Como identificar os sinais e evitar a produtividade tóxica
Entenda os impactos da produtividade tóxica na sua saúde mental e física, e conheça maneiras de construir um equilíbrio entre trabalho e o bem-estar

A sensação de produtividade é empoderadora. Sentimos que tudo está nos eixos e ficamos ainda mais incentivados a continuar nosso trabalho. Mas quando a pressão e a cobrança entram na conta, quando a produtividade nunca parece ser suficiente ou quando a sua vida pessoal vai sendo soterrada pelo trabalho, surge um problema. Esse comportamento tem nome e sobrenome: produtividade tóxica.
Ao contrário de uma produtividade considerada equilibrada, que consegue balancear o trabalho com o bem-estar, essa nociva traz para balança sempre o volume, a sobrecarga e a constante autocobrança. Assim, as pessoas esquecem do autocuidado, do lazer e da vida fora do ambiente profissional.
Como identificar esse comportamento?
Os sinais da produtividade tóxica podem variar de pessoa para pessoa, mas é possível apontar alguns pontos de atenção. O primeiro é o trabalho constante, atrelado à noção de que mesmo assim não é o suficiente.
Outro sinal é negligenciar momentos de lazer e descanso, deixar em segundo ou terceiro plano as atividades que trazem prazer e bem-estar. E pior: ainda há a culpa por tirar um tempo para si e para fazer qualquer coisa que seja que não tenha a ver com o trabalho.
A produtividade tóxica também apresenta sinais físicos, olha só. Há alterações bruscas na saúde, aumento ou diminuição de peso e alteração no sono. No campo emocional, pode trazer à tiracolo a irritabilidade, mudanças no humor e aumento do consumo de álcool, por exemplo.
Produtividade tóxica e falta de segurança psicológica
Segundo dados do Ministério da Previdência Social sobre afastamentos do trabalho, somente em 2024 foram registrados mais de 472 mil afastamentos por saúde mental. Esse número gigante indica uma crise de saúde mental coloca na mesa a reflexão sobre o bem-estar no ambiente de trabalho e a também a nossa relação com ele. “Estamos vivendo uma era de sobreposição de crises, todas elas nos afastam de uma relação mais harmoniosa com nós mesmos, com as pessoas e com o nosso entorno”, diz o psicólogo clínico Thiago Domingues.
Ele explica que a falta de segurança psicológica é um dos principais agentes de desregulação e estresse nas empresas, do mesmo jeito que é a cobrança por produtividade. Essa pressão pode ser exterior, relacionada a demandas do trabalho, ou interna, quando nós mesmos nos cobramos por resultados.
Ao focar obsessivamente em ser produtivo e obter um bom desempenho, as pessoas perdem conexões e espaços importantes da vida. “Certos contornos afetivos e lúdicos são muito significativos para as dimensões da saúde. Temos que entender que a saúde não apenas pressupõe o modelo biológico, mas também o cultivo de uma vida interior, de relações mais harmônicas e de trocas igualitárias com o mundo e com as pessoas”, diz Thiago.
O que fazer para construir um ambiente mais saudável?
Interromper os comportamentos da produtividade tóxica não é uma tarefa simples. Para Thiago, deve haver cuidado para não culpar o indivíduo e, ainda, é preciso haver uma reflexão sobre a responsabilidade de empresas e instituições em estimular valores de super produtividade entre funcionários.
“O trabalho pode ser um agente de mudança, contanto que não carregue esses slogans de competitividade, de cobrança por produtividade a todo preço, exigências quase despersonalizadoras por desempenho. É um lugar de cuidado que as empresas devem tomar a frente”, alerta.
O psicólogo cita ações importantes no ambiente corporativo para ajudar a identificar a produtividade tóxica e remediar o comportamento: promoção de espaços de diálogo, de comunicação e, principalmente, de escuta.
No âmbito pessoal, foque na harmonia entre o seu lado criativo, a satisfação das necessidades psicológicas e nas condições que oferece a si mesmo para produzir e trabalhar. Reflita se tudo isso está equilibrado na sua vida, lembrando sempre que você é muito mais que o seu emprego.
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