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O que ganhei ao abrir as portas para os meus vizinhos
Couple of Things (@coupleofthings)
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Encontros no elevador, ao passear com cachorro, caminhando pela rua, até mesmo em comércios localizados nos arredores do nosso endereço. Morar num lugar a longo prazo proporciona encontros – muitas vezes breves – com quem habita nosso entorno.

Apesar de encontrarmos inúmeras vezes com quem compartilha o CEP com a gente, conheço poucas pessoas que criaram uma relação que vai além de um “bom dia” basicão com seus vizinhos. 

Eu era uma delas. 

A falsa ideia de que vivemos bem em comunidade

Morei duas décadas da minha vida numa mesma casa em São Paulo. Depois, fiquei uns anos entre alguns apartamentos pela capital antes de vender tudo e passar a viver com um par de malas pelo mundo, nômade, com meu marido. 

Confesso que, durante todo tempo que tive um lugar pra chamar de meu, nunca parei pra pensar em fazer amizade com quem morava ao lado (ou em cima e embaixo).

 Jamais imaginei o tamanho do impacto que criar conexões com os vizinhos poderia ter na minha vida.

Até que, um belo dia, tudo mudou. E eu mudei junto.

Ao romper um hábito, ganhei um presente que não tem preço

A campainha tocou. Meu marido olhou pra mim como quem diz “quem pode ser se a gente não conhece ninguém aqui?”

Era a mesma coisa que eu pensava, já que havíamos chegado poucos dias atrás naquele que seria nosso lar pelos próximos dois meses em Floripa: o apartamento 102.

Pra minha surpresa, quando abri a porta, havia no capacho um saquinho de supermercado com uns três ou quatro abacates. No corredor, um sorridente homem me olhava. Ele se apresentou. Era o Justo, do 104. E os abacates eram pra gente. 

Ele me explicou que havia um terreno ao lado do prédio com vários abacateiros – abarrotados de frutos. E como ele levava seus cachorros bem cedo pra passear ali, encontrava vários – até demais pra ele e pro seu marido. Logo, estava presenteando os novos vizinhos com a sua colheita do dia.

Aquele ato de gentileza, simples e genuíno, fez com que eu me sentisse acolhida. Mesmo estando separados por paredes, a partir daquele momento eu não estava mais sozinha. Agora, tinha um amigo no prédio com quem eu poderia contar. 

Com aquele encontro – que depois se estendeu em cafés, lanches e muitas trocas –  percebi que eu havia perdido inúmeras oportunidades de criar vínculos ao longo destes anos todos que eu passara ignorando quem estava tão perto de mim.

Aquela nova amizade me mostrou que, mesmo não tendo casa fixa, não havia nada que me impedisse de começar a criar conexões nos lugares que eu fosse morar. Muito pelo contrário, eu havia ganhado um incentivo pra passar a fazer exatamente isso.

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A partir daquele dia, conhecer meus vizinhos se tornou uma meta de vida. Chego numa nova casa e logo invento uma forma de descobrir – e me conectar – com quem mora ao lado. 

Já escrevi bilhetinho me apresentando e convidando a vizinha pra um café, já deixei docinhos na porta alheia, já colhi abacates e deixei no capacho, já até toquei a campainha pra oferecer um pedaço da torta de maçã caseira do Leo – mas esta história está contada em mais detalhes no último TEDxSãoPaulo que fizemos.

Ao dar esse primeiro passo, me expus sem expectativas. Se não houvesse resposta, tudo bem. Pelo menos, a partir daquele momento, o outro passou a saber que pode contar comigo quando precisar. Mas posso dizer que, desde que eu comecei a me abrir na busca de me conectar com os vizinhos, ganhei muito mais do que respostas. Ganhei grandes amigos.

Diana usa um casaco rosa com parede rosa ao fundo. Ela está sentada em um banco de madeira.

Foto: Couple of Things (@coupleofthings)

Vizinhos são um porto seguro

Sinto falta de deixar abacates e ganhar folhas de boldo da Carla, em Floripa. De tomar um café com a Isa, em São Paulo. De levar pão de queijo quentinho pro José, no Guarujá. E de praticar meu francês comendo queijo com a Françoise em Orléans, na França. Ao longo dos anos, venho colecionando boas histórias e dezenas de grandes amizades com vizinhos pelo mundo.

Deixei de me esconder por trás das paredes que antes achava que me protegiam. Abri as portas das casas que vivo pra conhecer quem mora ao lado – pra ir além do “bom dia” e criar conexões. Com isso, passei a me sentir mais segura onde vivo. Agora, tenho sempre aliados que vivem a metros do meu lar.

Se preciso de algo, bato na porta do vizinho. E, se este passar pela mesma situação, sabe onde buscar ajuda. Seja pra pedir pó de café, pra receber uma encomenda, regar as plantas ou até para compartilhar uma refeição. 

Não há melhor momento do que o de agora

Timidez, pressa, medo… São muitos os motivos que a gente usa pra justificar o fato de que não fazemos a mínima ideia quem são as pessoas que moram mais perto da gente.

Eu sei bem disso, pois foram desculpas como estas que eu usava, me convencendo de que não dava pra fazer contato com o cara do 42, a senhora do 206, a família da casa 157 – entre muitos outros números que nunca deixaram de ser figurantes na minha vida.

Mas se tem algo que aprendi ganhando abacates de um desconhecido é que devemos lembrar que não estamos – e nem vivemos – isolados. 

A solução de muitos dos nossos problemas do dia a dia pode estar bem ao nosso lado. Literalmente. Cabe a cada um dar o primeiro passo.

É começando por conhecer nossos vizinhos que passamos a, de fato, criar comunidades mais seguras. E mais unidas.


DIANA BOCCARA é autora do livro “Mínimo Essencial”, filmmaker, minimalista, e integra o duo  Couple of Things ao lado de seu marido Leo Longo. Desde 2015, vivem itinerantes pelo mundo, filmando séries como “What If Collab” (disponível no Amazon Prime Video) e “A Volta Ao Mundo em 80 Videoclipes” (disponível na Globoplay). Suas histórias já foram contadas nos palcos do TEDx e SXSW. No instagram, o casal divide um pouco mais dos bastidores de uma vida na estrada. E aqui na Vida Simples, eles compartilham aprendizados que uma vida com menos excesso lhes trouxe. 

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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