A adolescência é um tempo de despedidas

Isso aqui pode até parecer um textão de mãe ressentida com um pezinho no ninho vazio, mas pensa aqui comigo se não é verdade que a adolescência é uma época de despedidas.

Voltemos lá para aquela época, quando somos um serzinho amorfo que acabou de aterrissar na terra: uma sucessão de primeiras vezes, uma atrás da outra.

Mães, pais e tutores, especialmente, acompanham essas primeiras vezes com comentários do tipo: “olha, acho que ela tá rindo! Aaah ele já ta virando, você pegou isso? Filma, filma, tá pedalando sem as rodinhas!”

A primeira infância é um tempo glorioso de estreias, é uma premiere atrás da outra, anos e anos em cartaz.

O começo das despedidas

Até que meio que sem aviso, de uma dia desajeitado pro outro, as estreias disputam espaço com as despedidas: o último beijo na mamãe na frente da escola, o último filminho assistido juntos debaixo das cobertas.

E também a última vez que você comprou roupa sem aprovação prévia em três vias. É, minha gente, a adolescência é sim um tempo de despedidas.

E não quero deixar isso mais difícil pra vocês, mas saibam, são despedidas doloridas pra os adolescentes também. A última vez que ele vai se pegar sentado montando Lego no chão da sala.

Um dia chega a última ida dela com o penteado que você fez pra almoçar na casa da vovó, ou o último Natal acreditando no invisível…

Transitar entre dois mundos, precisar dos pais e não querer estar só com eles, desejar secretamente voltar no tempo de passar a mãozinha por baixo do travesseiro conferindo o bom serviço da fada do dente…

A despedida faz parte da vida

Isso é adolescer. Um passo cá, o outro lá. É lindo de ver, mas também dói. Ver filho voar é um misto de orgulho com a sofrência mais afiada que alguém pode experimentar.

É se despedir pra um até já com saudades antecipadas de um tempo bom que não volta nunca mais e nem deve voltar. Mas e o que é a vida senão um eterno despedir-se?

Qualquer criatura que pousou nesse universo já nasce se despedindo da vida. E o que de melhor a gente leva é o misterioso recheio no meio dela. E a sorte grande de ter pra quem voltar.

LEIA TAMBÉM
Como se conectar de verdade com seu filho adolescente?
Cinco inspirações para viver uma adolescência melhor

Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião da Vida Simples.