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Conheça mitos sobre o autismo e ajude a combater a desinformação
Daiga Ellaby
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O crescimento de diagnósticos de pessoas com autismo tem gerado um aumento no debate público sobre o tema. O Transtorno do Espectro Autista (TEA), que conta com décadas de pesquisa e estudos, ainda não tem, com precisão, um consenso sobre as causas e as melhores formas de tratá-lo. Embora isso possa trazer insegurança, é importante destacar que os avanços científicos possibilitaram um maior conhecimento sobre o TEA. Por isso, é preciso que mitos, que ainda ganham coro na sociedade, sejam combatidos.

Ainda há informações falsas que circulam nas redes sociais, muitas sem comprovação científica ou com evidências inconsistentes. É essencial combater esses mitos e informações incorretas, que podem levar a estigmas, discriminação e falta de compreensão em relação ao autismo. Por isso, a disseminação de informações precisas e baseadas em evidências científicas é fundamental para promover uma sociedade mais inclusiva e apoiar adequadamente as pessoas no espectro autista.

Não é possível uma criança nascer sem autismo e adquiri-lo durante a vida

Estudos recentes encabeçados por diferentes pesquisadores no Brasil e em todo o mundo ajudam a identificar que o autismo surge ainda durante a fase intrauterina do bebê. Essa constatação ajuda a desmistificar falsas afirmações de que fatores externos ou culturais, que também são estudados, sejam os causadores do autismo.

Segundo informações do estudo “Adaptação familiar após o recebimento do diagnóstico de filhos autistas“, todas as evidências apontam para o sentido de que o autismo não é algo que se adquire ao longo da vida. “Ele é provocado por problemas neurológicos de base, fatores genéticos, intrauterinos e perinatais. Por outro lado, pode até mesmo ser a combinação de todos esses, pois interferem e geram problemas neurodesenvolvimentais na criança”, explica Laise Ramos Maciel, autora da pesquisa.

Como mostra esta matéria da Vida Simples, há diferentes fenômenos genéticos e  que influenciam o aparecimento do autismo, muitos ainda em estudo. No mundo, segundo a Organização das Nações Unidas, são cerca de 70 milhões de pessoas com TEA.

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Vacinas não causam autismo

As evidências que apontavam uma relação da aplicação da vacina MMR (chamada de tríplice viral no Brasil) ao autismo partiram do médico Andrew Wakefield. Um estudo publicado por ele na renomada revista científica The Lancet apontava uma causalidade entre o imunizante e o surgimento do TEA. A afirmação gerou uma redução em cadeia na aplicação de vacinas em crianças, contribuindo para o surto de doenças que antes estavam controladas.

Países da Europa retiraram compostos da vacinas, como o timerosal, embora isso não tenha provocado uma redução nos casos de autismo. Mais tarde, em 2004, descobriu-se que Wakefield concorria com a MMR em uma disputa de patente para uma vacina contra o sarampo, algo que se configura como conflito de interesses.

Já na última década, o Conselho Geral de Medicina do Reino Unido classificou o médico como “inapto para o exercício da profissão”. Além disso, classificou o comportamento dele como “irresponsável”, “antiético” e “enganoso”. No entanto, o estudo de Wakefield tem gerado prejuízos até hoje, ainda que as informações contidas nele sejam falsas.

Estresse parental não têm influência no surgimento do TEA

O estresse parental já foi relacionado ao surgimento do autismo e alguns estudos tentaram comprovar essa hipótese. No entanto, apresentaram fraca evidência epidemiológica e uma baixa correlação. O fato está ligado, especialmente, a carga emocional que as mães costumam enfrentar durante a gestação e crescimento da criança. Por causa disso, a responsabilização do cuidado que recai sobre as mulheres pode gerar quadros de estresse ou Burnout.

O estudo intitulado “Cuidando de quem cuida: um panorama sobre as famílias e o autismo no Brasil”, conduzido pela Genial Care, uma healthtech especializada no cuidado e desenvolvimento de crianças com TEA, revelou que 86% das pessoas que cuidam de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) são as próprias mães.

Ainda assim, outros fatores tem sido investigados em estudos científicos. “O aumento da idade paterna e materna, uso de algumas medicações durante a gravidez ou diabetes gestacional. Além disso, questões ambientais também estão sendo pesquisadas”, explica o Dr. Hélio Van Der Linden, neurologista da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI). Por outro lado, é importante destacar que esses fenômenos estão em fase de estudo e não há evidências substanciais.

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Cuidado com produtos que apresentam uma cura para o autismo

Inseguranças, questionamentos sobre a eficácia de terapias e dúvidas sobre o desenvolvimento das crianças com TEA.  Tudo isso tem feito com que pais passem a buscar instrumentos que prometem “cura” para o autismo. Primeiro, é importante lembrar que o transtorno não se configura como uma doença. Além disso, a recorrência a práticas milagrosas pode prejudicar ainda mais o quadro.

No rol de produtos que fazem essas promessa, está o MMS, que na prática é um composto com dióxido de cloro, químico utilizado em produtos de limpeza, além de corrosivo. As informações falsas disseminadas na internet explicam que o consumo deve ser feito de forma oral para “curar” o autismo.

No entanto, a Anvisa proibiu, desde 2018, a fabricação e comercialização desse produto devido aos riscos que sua ingestão pode causar, incluindo vômito, diarreia, danos à garganta e problemas respiratórios fatais. A medida entrou em vigor visando proteger a saúde dos consumidores.

Testes online não substituem diagnóstico profissional

Com a ampliação de conhecimentos na internet sobre o tema, conteúdos nas redes sociais e nos buscadores de informação se tornaram fontes importantes sobre o autismo. Mas é importante destacar que o profissional especializado no assunto será sempre essencial na avaliação de um possível diagnóstico.

No entanto, embora os testes sejam uma tentativa de democratizar os conhecimentos sobre o tema, eles não podem apresentar uma verdade absoluta, apenas hipóteses. Isso porque o diagnóstico do autismo é um processo complexo que requer a avaliação de uma equipe multidisciplinar especializada. Essa equipe é responsável por ajudar a identificar se a pessoa atende aos critérios estabelecidos em manuais diagnósticos, algo que um teste online não é capaz de avaliar.

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