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Sustentabilidade na moda: conheça processos artesanais na produção de peças ecológicas
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O entrelaçamento entre arte, cultura e moda está presente em momentos históricos da humanidade e na maneira como as vestimentas são pensadas. No entanto, com um ritmo acelerado de produção industrial, processos químicos e um distanciamento do fazer artesanal, o mundo da moda tem se tornado cada vez mais mecânico. Por isso, aproximar a sustentabilidade e o mercado têxtil é um dos esforços de muitos artistas e artesãos que unem o fazer artístico e a construção da indumentária.

Essa é, inclusive, a missão da brasileira nipo-boliviana Tatiana Polo, uma artista sorridente, encantada com o que faz e conectada com suas raízes culturais e princípios de trabalho. Arquiteta de formação, iniciou os trabalhos na área de tinturaria ainda no segundo ano de faculdade. Foi esse um dos motivos que despertaram uma paixão antiga da infância.

Eu sempre tive um encantamento com tecido desde pequena, então, gostava desse processo de imaginar roupas e brincar com minhas bonecas”, explica a artista. Sua bagagem cultural e o olhar único de enxergar o mundo a ajudaram trilhar um caminho de autoconhecimento e aprendizagem. Hoje, é uma das referências no país em tingimento natural com foco na sustentabilidade.

Cores, aromas e origens

Filha de um japonês radicado no Brasil e uma boliviana descendente dos povos indígenas Aymara, Tatiana Polo une o Brasil, a Bolívia e o Japão na construção de seus trabalhos e no ritmo em que leva a vida. A artista relembra as histórias que ouvia da mãe sobre os tratamentos curandeiros realizados pela avó por meio de plantas. Mas também destaca a importância cultural das tradições de tingimento japonesas praticadas há séculos.

Foi assim que, entre os anos de 2001 e 2002, Tatiana se tornou a primeira estudante internacional a ganhar uma bolsa para aprender a técnica kaga yuzen zomê. Apesar de não ser comum no Brasil, a técnica japonesa é utilizada para o tingimento manual de tecidos e conserva características históricas.

“Foi outro desdobramento diante da minha ancestralidade, porque estive na cidade onde meu avô nasceu, aprendendo processos de tintura de forma tradicional, diferente do que fazia aqui no Brasil”, explica Tatiana. De volta ao país, com uma bagagem profissional ainda maior, a artista tomou a decisão de não mais trabalhar com processos químicos nos tingimentos que realizava. 

Tatiana Polo manuseia uma planta em uma panela para a formação de corante. sustentabilidade Foto: Divulgação

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Aizomê – Amor + Tingimento

A união entre procedimentos artesanais e culturais deram origem ao projeto batizado por Tatiana Polo de Aizomê. O nome aizomê, que vem da língua japonesa, faz referência ao tingimento azul índigo, mas Tati utiliza  aquino o significado de outro ideograma. Ai, que remete amor ( 愛) e zomê (tingimento). A ideia surgiu durante uma conversa entre a artista e seu pai, que sempre a apoiou nas descobertas artísticas e no trabalho com tingimento.

“Esse processo está ligado à sensibilização que vem da própria natureza, desse resgate que a gente faz quando se reconecta com a sabedoria e o que podemos aprender com isso. No caso do tingimento natural, ele vem através das cores que as plantas oferecem e como posso manifestar isso por meio da minha arte no tecido,” explica Tatiana. 

É o conjunto entre as plantas nativas do Brasil e os conhecimentos ancestrais adquiridos pela artista que trabalhos únicos vão sendo desenvolvidos a partir da sustentabilidade. Recentemente, Tatiana foi a responsável pelo tingimento da roupa utilizada pela primeira-dama Rosângela Lula da Silva durante a posse presidencial. Para a peça, ela decidiu utilizar as cores produzidas com folhas de caju, uma planta nativa do Nordeste e litoral brasileiro.

produção de corante na cor vermelha para o tingmento natural de um tecido. sustentabilidade Foto: Divulgação

Processos intuitivos

É a valorização de sua ancestralidade que dá motivação e significado ao trabalho desenvolvido por Tatiana. “O meu trabalho hoje em dia vem neste lugar. Por isso, agora, como uma pesquisadora de cores, isso passa pelo universo intuitivo, além de poder manifestar dentro da minha profissão”. 

Arriscar-se, testar novas cores, procedimentos e combinações é uma das marcas que a artista guarda consigo, uma maneira de sempre se deparar com novas descobertas. Além disso, faz parte o simbolismo das cores e os aromas liberados durante o processo de tintura. Também se une a esses elementos a essência energética das plantas utilizadas no tingimento. “Isso interfere no emocional e pode afetar, em algum campo, o processo criativo”, explica Tatiana.

foto de um tecido tingido de azul com branco exposto em um ateliê. sustentabilidade Foto: Divulgação

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