Como trazer mais prosperidade para a vida?
Somos pessoas mais prósperas quando equilibramos o ter e o ser, compreendendo que a prosperidade também está em criar espaços para partilha.
A cidade em que moro é um interior moderno. Não temos shoppings nem grandes franquias de fast food, mas também não somos um lugar muito pequeno e pacato, com ruas em paralelepípedos, como nos municípios históricos de Minas Gerais. Escolhi voltar a viver aqui há seis anos, depois de uma longa tempora da na capital. A motivação da escolha foi bem simples: por ser onde está a minha família e porque compreendi que, se quisesse alcançar alguma prosperidade, algum sucesso na vida, eu precisaria parar, reprogramar a minha rota e encontrar mais tempo para pensar em meu próprio caminho e em meus reais desejos. Estou sempre aprendendo e, no fim, apesar das dificuldades, todas as decisões pareceram ter me preparado para estar onde estou hoje.
O conceito e entendimento da prosperidade e do sucesso é diferente para cada um de nós. Aqui neste agora, por exemplo, me considero uma pessoa próspera porque tenho algumas coisas que me são essenciais para viver com mais propósito e leveza. Encontro brechas de felicidade, saúde em dia para conseguir sonhar, trabalho suficiente para sempre renovar os livros da estante, tempo para admirar a vida, perseverança para me encorajar pelos riscos necessários em busca daquilo que espero. Essas coisas fazem sentido para mim e precisei de tempo para entendê-las como parte de quem sou. Da mesma maneira, elas podem não significar quase nada para você e tudo bem, não há problema nisso.
Acontece que, muitas vezes, associamos a prosperidade apenas ao dinheiro e aos bens materiais conquistados, não é? E, claro, ela tem a ver com tudo isso. É importante lembrarmos, inclusive, que o dinheiro nos abre muitos caminhos e é válido para termos o conforto necessário quando se fala sobre buscas e realizações.
Nesta nossa conversa, eu gostaria de te convidar a pensar um pouco mais além, a partir da possibilidade de uma vida próspera se basear no equilíbrio entre o ter e o ser, e não apenas em conquistas materiais. Somos “bem de vida” quando conseguimos encaixar em nossa realidade aquilo que nos faz bem, que condiz com nossa verdade e nos é essencial, independentemente do acúmulo ou não de maiores riquezas. E, antes de nos aprofundar- mos mais nesse assunto, eu gostaria de te per- guntar: o que é a prosperidade para você?
Para muitos, prosperidade significa apenas ter dinheiro. Mas trata-se de uma capacidade de gerar riqueza – e não só material
Conhecer-se para prosperar
Para nos ajudar nessa reflexão, eu conversei primeiro com o Leonardo Prevot. E ele me disse que “a prosperidade é quando não há divergência entre o que a gente é e o que a gente quer”. Leonardo é engenheiro, executivo de uma grande multinacional e sempre entendeu bastante sobre finanças. Em 2016, baseado em suas experiências profissionais, ele começou a ajudar algumas pessoas a se organizarem nesse campo financeiro.
O trabalho foi dando certo, a procura cresceu, mais clientes chegaram e Leonardo se especializou e se tornou um coach de finanças. Desse jeito, ele orienta as pessoas a se organizar para conquistar aquilo que almejam de modo a ter uma vida melhor, seja uma transição de carreira, uma aposentadoria ou qualquer outro aspecto que exija um pouco de planejamento financeiro.
Segundo Leonardo, a prosperidade também é um mecanismo de manifestação. E, quanto mais clareza temos do que queremos no daqui para frente, mais chances encontramos de gerar algum resultado. Tomando consciência de quem somos e da vida que buscamos para nós, é possível identificar nossos reais valores e, a partir deles, saber o que é realmente necessário para sermos mais prósperos e o que é uma construção do ego. Para ajudar nisso, o Leonardo indica um exercício chamado de ensaio mental.
“A pessoa ensaia mentalmente uma situação que quer viver, como quer estar no futuro. E isso diz mais sobre o que a pessoa é do que sobre o que ela quer ter de fato”, explicou. E completou: “A gente manifesta o resultado de acordo com nossos padrões de sentimento”.
