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Daniel Barros: “Rir é um bom remédio, assim como chorar”
Daniel Barros é professor colaborador do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, doutor em Ciências e bacharel em Filosofia pela USP. (Foto: Divulgação)
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O médico psiquiatra Daniel Barros defende que rir pode ser um bom remédio, tal como o ato de chorar e o de não reprimir as emoções. Durante o Congress on  Brain, Behavior and Emotions, realizado em Florianópolis e que reuniu especialistas de diferentes áreas do conhecimento para falar sobre neurociência, mas também comportamento e emoções, Barros falou sobre burnout e como manter o equilíbrio em um mundo em constante transformação.

Como escritor, é autor do livro “Rir é preciso”, no qual aborda a ciência por trás do humor e ensina como usar o riso para atravessar períodos difíceis e criar relações mais próximas.

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Conheça mais sobre as ideias do psiquiatra na entrevista abaixo:

Em um tempo em que as pessoas têm sofrido cada vez mais com burnout, depressão e ansiedade, rir é o melhor remédio?

Rir é um bom remédio, assim como chorar, assim como não reprimir emoções. Entretanto, há uma parte biológica na ansiedade, depressão e burnout que não pode ser resolvida, ou, pelo menos não totalmente, com boas risadas. É necessário termos mais cuidado e atenção às doenças mentais, especialmente para não cairmos nas armadilhas da psicofobia.

Em sua palestra, o senhor falou sobre Cérebro, Sociedade, Cultura e Arte. Como juntar todos esses elementos?

Bom, até onde sabemos, o que conhecemos como “Ser Humano” tem relação direta com os intricados e complexos processos e circuitos cerebrais. Nós evoluímos com outros primatas para sermos capazes de resolver problemas oriundos da complexidade de relacionamento entre grandes grupos de indivíduos. Como “efeito colateral”, por assim dizer, esses grandes cérebros acabaram desenvolvendo também a habilidade de utilizar ferramentas físicas. Porém, após a explosão criativa do neolítico superior, nos tornamos capazes de utilizar ferramentas “subjetivas”, ou seja, fomos capazes de adentrar o mundo do simbólico. A partir destes símbolos, fomos capazes de desenvolver ferramentas imateriais extremamente complexas como Arte, Cultura e Religião, os embriões do desenvolvimento da civilização. A partir daí, a cultura, ao interagir com o cérebro, também produz mudanças comportamentais, tornando cada vez mais difícil diferenciar o indivíduo do seu contexto.

Num mundo cada vez mais acelerado, em constante mudança, principalmente por conta das novas tecnologias e inteligência artificial, como manter a saúde mental?

É necessário compreender que a cultura, como produção humana, não é boa, nem ruim, tampouco neutra. Desta maneira, os avanços tecnológicos sempre se manifestam como “facas de dois gumes”. É necessário perceber que a tecnologia dá com uma mão e tira com a outra. Se antes a comunicação era mais difícil, o que causava transtornos, hoje, o excesso de acessibilidade faz com que se exija que estejamos disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana. A perda da individualidade, a impossibilidade de separar tempo para a solitude (diferente da solidão) e meditação, exige do cérebro um esforço exagerado que frequentemente leva a patologias mentais. Talvez seja o momento de refletir, repensar e ressignificar as mídias sociais e o quanto deveríamos permanecer em contato com elas. Com relação à inteligência artificial, precisamos compreender que a cada dia estamos mais próximos de mimetizar cérebros humanos e suas funcionalidades, o que inclui o aprendizado. Isso exigirá ainda mais esforço dos cérebros do futuro para se manterem relevantes em um mercado de trabalho competitivo. E essa, certamente, será mais uma fonte importante de estresse, a necessidade de ser melhor do que a máquina.

Quais os passos para ter uma vida equilibrada sem perder o bonde da história?

Como manter uma vida equilibrada sem perder o bonde da história é a “pergunta de 1 milhão de dólares”. A vida moderna já exige dos cérebros humanos mais do que é saudável, e tornou-se cada vez mais comum a ideia de que devemos desenvolver “resiliência”. Conquanto seja necessário ter resiliência para se resolver problemas emergenciais, é um grande equívoco moderno acreditar que a capacidade humana de produzir resiliência é inesgotável. Resiliência deveria ser entendida como algo a ser utilizado em situações de exceção, e não como regra. Em outras palavras, devemos sim oferecer aos pacientes tudo o que estiver ao nosso dispor (como medicamentos, psicoterapia, atividade física etc.) no intuito de ajudá-los a suportarem a carga de estresse imposta pelo mundo moderno. Entretanto, é mais do que necessário que os profissionais de saúde, em especial os de saúde mental, se empenhem para melhorar não apenas os ambientes terapêuticos para os já doentes, como também proporcionar políticas públicas para prevenção de doenças mentais, especialmente no ambiente de trabalho.

*Repórter viajou a convite do Congress on  BRAIN, Behavior and Emotions

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