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Somos diferentes versões de filhos
Foto: Derek Thomson/Unsplash
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Neste artigo:

Quinze anos. Meus filhos, Clara e Lucas, fizeram 15 anos. Há algumas semanas, levei meu menino, Lucas, ao médico.

Na hora de subir um lance de escadas para entrar na sala de exames, fiz graça. Olhei para ele à procura de uma risada. Nada. Nem perce­beu.

Na saída, perguntei se tinha lembran­ças dele pequenino comigo. “Claro.” Que bom que se lembra. Faço força para manter os detalhes vivos em mim.

Na volta para casa, conversei sobre como era difícil vê-lo crescer, deixar de ser meu menino. Ele sorriu. Me abraçou. “Está tudo bem, mãe.”

Amo o jovem que ele está se tornando, mas sinto falta do menino. Das brincadeiras, do sorriso fá­cil, das fantasias. O olhar, eu sei, ainda é o mesmo. Aquele que me acolhe com amor.

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Uma das lições mais preciosas aprendi­das é que podemos ter convívio, ao mesmo tempo, com as diferentes versões dos nos­sos filhos. O bebê, a criança, o adolescente. Todas estão em mim e nele.

Às vezes, saio em busca do abraço dele aos 3. Às vezes, preciso das palavras do rapaz de 15.

Contudo, essa lógica não tem funcionado muito bem quando sou filha. Papai está com 87 anos. A memória lhe escapa do controle. A fraqueza nas pernas é rotina.

Olho para ele fixamente, todas as vezes que o vejo, tentando manter seu retrato em mim. Sei que tenho convivido com par­tes cada vez menores do homem que ele já foi.

A verdade, difícil de admitir, vem à tona quando meu quarto silencia e o coração, então, sussurra: sinto falta do meu pai.

Existe um luto anterior ao fim, que nos coloca de frente com o que o tempo tira de nós, filhos, aos poucos. Isso porque meu pai não é mais meu pai.

Sua fragilidade e dependência passam ao largo da pessoa que já foi. Entretanto, não quero que descubra meu segredo. Minha ferida. Minha saudade. Dele.

Encontrando a filha que sou

Outro dia, ele me perguntou se eu queria mexer na sua cabeça de fios brancos e ra­los. Fazia isso quando era criança. Depois de adulta, não mais. Acomodei sua cabeça no meu colo e comecei a fazer cafuné, da mesma forma que há 40 anos.

Agora, toda vez que vou à casa dele, repito o ritual. Nessa fresta do tempo, nos encontramos. A menina, pequena, rechonchuda, cheia de perguntas sobre a vida, e o pai, grande e protetor.

Minha raiz, meu cais. Finalmente, menina Ana encontra o pai. O menino Lucas garga­lha com a mãe. Sempre a mesma Ana, em idades diversas, sobretudo convivendo juntas na lem­brança daquilo que nomeamos amor.

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Conteúdo publicado originalmente na Edição 266 da Vida Simples

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