Aprenda a cultivar plantas medicinais em casas e apartamentos
Babosa, hortelã, erva-cidreira e mais: além do potencial terapêutico em muitas plantas medicinais, diversas espécies podem também contribuir para a decoração de diferentes espaços da casa
As plantas medicinais são úteis em diferentes situações, como o complemento terapêutico ao tratamento de diferentes doenças. Boldo para diarréia, por exemplo, ou hortelã, comumente utilizada para auxiliar na cura de resfriados.
São facilmente encontradas em supermercados nas embalagens de chás, lojas de produtos naturais e de horticultura. Para garantir maior autonomia a quem é fã dessa variedade de espécies, a boa notícia é que muitas delas podem ser facilmente cultivadas em apartamentos.
Além das ervas medicinais utilizadas em chás, como camomila, erva-cidreira e capim-limão (ou capim-santo), as plantas medicinais ganham diferentes usos, como escalda pés, temperos culinários e aplicações diretas na pele, como o caso da babosa, ou Aloe vera.
O básico para iniciar o plantio em casa – além de adquirir uma muda –, é ter luz natural disponível.
“As ervas, principalmente, precisam de, pelo menos, de três horas de sol diárias”, explica Nathalie Esses, cenografista botânica, paisagista e estudiosa das plantas medicinais.
Capim-limão, boldo e manjericão, de acordo com a especialista, são mais resistentes e podem se desenvolver com maior facilidade em ambientes domésticos.
Segredo está em manter as espécies em condições ideais
Nathalie destaca que três pontos são essenciais para o desenvolvimento saudável das plantas. Além da disponibilidade de luz solar, é importante haver uma rega regular – a cada dois dias, ou com uso de vaso autoirrigável –, assim como a adubação.
“Como elas não estão no jardim, não recebem chuva, e a chuva contém nutrientes. Além disso, também não recebem, por exemplo, matéria orgânica decomposta. Então, como não há esse ciclo natural, é necessário fazer uma adubação externa”, enfatiza.
É recomendável utilizar adubo orgânico disponível no mercado, além de outras opções, como húmus de minhoca, farinha de ossos ou torta de mamona. Manter a planta saudável implica também em realizar um manejo correto de insetos.
Para Nathalie, há dois principais usos naturais para que o pequeno cultivo se mantenha orgânico. Um deles é o óleo de neem, que deve ter uma aplicação diferente a depender do problema. Em geral, é recomendável que seja aplicado durante horários em que não há contato com a luz do sol em períodos espaçados de cinco dias.
“Ele funciona para várias pragas, como pulgões e cochonilhas. No entanto, não basta apenas aplicá-lo; é necessário limpar a planta antes. Passe um pano para remover o excesso de insetos e, em seguida, aplique o óleo de neem”, orienta. Outra alternativa são as armadilhas adesivas, que atraem insetos e os mantém colados no material.
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Diferentes usos de plantas medicinais – e até na decoração
Arranjo produzido por Nathalie com plantas medicinais, como lavanda, alecrim, flor de alho e eucalipto (Foto: divulgação)
As plantas medicinais podem ser utilizadas de diferentes maneiras. “Primeiro, tem o chá, mas você também pode fazer um macerado – técnica que consiste em colocar as ervas de molho em água fria por um período de tempo determinado –, que pode ser ingerido como um líquido concentrado”, explica Nathalie Esses.
Entre as outras possibilidades, uma delas é o cataplasma, quando a erva macerada é colocada em uma gaze e aplicada diretamente na área. Se estiver com dor, por exemplo, uma das indicações é um macerado de lavanda.
Outra ideia é o uso das plantas na comida, como o manjericão, por exemplo, útil em saladas e famoso nas pizzas, como a marguerita. “Há usos um pouco mais elaborados, como escalda pés, banhos, ou até mesmo queimando as ervas para obter os benefícios de um incenso natural. Nesse caso, pode desidratá-las antes para usar de forma adequada”, diz Nathalie.
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Quanto à decoração, há algumas alternativas, mas que dependem de cuidados anteriores. “Uma delas, que não é considerada muito prática, é deixar a planta crescer ao sol e, quando quiser decorar, trazê-la para dentro, mas sabendo que ela precisa voltar a receber luz solar”, diz Nathalie. Outra opção é colher a planta, colocá-la em um vaso e usá-la como decoração.
