Se você tem um filho, seja pai
O fenômenos dos pais ausentes é comum e corriqueiro na vida das famílias brasileiras. Ressignificar a paternidade é um passo necessário a ser dado.
Filho sem pai é um personagem corriqueiro. Quase toda família tem. Todos conhecem alguém que é, ou têm um amigo, uma vizinha ou colega de trabalho que nunca abraçou seu pai. Aliás, que nunca nem viu esse homem que evaporou há tempo demais.
É o homem que perde as noites de cólicas e a primeira palavra dita. Não esteve lá para assoprar o primeiro joelho ralado, muito menos para acolher a mãe exausta. Nunca fez o filho adormecer escutando sua voz e jamais irá conhecer o sabor de dar colo a quem precisa.
Não importa se este homem é dos raros que convive com o remorso pelo abandono, a mãe ainda sentirá culpa maior e mais pesada pela escolha frustrada.
É o homem que perde festas de aniversário, comemorações na escola e a formatura.
Aliás, repare nos discursos de formatura. Muitas mães são citadas nos agradecimentos. Tantos avós, e poucos pais.
Rede de apoio
Porque a covardia os afasta até dos discursos de formatura. Os impede de ver o filho crescer e o neto nascer. Os afasta do afeto.
Estes homens nunca conhecerão o olhar de um filho transbordando de admiração. Rasgaram um universo de sensações. Mutilaram o amor mais verdadeiro que há.
O pai que some em meio aos escombros do egoísmo inicia uma cicatriz sem cura.
O tempo até mascara, mas como mero placebo, não elimina o buraco negro da ausência.
Filhos se nutrem de amor. Por isso, a cada pai que evapora, uma rede de apoio brota. Porque na essência somos todos pais e mães do coletivo. Uma espécie de curativo silencioso para falhas morais de certos homens.
Pai há 17 anos, confesso minha incompetência para compreender este fenômeno. Vivemos em um país que perdoa com certa generosidade pais ausentes. Quem nunca escutou “engravidou porque quis”, “o filho é dela, ela que cuide”, ou o clássico “ela deu o golpe da barriga”?
Percebe? O homem é uma vítima, coitado.
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O afeto que ameaça
Tenho uma teoria para os números do abandono paterno vigente: acredito que o alicerce da paternidade é o afeto. Só há relação pai e filho através de cada tijolinho colocado dia após dia na ponte do afeto.
Portanto, enquanto o machismo dominar, o afeto ainda vai assustar muitos homens. Lembra: “homem não chora”, “para com essa frescura!”, “isso é coisa de mulherzinha” e por aí vai. Qualquer forma de sentir não é bem vista.
Enquanto o cuidar, a forma definitiva de afeto, ainda for visto como feminino, o pai ausente usará este argumento para falhar.
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Luz no fim do túnel
Por outro lado, este texto é possível, porque uma leva de homens tem ressignificado a paternidade. Uma geração que arregaçou as mangas e está fazendo diferente do que fizeram seus pais. Um belo movimento de pais cumprindo seu papel.
Sim, apenas fazendo sua obrigação, mas convenhamos, uma evolução.
Sim, há mães ausentes. Porém o número de mães solo é avassaladoramente superior. Por isso este texto. Porque a verdade é uma só: se você tem um filho, seja pai.
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