Viajar é voltar a ter olhos de criança
Viajar é uma oportunidade se encontrar com o novo, conhecer a si mesmo e viver novas oportunidades que só as trocas culturais podem mostrar.
Cá estou recém voltada de uma temporada de dois meses na Espanha.
Eu sei, sumi, me desculpem por isso, a vida ficou agitada em outro hemisfério.
Mas deixa eu contar pra vocês um pouquinho desse causo:
Meu marido sempre quis morar fora. Sempre, desde sempre.
E eu e meu filho Teo, apegados que somos, nunca topamos.
Por motivos mil que poderiam render muitas laudas. Mas, basicamente, somos enroscados em casa, família, raízes e entornos.
Só que o querer de uma pessoa importante pra você também é pouco seu, né?
Foi aí que eu tive a ideia de sugerir que a gente passasse uma temporada de dois meses, curta para aplacar esse desejo, porém longa pra quem só saía de férias.
Ele rapidamente aceitou e já estava com o destino na ponta da lingua: BARCELONA!
Então nos preparamos bem, agilizamos a vida, esquematizamos o tempo que o Teo ficaria aqui sem a gente, afinal, ele tem escola…
E fomos viver essa experiência.
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E é dela, minha gente, que eu quero falar agora.
Gostar de Barcelona é tarefa fácil, aquele céu azul pantone, a brisa mediterrânea, a língua única e cabulosa que só o catalão consegue ser…
Acredito que tudo isso aí é do senso comum, mas os pormenores, ah, essas pequenas descobertas do dia a dia, essas é que eu quero contar.
Me parece que nessas situações desenvolvemos um superpoder que é voltar a enxergar com olhos de criança.
Sabe aquele encantamento próprio de quem acabou de descobrir a minúscula asa de um inseto, o azedo do limão, a primeira colherada da papinha e a beleza da gravidade nos objetos arremessados no chão?
Pois é.
Pensa na força de tudo isso aí realocado pra um adulto que estava vivendo na toada da vida de gente grande. Trabalho, casa, filho, trânsito, casa, cachorro, boletos. Repita.
Quando esse adulto se dá conta que, sim, é possível voltar a enxergar com esses mesmo olhos, TUDO ganha outro sabor.
E pensa DOIS MESES inteiros fazendo isso?
Já imaginou quanta coisa uma criança pequena aprende em 2 meses?
É mais ou menos como passar a enxergar de preto em branco para 4K.
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Os olhos passeiam frenéticos pelas fachadas dos prédios, correm pra varrer o desenho das calçadas, fotografar as maçanetas, catalogar frutas e verduras nunca dantes sonhadas…
São as coisas (extra) ordinárias que recheiam de fato uma experiência de morar fora.
Claro que a gente ama visitar pontos turísticos, o óbvio pode ser muito divertido também, mas se encantar e se sentir parte tem um sabor que amplifica as experiências.
E aí vem a pergunta que não quer calar:
“Depois dessa experiência, você mudou sua opinião sobre morar fora?”
Eu não consigo dar uma resposta exata sobre isso, mas a pista que fica é que Barcelona amaciou muito as minhas certezas.
Não sei quando nem por quanto tempo, mas hoje consigo olhar com mais gentileza para esse convite.
Porque sair é olhar pra dentro.
E novas brisas arejam velhas certezas.
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