo dos últimos anos, atendi muitas pessoas que começaram a duvidar do que acreditavam e sentiam por usarem a forma errada. Quando alguém se sente cobrado, agredido, criticado e ofendido é natural que ponha em causa todo o discurso. Mesmo que o conteúdo tenha sentido e seja genuíno, a maneira muitas vezes emocionada, sarcástica, ironizada, violenta, blasé ou vitimizada pode colocar tudo a perder. O receptor passa, então, a não escutar mais nada, se ressente da forma e frequentemente começa a atacar também. O emissor, então, sente-se incompreendido ou culpado pelo que falou, confundindo forma com conteúdo.
Uma das pacientes que atendi era frequentemente desmoralizada e ofendida por seu marido. Por muitas vezes, ela aguentava os insultos calada, mas quando decidia falar, a fala vinha embargada e encharcada de raiva e sensação de sufocamento. Apesar de suas queixas serem válidas, o marido se aproveitava da forma emocionada da mulher e dizia que ela era perturbada e precisava se tratar. Por muitas vezes, essa mulher se sentiu confusa, sem saber se suas reclamações e questionamentos eram pertinentes. Ao cair em si e perceber que havia gritado ou chorado, se questionava se realmente não estava exagerando. Durante anos ficou em um ciclo de culpa-remorso-confusão. Essa mesma dinâmica perturbadora pode acontecer nas relações entre pais e filhos, amigos e familiares.
Como podemos comunicar melhor?
É importante exercitarmos o uso de uma boa forma, para evitarmos cair nessa gangorra que ora nos faz sentir que estamos certos em nos expressar e por outras vezes nos inibe, cala ou culpabiliza pelo que falamos.
Uma boa forma deve sempre expressar a verdade do que pensamos e sentimos, além de ser tranquila, segura, apesar de muitas vezes, também precisar ser firme.
Antes de falar alguma coisa importante, procure se esvaziar de suas emoções. Respire lenta e profundamente algumas vezes, centre-se e fale de um lugar sereno, mesmo que o assunto seja sério e difícil. Ao estarmos em nosso próprio eixo nossa fala ganha força e potência. Uma força que se traduz pelo desejo de ser compreendido e de que o diálogo realmente aconteça. E não de uma força que quer ter razão ou ganhar uma discussão.
O tempo inteiro estamos nos comunicando, mesmo quando silenciamos. Ao nos comunicarmos bem, expressamos nossa verdade, damos voz ao que sentimos, acreditamos e pensamos.
Alinhando forma e conteúdo, nossa fala e escrita se transformam em uma bela dança que nos ajudam a entender quem somos, a nos posicionar no mundo e a criar inúmeras pontes, conectando o melhor que cada um tem dentro de si.
ANA PAULA BORGES (@anapaula_borges1) é fundadora da FlowMind (getflowmind.com), uma instituição que ensina e promove a meditação como ferramenta de autoconsciência. Ela acredita que a comunicação é um dos maiores desafios que todos nós temos, mas também a mais potente e bonita ferramenta de entendimento, evolução e conexão.
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