Cuidados no consumo de plantas medicinais
O uso mais comum continua a ser o chá, que pode ser útil no tratamento de diferentes doenças. “O chá de camomila, por exemplo, é conhecido por seu efeito calmante e por ajudar a melhorar a qualidade do sono.”
“Enquanto o gengibre é um clássico para aliviar náuseas e estimular a digestão”, explica o médico Vinicius Mariano, mestre em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Apesar de serem naturais e não requisitarem prescrição médica, o consumo acima do limite recomendado pode trazer consequências para a saúde ou efeitos adversos. “Um exemplo claro é o chá de boldo: excelente para desconfortos estomacais leves, mas, se consumido em excesso, pode sobrecarregar o fígado”, diz o médico.
Outra planta conhecida, a erva-de-são-joão, auxilia no tratamento de sintomas associados à depressão leve, mas pode interferir no efeito de medicamentos anticoncepcionais.
Já o hibisco ajuda na redução da pressão arterial, mas se ingerido em grande quantidade pode intensificar o efeito de medicamentos diuréticos – usados para tratar doenças como hipertensão, insuficiência renal e cardíaca –, o que causa desequilíbrio.
Potenciais curativos, mas que precisam de cautela
“Mesmo plantas aparentemente inofensivas, como a camomila ou a hortelã, têm uma dose ideal – geralmente até três xícaras por dia para adultos”, orienta Vinicius Mariano.
O médico faz um alerta a grávidas, lactantes e pessoas que já usam medicação. Nestes casos, é necessário redobrar a atenção antes de incluir qualquer chá ou extrato no dia a dia.
Os chás podem até auxiliar em tratamentos e serem auxiliares, mas não dispensam o tratamento medicamentoso. “Cada organismo reage de forma única, e é aí que o acompanhamento profissional faz toda a diferença”.
Vinicius exemplifica com o caso da canela, que contribui na redução no nível de glicose em casos de diabetes leves, mas se utilizada sem orientação pode levar à hipoglicemia, que reduz o nível de glicose no sangue.
Já o alho, conhecido por ajudar na saúde cardiovascular, pode amplificar o efeito de anticoagulantes, aumentando o risco de sangramentos, segundo o mestre.
Não caia em propagandas enganosas
É preciso também estar atento ao mercado informal de produtos com “uso terapêutico”, vendidos online, mercados populares ou lojas de produtos naturais.
Muitos deles, conhecidos como “garrafadas”, não possuem especificação sobre o nome das espécies, procedência, data de fabricação e validade, além de contra indicações.
Para Vinicius Mariano, é sempre necessário consultar um médico antes, introduzir uma planta por vez e preferir sempre espécies de origem natural, como as cultivadas em casa ou hortas orgânicas.
Entre outras recomendações, estão evitar produtos sem registro ou com promessas milagrosas e respeitar as doses indicadas para prevenir intoxicações.
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Plantas medicinais presentes no Sistema Único de Saúde
As plantas medicinais acompanham a história de diferentes sociedades humanas e fazem parte da cultura de muitas comunidades, como assentamentos rurais, indígenas e quilombolas. O Brasil, por exemplo, é um dos 17 países mais megadiversos do mundo, e seus cientistas esforçam-se na catalogação de plantas medicinais.
Entre os esforços na regulamentação de plantas medicinais, em 2006 foi criada a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), que define ações prioritárias para garantir o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos. A regulamentação dessas plantas é responsabilidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O governo do Brasil disponibilizou um formulário de fitoterápicos, que traz o modo de preparo das fórmulas, a sua indicação, modo de usar e as principais advertências relacionadas. Além disso, foi construída uma Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao Sistema Único de Saúde (Renisus) que tem a finalidade de orientar pesquisas e estudos.
A Renisus apoia legalmente o programa “Farmácia Viva” do SUS, responsável pelo cultivo, manipulação e dispensação de plantas medicinais e fitoterápicos. A Anvisa também desenvolveu uma cartilha e folder com orientações públicas sobre o uso de fitoterápicos e plantas medicinais, útil para diferentes públicos.
No final deste ano, a agência iniciou uma série de consultas públicas para a revisão do marco regulatório de fitoterápicos. As propostas visam substituir uma Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) e três Instruções Normativas complementares sobre registro e notificação de fitoterápicos.
Fontes: (1) Índice de significância medicinal na seleção de plantas medicinais para a Plataforma Agroecológica de Fitomedicamentos; (2); Potenciais fitoterápicos nas perspectivas da regulamentação e da pesquisa e desenvolvimento no Brasil com enfoque em plantas medicinais amazônicas.
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