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Ninguém se ama sozinho: entenda o valor dos bons relacionamentos
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É fácil explicar o imperativo atual do “se ame”: num tempo em que as relações estão truncadas, difíceis, onde tudo é “preto no branco”, sem as nuances dos tons de cinza, fica fácil decidir que não precisamos que o outro nos ame, nos compreenda, nos reconheça.

Vivemos sob a égide capitalista neoliberal, em que a todo momento somos convidados a consertar problemas estruturais em nossas individualidades, obviamente falhando. Se você quiser, mas quiser muito, e trabalhar muito para algo, você consegue, eles dizem.

Sem considerar fatores histórico, familiares, socioeconômicos, locais, sem considerar raça, sexo e idade, o mote é que não devemos esperar ninguém fazer por nós, e que tanto nosso sucesso quanto nosso fracasso são de nosso inteiro controle.

Viramos projetos de nós mesmos, enclausurados com nossas próprias dificuldades, escondendo a vergonha de sermos os “únicos a não conseguir sozinhos”.

Pois bem, não fomos feitos para conseguir nada sozinhos. Como dizer a pessoas pretas ou gordas que se amem, que apenas isso basta, quando somos todos ensinados de maneira direta ou indireta que pessoas negras ou gordas não são as principais escolhas para o amor? Esse é apenas um exemplo de como aplicamos a meritocracia também às relações.

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A psicanálise vem nos dizer que nos amamos conforme somos amados. E, por isso, amamos aos outros conforme nos amamos. É um tanto complexo, ainda que pareça simples. Não formamos nosso senso de eu integrado, seguro e com bons olhos para si se não tivemos esse mesmo senso de eu construído na infância, em relações que nos nutriam ao mesmo tempo que nos davam limites éticos e ausências suportáveis.

Infelizmente, muitos de nós internalizamos o amor junto com abuso, silenciamento, conflitos em que o importante era apagar o outro e não desatar nós, junto com controle demasiado, com expectativas surreais, com negligência. Podemos ter internalizado o amor como subserviência, como abandono, como resto.

Se, por outro lado, somos bem olhados, bem cuidados, bem compreendidos, bem suportados, criamos ligações com o outro que sustentam todas as outras que faremos no futuro, porque servirão de moldes, de matrizes para elas. Se somos adultos que não tiveram essa sensação corporal de segurança e apoio nas relações iniciais, vamos precisar tomar responsabilidade por construir isso na idade adulta, e é exatamente por isso que não conseguimos “nos amar” sozinhos.

Por mais independente que nossos cuidadores iniciais tenham nos preparado para ser, nunca deixamos de precisar das pessoas, pois somos seres sociais por definição. É nas relações que nos construímos e nos curamos.

Buscar e, mais que isso, apostar na construção de relações em que podemos escolher estar em segurança e escolher sermos minimamente compreendidos, é aprender a se amar. Ninguém se ama sozinho.

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