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Razões surpreendentes para você não planejar a sua próxima viagem
Leo Longo em uma de suas viagens não planejadas (e inesquecíveis). Foto: Sandro Silva
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Viajar é mais do que seguir roteiros e hoje eu vou mostrar ótimas razões para você não planejar a sua próxima viagem. Antes disso, vamos lembrar como é o jeito tradicional de viajar e por que ele pode não ser a melhor escolha para você.

Vivenciar as preciosas férias e recesso de fim de ano sem se planejar para alguma viagem ou atividade especial me parece um desperdício. Por razões óbvias, claro. Seria loucura tratar ocasiões tão raras de lazer com pouco-caso. E podendo desfrutar de tempo livre – coisa que o corre do dia-a-dia nunca permite – faz todo sentido pensar em como aproveitar cada valioso minuto.

Para isso, mergulhamos na busca de roteiros desejados que cabem em nosso bolso (mesmo que seja em 12 parcelas). Aquela pousada deliciosa que uma amiga ficou no último feriado, a praia que se tornou a queridinha do momento, o resort que vi no feed do Instagram, aquele país onde todo mundo vai. Pelo sucesso das experiências dos outros, a gente espera garantir o nosso.

Mas ao não querer “errar” na escolha e nem perder tempo e dinheiro, lá se vão as duas virtudes desta circunstância tão excepcional.

A viagem planejada deixa de ser singular e especial para se tornar banal e comum, afinal é o mesmo que todos fazem. O tempo livre deixa de ser livre porque agora é planejado e replicado tal qual o roteiro dos outros.

E se você deixasse sua viagem nas mãos do destino?

Em nove anos vivendo como documentarista itinerante e nômade pelo mundo, foram muitos os lugares que só conheci porque decidi não definir rumo. Assim como foram muitas as surpresas e descobertas que fiz por não planejar itinerário ou ponto-final. Por muitas vezes, o objetivo é mesmo somente ir.

Se viajar assim, num roteiro tão indefinido, te deixa desconfortável, gosto muito desta frase do livro “O Mundo: Modo de Usar”, de Nicolas Bouvier:

“uma viagem dispensa pretextos. Não demora muito a provar que se basta a si mesma. Julgamos que vamos fazer uma viagem, mas depressa compreendemos que é a viagem que nos faz, ou nos desfaz”.

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Permita-se ser surpreendido

A vida exige da gente tanto controle e precisão sobre cada decisão, que até quando temos oportunidade de deixar rolar não nos permitimos “ver no que dá”. Talvez seja o medo de entregar o futuro ao imprevisível e se arrepender por não conduzir o rumo das coisas quando era possível. Como se pudéssemos ter certeza do amanhã…

Viajar sem planos é oportunidade para compreender que ter êxito não é necessariamente fruto de uma rígida organização e planejamento.

Êxito também pode ser resultado de saber usar a intuição e estar atento aos prazeres dos breves instantes. Quanto mais planos e metas temos, mais inflexível nos tornamos. Não tenha temor de se entregar ao incerto.

É preciso coragem para fazer diferente

A emulação da viagem dos outros é algo tão sem graça que me faz, por algum instante, até mesmo duvidar de que somos dotados de criatividade e individualidade. Ver as pessoas indo para os mesmos lugares, replicando os mesmos roteiros, reproduzindo as mesmas fotos e tentando viver as mesmas experiências, é o sinal maior do desperdício e da preguiça.

Ao conter essa reprodução dissimulada dos hábitos de viagem, somos levados a inventar e descobrir nossa própria forma de viajar. Atitude que irrompe nossa curiosidade, expande nosso interesse pelo desconhecido e permite que nosso dom e prazer para a descoberta sejam potencializados. Viajar também é sobre nos tornarmos melhores pessoas.

Larga essa neura de que tudo tem que ser perfeito

Se a vida não é perfeita, por que uma viagem deveria ser? As melhores histórias de sucesso são justamente as repletas de imperfeições. O carro atolado, o restaurante ruim, o clima desfavorável, o hotel nada aconchegante.

Sem planejamento, claro que é maior o risco de contratempos. Mas não há quem enfrente melhor as adversidades do que quem as vivencia. Ser melhor viajante é entender isso.

“Ah, mas férias são para não pensar em nada”

Pelo meu conhecimento, a única condição possível que nos permitiria não pensar em nada é a morte encefálica. Uma vez ativas, nossas funções cognitivas só param quando o cérebro chega ao fim da vida. Logo, tirar férias com esse objetivo não me parece tarefa tangível. E celebre isso!

Viaje para pensar, sim. Porque é pensando que você expande sua compreensão do mundo, do país que você vive, da sua comunidade e de quem você é. Viajando para pensar, você descobre até que sua vida poderia ser bem melhor do que é. Por exemplo, eu mesmo fiz uma revolução após permanecer 15 dias vagando aleatoriamente de carro por quase 4.000km de estrada.

As consequências de uma viagem sincera podem ser reveladoras. Mesmo se você tentar evitar pensar nelas. Então, não viaje para se esquecer de si, mas para se lembrar de você.

Fazendo lugares invisíveis se tornarem visíveis

Há muito mais lugares e culturas desconhecidas aos nossos olhos do que o contrário. Alguns, inclusive, que talvez nunca ouviremos qualquer menção. Não é fantástico?

Desbravar ao léu regiões, cidades ou até bairros desconhecidos, pode nos mostrar que todo lugar tem sua história, seus acontecimentos e seus personagens. Há valor em qualquer lugar, se quisermos enxergar. E, assim, conhecer destinos aleatórios e inesperados significa aprender que muitas narrativas existem e são possíveis.

Mas por que lá?

Se ainda é difícil compreender as virtudes e a magia de uma viagem sem planejamento ou mesmo sem destino definido, termino meu texto com este pequeno causo.

Recentemente, passei algumas semanas num lugar que ninguém ao meu redor conhecia. Antes da viagem, um amigo me perguntou: “mas por que você escolheu esse destino para ir?”. Por fim, eu respondi: “não sei, te digo quando voltar”. Não é fantástico?

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LEO LONGO é documentarista independente há 9 anos. Vive na estrada para filmar séries ao lado de Diana Boccara, com quem forma o duo Couple of Things. Artista e ativista do minimalismo, escreveu o livro “Mínimo Essencial”. Suas produções estão disponíveis em plataformas como Amazon Prime Video e Globoplay.  Aqui na Vida Simples, o duo escreve sobre como o fazer Arte independente e a vida nômade e minimalista revolucionam sua percepção de mundo.


Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião da Vida Simples.

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