Obviamente, aparecem desejos de ter uma casa, um determinado carro, uma condição financeira melhor… Mas a investigação também revela caminhos mais relacionados ao lado de dentro, aos desejos e anseios da alma, nos mostrando o quanto isso é valioso. “Quando manifestamos, estamos colocando nossos sonhos no mundo. E, então, já é um passo dado para alcançá-los”, explicou.
Fora que, quando verbalizamos ou escrevemos o que almejamos, conseguimos visualizar melhor aquilo que temos e compreender o que faz mesmo parte de nós, da nossa realidade ou de algum objetivo induzido pelo coletivo. A partir daí, podemos dar passos rumo à realização. “A não prosperidade, independente do dinheiro, está direcionada ao quão incongruente está sua vida interna e externa. Às vezes, o problema está dentro por questões relacionadas a crenças limitantes”, pontuou Leonardo.
Para viver uma vida mais próspera, antes é preciso reconhecer seus desejos mais profundos, e não o que dizem que você precisa.
Ser antes de ter
A partir desse exercício proposto e guiado por ele, começamos a identificar quais são essas crenças que nos limitam, e nos tornamos mais livres para enxergar melhor o que é o sucesso para nós, independentemente da opinião dos outros. E não tem muito jeito: sempre vamos cair naquela certeza de que, quanto mais nos conhecemos, mais chances temos de encontrar as nossas respostas. “Inicie atividades para se conhecer cada vez mais, forme metas e objetivos a partir de quem você é e tome atitudes para alcançar essas metas. Quando chegar a algum resultado, retome o processo”, aconselha.
Compreendendo quem somos, percebemos muitas vezes que já alcançamos a prosperidade há muito tempo, simplesmente por vivermos uma vida fiel aos nossos valores e princípios.
E como essa percepção é valiosa! Além disso, as boas relações, as conexões verdadeiras que construímos com nós mesmos e com o mundo, também dizem muito sobre o que é ser próspero. “A prosperidade é essa grande manifestação do autoconhecimento, de estarmos cada vez mais perto da nossa essência, do nosso eu verdadeiro. E, ao chegar a esse ponto, o Universo se manifesta em prosperidade e abundância, que é o nosso estado natural”, comentou Antônio Júnior.
Antônio é CEO da Jeito Caseiro Alimentos, uma marca especializada em panificação, com um sabor e jeitinho bem mineiro. A empresa era um sonho de família, iniciado há quase 70 anos com a produção de quitutes caseiros da avó dele. As tecnologias foram chegando e o negócio prosperou. Hoje, eles comercializam alimentos em mais de 20 estados sem perder o afeto, a essência e os valores passados por gerações.
Segundo Júnior, todos nós carregamos o potencial para sermos prósperos e abundantes. Nascemos com essa energia vital em nós, mas frequentemente nos desviamos e nos perdemos pelo caminho, justamente por dar cada vez mais valor ao dinheiro. “Talvez as pessoas mais ricas que eu conheço no mundo não sejam prósperas. Ou porque não se encontraram ainda e o dinheiro se tornou uma dor, ou pela necessidade do acúmulo, pelo medo de perder aquilo que conquistaram”, concluiu.
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Uma vida rica significa viver também o autoconhecimento, saindo de crenças que nos limitam de enxergar possibilidades.
A riqueza das relações
E isso acontece mesmo. Algumas pessoas podem até ter condições financeiras melhores, mas esse fator não as torna mais prósperas nem mais abundantes ou mais felizes. No entanto, nesse embate entre ter e ser, elas acabam perdendo um pouco de si pelo caminho, esbarrando em muitos obstáculos para se reencontrar lá na frente.
Aí os sentimentos, as emoções e as relações vão ficando para trás, tirando a leveza do bem viver. E, não sei se você viu ou soube, mas recentemente foi publicado um estudo realizado em Harvard, buscando responder a essa pergunta principal: “qual a chave para a felicidade e para uma vida mais longa?”.
A resposta conversa muito com o que já falamos até agora por aqui, pois mostrou que, entre vários fatores, o verdadeiro sucesso está no afeto trocado, dividido e partilhado entre nós e com o mundo. Foram cerca de 75 anos de pesquisa até agora, entre experimentos e acompanhamentos da rotina de públicos diferentes e bem específicos. Quem participou do estudo, criando laços fortes com outras pessoas e existindo de uma forma simples, genuína, condizente com seus valores, viveu mais e melhor – para além de dinheiro, status ou emprego.
