Notificações de chamada perdida, aplicativos com mensagens não lidas, um novo vídeo publicado no TikTok. As funções diárias dos smartphones parecem nunca dar trégua em um mundo que se acostumou a não adotar pausas e espaços de descanso. É justamente isso que grupos de jovens têm questionado: para onde vai tanta informação? Por isso, muitos estão adotando os “dumbphones” (em tradução livre, “telefones burros”), que contêm apenas as funções mais básicas. Mas será que essa solução é eficaz para todo mundo?
Embora tenham sido populares algumas décadas atrás, os chamados “dumbphones” são pequenos, cabem no bolso e não atraem tanta atenção. SMS, chamada de voz e acesso ao rádio são suas principais funções. Mas as pequenas possibilidades de uso desses aparelhos foram substituídas ao longo do avanço tecnológico pelos smartphones, com aplicativos, acesso à internet, câmeras e outras dezenas de funcionalidades.
Essa mudança foi tão rápida e brusca que levou apenas poucos anos. Tanto é que ainda estamos nos adaptando a um modo de vida guiado pelo digital. Isso tem levado a um certo crescimento na presença de aparelhos digitais na vida da população e gerado, inclusive, adoecimento psíquico.
“Como em todos os aspectos da vida, quando o extremo passa ser sinônimo de risco à saúde, seja ela física, mental, emocional ou social, aqueles que sentem a necessidade de se cuidar passam a ponderar seus hábitos e estabelecer novos limites”, explica Mariah Theodoro, psicóloga e mestre em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo (USP).
O que a tendência dos “dumbphones” revela?
A sensação parece ser de liberdade. Imagine a cena:
1. Excluir todos os aplicativos de mensagem;
2. Remover aplicativos de redes sociais;
3. Desativar todas as notificações.
Urgência? Por favor, me ligue. Se não for algo importante, pode encaminhar por e-mail ou SMS.
Parece um retorno ao passado que, embora nostálgico, é a estratégia que muitas pessoas vêm utilizando para sobreviver a essa selva de imagens, cliques, notificações e vídeos. No entanto, embora a ideia pareça promissora, as especialistas atestam que precisamos tomar um certo cuidado quanto às escolhas.
“Essa pode ser uma boa alternativa, mas não podemos avaliar isso como uma solução para a questão do uso das tecnologias“, explica Juliana Potter, psicóloga e co-autora do livro Crianças Bem Conectadas (Maquinaria Editorial).
No entanto, Potter acredita que um “dumbphone” pode ser ideal para introduzir crianças e adolescentes ao universo digital. “É interessante começar com um dispositivo que não tenha tantos elementos, em que a gente vá apresentando para a criança o recurso na medida em que ele tem competência para lidar”, destaca. Outra questão trazida pela psicóloga é que, com a velocidade das tecnologias, muitas pessoas têm desacelerado e regredido alguns passos para não imergir de forma tão rápida.
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Do público idoso para o público jovem
Mas o mercado também não fica para trás com o fenômeno, já que isso mostra uma nova possibilidade de atuação do setor. É o caso da Nokia, empresa que faz parte do grupo finlandês HMD Global e liderou por muito tempo a venda desses aparelhos. No site oficial da empresa, há a frase “Dumb phone, smart choice“, (Telefone burro, escolha inteligente, em tradução livre).
Ainda assim, pesquisas de mercado mostram que a tendência é que a venda desses aparelhos se torne menor, mesmo que seja comum entre pessoas mais velhas e faça sucesso nas redes. O aprimoramento dos smartphones e o crescimento da Internet das Coisas (IoT) apontam para um cenário cada vez mais virtual.
Nas redes sociais, jovens do mundo inteiro parecem buscar aparelhos “dumbs” com o intuito de encontrar maior equilíbrio com o uso das redes. “A exaustão, a desregulação emocional, falta de interação social e a dificuldade de concentração estão acometendo a vida de jovens e crianças cada vez mais cedo pelo uso inadequado dos smartphones”, destaca a psicóloga Mariah Theodoro.
Você pode ter equilíbrio mesmo sem um “dumbphone”
Estudos científicos na área tem mostrado uma certa associação entre o adoecimento psíquico e uso intenso das redes. Por exemplo, segundo uma pesquisa publicada em 2022 e liderada pelo professor assistente Alexey Makarin, do MIT Sloan (EUA), o acesso ao Facebook levou a um aumento de 7% na depressão grave, e de 20% no transtorno de ansiedade em relação ao ano anterior ao seu lançamento.
Para evitar os danos causados pelo excesso do uso de smartphones, você pode seguir algumas recomendações:
- Limite as interrupções: Desative ou ajuste as notificações de mídias sociais para reduzir interrupções constantes;
- Estabeleça metas de tempo: Defina horários específicos para ler mensagens e interagir nas redes sociais, evitando passar tempo excessivo nessas atividades;
- Reduza o tempo de tela: Estabeleça limites diários para o uso do smartphone e outras telas, evitando passar longos períodos conectado;
- Evite o uso antes de dormir: Desligue dispositivos eletrônicos pelo menos uma hora antes de ir dormir, pois a exposição à luz azul pode afetar a qualidade do sono;
- Cuidado com jogos viciantes: Evite jogos que possam se tornar viciantes e consumir muito do seu tempo e energia;
- Limite outras distrações digitais: Identifique outras distrações digitais que você tende a recorrer com frequência e estabeleça limites para reduzi-las.
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