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Como a nossa memória é formada?
(Foto: Joanna Kosinska/Unsplash)
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Quem nunca esqueceu o aniversário de uma pessoa querida e só percebeu depois da data? Ou perdeu um prazo importante de uma atividade, por que não se lembrou de entregar? A memória faz parte de tudo o que vivemos e, quando ela falha, pode atrapalhar a nossa rotina.

Apesar de ser normal esquecer uma data ou um compromisso ocasionalmente, é preciso analisar melhor quando a memória passa a falhar com frequência. Ser uma pessoa esquecida pode ser a consequência de vários fatores, mas algumas práticas podem auxiliar no fortalecimento das nossas lembranças.

Como nasce uma lembrança?

As nossas memórias, que moldam tudo o que entendemos e sabemos do mundo, e também moldam a nossa maneira de agir, são formadas em uma região do cérebro chamada hipocampo. Assim explica Flávio Sekeff Sallem, neurologista do Hospital Japonês Santa Cruz, em São Paulo (SP).

“O hipocampo localiza-se no lobo temporal do cérebro, e age como a área de entrada do que a gente considera memória: estruturas mentais que se referem a acontecimentos passados”, explica o especialista.

Segundo William Rezende, médico neurologista do Hospital Sírio-Libanes, em São Paulo (SP), a formação da memória é um processo complexo, dividido em três etapas principais.

A primeira seria a aquisição e a codificação da informação. A informação sensorial é inicialmente captada pelos nossos sentidos (olfato, paladar, visão, audição e tato). Depois é processada e codificada pelos nossos neurônios, que são células do sistema nervoso responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos carregados de memórias.

Assim, o cérebro armazena a informação. Durante a consolidação de uma memória, ocorrem mudanças estruturais e funcionais nas conexões entre os neurônios (sinapses), que fortalecem essa lembrança.

A consolidação da memória acontece, principalmente, enquanto estamos dormindo profundamente e sonhando. “O momento do sono é muito importante para processar e guardar essas informações, para que enfim a memória se forme”, explica Vanessa Milanese, diretora da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.

Já a evocação ou recuperação, fase final desse processo, ocorre quando precisamos acessar uma memória. Nessa etapa, o cérebro reativa as redes de neurônios associadas a uma lembrança, permitindo que a informação seja recuperada e trazida à consciência. A evocação pode ser desencadeada por estímulos internos (pensamentos, emoções) ou externos (cheiros, sons).

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Uma mente ansiosa é uma mente esquecida

Além das ligações neurológicas que constroem uma lembrança, o processo também depende de recursos psicológicos responsáveis por captar uma informação, como a percepção sensorial, atenção, motivação, emoções e cognição.

“⁠Uma vez que a formação da memória envolve processos psicológicos básicos, não basta ter acesso apenas a uma informação através dos órgãos dos sentidos. É preciso cuidar da mente para que o grau de atenção, a regulação emocional e a interpretação das informações não influenciem negativamente na experiência da lembrança”, diz a psicóloga Elizza Barreto.

Isso significa que a nossa saúde emocional pode afetar diretamente as nossas lembranças. “Uma mente ansiosa e extremamente ocupada, por exemplo, não irá se dispor aos estímulos externos com tanta facilidade, o que prejudica diretamente na captação e retenção das informações na memória. Assim, é preciso desacelerar”.

Para Elizza, a prática do mindfulness, ou seja, meditação de atenção plena, é uma excelente técnica para equilibrar a mente e melhorar a memória. A prática diária de meditação mindfulness pode facilitar a lidar com as emoções, a esquivar-se sabiamente de pensamentos intrusivos, e a possibilitar um foco maior no aqui e agora.

O que causa perda de memória?

Além da saúde mental ter um grande impacto no armazenamento das lembranças, outros fatores podem contribuir para problemas de memória.

Segundo William Rezende, o envelhecimento é um dos principais motivos. “O declínio cognitivo relacionado à idade é um processo natural que afeta a memória, mas doenças neurodegenerativas como o Alzheimer podem agravar esse processo”, justifica.

Além disso, a privação de sono pode prejudicar a recuperação de informações já armazenadas, uma vez que dormir é essencial para a consolidação da memória. Por fim, doenças como hipotireoidismo, diabete, deficiência de vitamina B12 e certas infecções podem afetar a função cerebral.

Nos hábitos de vida, o uso excessivo de álcool e drogas, uma dieta pobre em nutrientes e o sedentarismo também podem contribuir para o declínio cognitivo e a perda de memória, de acordo com o especialista.

É possível melhorar a memória com remédios?

Existem substâncias conhecidas por melhorar a memória e a função cognitiva, tanto naturais (como certos cogumelos), quanto sintéticas.

“Como exemplos das substâncias naturais, podemos citar cogumelos medicinais, como o Reishi, utilizado na medicina tradicional chinesa. Essa espécie pode obter efeitos positivos na saúde mental, incluindo melhorias na memória”, diz Izabelly Miranda, enfermeira e fundadora da rede de cuidadores de pessoas Cuidare Brasil.

Embora sejam geralmente seguros, os cogumelos podem causar reações alérgicas. Por conta disso, Izabelly ressalta que é importante consultar um médico antes de usar qualquer substância.

Como melhorar a memória no dia a dia

Para além do amparo de remédios, alguns hábitos de vida podem contribuir para uma melhor construção das memórias. De acordo com Izabelly, as práticas de atividades físicas regulares ajudam na memória e na função cognitiva, se aliadas com uma dieta rica em frutas, vegetais, peixes e outros nutrientes essenciais para a saúde do cérebro.

“Além disso, atividades que desafiam o cérebro, como jogos de memória, quebra-cabeças, leitura e aprendizado de novas habilidades, também podem contribuir na melhora da capacidade cognitiva e da memória em si”, complementa a profissional.

A socialização é um grande estimulante da mente, ajudando a manter a função cognitiva. “E por fim, mas não menos importante, uma hidratação adequada é mais que essencial, já que a desidratação afeta negativamente a memória e demais funções ligadas a ela”, finaliza Izabelly.

Para pessoas esquecidas, ter uma agenda ou algum lugar para anotar datas e informações importantes é uma prática essencial para ajudar a memorizar dados que ela considera importantes.

E para Flávio Sekeff, a melhor técnica é criar relações entre os compromissos que não quer esquecer e objetos visíveis. “Por exemplo, se você necessita ir ao dentista, deixa a escova de dente visível no campo de visão naquele dia, para te lembrar de agendar a consulta”, sugere.

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