Assim, ficou comprovado que ter saúde e sucesso, enfim, é também associado a ter amigos, família, amores e boas relações de um modo geral. “Hoje me defino como uma pessoa muito próspera porque venho buscando o autoconhecimento há quase 20 anos de uma forma muito intensa. E também faço o que eu amo e tenho uma família que é a minha paixão, tanto a minha de origem quanto a que eu construí”, afirmou Antônio Júnior.
Somos afortunados quando conseguimos estabelecer esses laços firmes e autênticos em nossa vida. Afinal de contas, não estamos aqui sozinhos: precisamos uns dos outros para crescer, conviver e prosperar. Ainda que os esforços sejam, em sua maioria, individuais, não podemos nos esquecer que somos parte de um todo.
E o bem que nos chega, quando partilhado, também se multiplica. “Uma pessoa que cria possibilidades para viver sua vida com propósito é próspera. E ela pode cooperar para que sua comunidade também tenha mais acessos e possam se desenvolver”, explicou Dora Bentes, terapeuta integrativa e sistêmica e fundadora do Centro de Desenvolvimento Dora M Bentes, em São Paulo.
O compartilhar é essencial no caminho da prosperidade. Afinal, a graça é poder retribuir ao mundo aquilo que recebemos.
Prosperar para partilhar
Segundo Dora, nosso propósito é um dos elementos principais de uma vida próspera, porque ele traz direcionamento, noção de valores, motivação para atingir o que se quer e energia para manter as conquistas, além de abrir espaço para a contribuição. No entanto, isso não é tudo e nem o bastante: nos tornamos ainda mais prósperos quando ajudamos os outros com o que somos e temos.
Dora explicou que contribuir, em nenhum momento, é o mesmo que dar as coisas de “mão beijada”. Mas, sim, criar condições para que cada um possa trilhar os próprios caminhos e conseguir chegar ao que deseja. “Tem pessoas que buscam ser aceleradoras do desenvolvimento de outras pessoas, para que possam ser quem são, descobrir seu verdadeiro propósito e viver de acordo com seus valores”, revelou Dora.
Nem todos têm os mesmos objetivos, e já sabemos também que as pessoas têm propósitos diversos e desejam coisas diferentes para si mesmas. Mas, quando estamos conscientes do nosso caminho e de quem somos, podemos contribuir livremente com o desenvolvimento do outro sem impedir o nosso. E vice-versa. Dora explicou, ainda, que criar espaços e oportunidades para que as pessoas evoluam é fundamental para a nossa satisfação pessoal, além de ser gratificante acompanhar o florescimento e desenvolvimento do outro.
Perceber, enfim, que cada um de nós pode fazer a diferença em um contexto social, para que todos tenham acessos. Isso também nutre a prosperidade. “Ser próspero em momento nenhum é sinônimo de egoísmo. A pessoa realmente próspera contribui, colabora, porque teve esse incentivo em sua trajetória. Então ela retribui com prazer a ajuda que teve para chegar aonde chegou”, afirmou.
Quem nunca se sentiu egoísta por reconhecer e usufruir do próprio sucesso, não é mesmo? Muitas vezes, nos sentimos mal por conquistar nossos sonhos, ver nossa vida prosperando, enquanto existe tanta desigualdade tão perto, ao nosso redor. Mas quando entendemos isso, que podemos ser criadores de possibilidades para os outros a partir dos nossos avanços, fazemos a roda girar e tiramos o peso muitas vezes colocado por nós mesmos. O Leonardo Prevot disse que essa culpa pela abundância pode vir por acreditarmos que a riqueza é finita, sem lembrar do quanto também é possível gerá-la. E aconselhou: “Quer ter culpa? Tenha apenas por não fazer o seu melhor para melhorar o mundo”.
Ao abandonarmos todos esses conceitos preestabelecidos, percebemos que tudo se conecta. Sou mais próspera e mais feliz porque você também é. E, juntos, acreditando cada vez mais em nós e em nossas possibilidades, temos a chance de impulsionar novas oportunidades para quem está perto de nós.
Afinal de contas, é isso que faz realmente valer a pena a nossa existência aqui, neste mundo, construindo e estabelecendo relações que vão além dos nossos círculos. Expandir, reconhecer, crescer, partilhar, contribuir para, então, prosperar com o coração contente e em paz. Eu acredito que é possível. E você?
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