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2450, por Eugenio Mussak
StockSnap | Pixabay A concisão do impresso, como na época da máquina de escrever.
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Não, o número que dá título a esta coluna não se refere a um ano do século 25. Também não é o número de uma casa em uma avenida longa nem o saldo bancário que, felizmente, ainda está positivo. Trata-se apenas do número de caracteres, incluindo espaços, que dão corpo ao texto do colunista em mais uma edição da Vida Simples (ed. 235 – “Abra-se para o novo”).

Limites

Quem escreve para veículos impressos está acostumado a essa delimitação a que chamamos de “número de toques”. A cada demanda de artigo, crônica ou entrevista, minha primeira pergunta é “quantos toques?”. Sem essa informação, não há como começar, pois não sei como encadear as ideias até chegar ao epílogo. A extensão define o estilo e a profundidade.

É comum que se afirme que vivemos um tempo de pouca paciência com a leitura, que as redes sociais se transformaram em estilo literário e que sua marca é a concisão. Tremo em pensar nessa possibilidade. Não pela redução dos textos, mas pela futilidade dos temas. A concisão, na verdade, é uma virtude. Hemingway recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1954, em grande parte pelo sucesso de O Velho e o Mar, considerado uma metáfora da vida e um livro caracterizado pela força da narrativa e pela economia das palavras. De quebra, Ernest influenciou um novo estilo literário.

Bons mestres

Nos anos 1970, eu era um professor em início de carreira e tive bons mestres. Um deles foi um professor de história que também escrevia poemas e adorava o estilo haikai, os curtos e fortes versos japoneses. Quando eu me queixei do volume de matéria que tinha que ensinar a cada aula, ele me orientou: “Para isso existe a didática”. O nome do professor? Paulo Leminski! Aquele que uma vez disse “Isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além”.

Há muitos anos, quando eu dispunha do luxo de 12 mil toques, escrevi em Vida Simples um texto chamado “Direto ao ponto”, sobre a virtude de contar muita história com poucas palavras. Tive dois inspiradores. O primeiro foi Milo Frank, autor de “Como Apresentar as suas Ideias em 30 Segundos ou Menos”. E o segundo, pasme o leitor, foi William Shakespeare, que, na abertura de suas obras, costumava fazer uma sinopse em menos de meia página, sem medo de dar spoiler.

Por tudo isso, quando a querida Débora Zanelato, docemente, me informou o novo tamanho da coluna, não me preocupei. Abrir-me para o novo inclui reaprender a escrever, sempre. E, afinal, existe a didática.

Leia mais textos da coluna de Eugenio Mussak

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples

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