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As Linguagens do Amor: descubra como expressar e receber afeto
Kelly Sikkema
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Neste artigo:

No vasto universo das relações humanas, existe uma linguagem única e complexa que molda os laços afetivos entre as pessoas: as linguagens do amor. Essas linguagens são as formas através das quais expressamos e recebemos afeto, construindo conexões profundas e significativas em nossas vidas. Compreender e dominar essas linguagens é fundamental para cultivar relacionamentos saudáveis e felizes.

Você deve conhecer algum perito em abraço. Aquela pessoa que sabe enlaçar o outro com braços que parecem sempre maiores do que a média e, sem dizer palavra, transmitir tanto sentimento de peito a peito que chega a ser difícil suportar tamanha voltagem emocional.

Perdi as contas de quantas vezes assisti a essa cena. Minha prima, uma fonte incessante de amor, “pesca” minha tia e a afunda em seu plexo solar, sem pressa de liberá-la. A “presa” rapidamente se contorce, tentando se desvencilhar do que para ela são tentáculos invasivos. Ofendida, a filha dispara: “Nossa! Como você é fria!”. A mãe devolve: “Você é que é grudenta!”. Pronto, o que era para ser enlevo puro descamba para a discórdia.

Esse é só um exemplo de como somos absurdamente diferentes na maneira de expressar e receber afeto – por sinal, uma necessidade atávica do ser humano. Uns gostam de verbalizar o que sentem; outros, de derramar o coração no papel, ou então ser um bom ouvinte, fazer carinho, oferecer cuidados, garantir o sustento material, resolver tudo e mais um pouco no cotidiano. “Todos nós temos uma linguagem do amor principal, uma forma de expressão de carinho e afeto que nos toca profundamente e, por vezes, coloca um sorriso bobo em nosso rosto e nos convence de que somos verdadeira e maravilhosamente amados”, afirma Gary Chapman, autor do best-seller As 5 Linguagens do Amor – Como expressar um compromisso de amor a seu cônjuge* (Mundo Cristão).

Casal abraçado. Linguagens do amor. Nathan McBride / Unsplash

Após décadas atendendo casais em crise, sentindo-se apartados pelas incompreensões do dia a dia e pela sensação de que não são amados como gostariam, o pastor e terapeuta estadunidense identificou cinco linguagens principais por meio das quais damos e tomamos afeto. São elas: palavras de afirmação – elogios sinceros, apreciação e encorajamento; tempo de qualidade – presença, escuta e intimidade; presentes – simbolização do afeto acima do valor monetário; atos de serviço – zelar, cuidar, garantir bem-estar; toque físico – reafirmação silenciosa do sentir.

A tendência a agirmos de um jeito e não de outro é fruto de uma trama psíquica composta de fios muito particulares. Pode investigar qual é a sua e você irá se deparar com eles. “Temos os nossos padrões relacionais aprendidos somados à personalidade de cada um e ao ambiente onde se vive, aliados ainda aos traumas que ocorreram de forma direta e pessoal ou intergeracionalmente”, esclarece Marina Simas de Lima, psicóloga clínica especialista em Terapia de Casal e Família e em Sexualidade Humana, além de cofundadora do Instituto do Casal.

Onde nos perdemos?

Como é de se esperar, na convivência, sobretudo na de longo prazo, cada um age da maneira que lhe é mais natural, automática, confortável. Não raro, achamos que está tudo bem, até nosso cônjuge nos informar o contrário. Assim os desencaixes vão se acumulando. Um espera ouvir um melódico “eu te amo”, enquanto o outro acha que cozinhar o prato predileto do amado é suficiente para nutrir o amor. Será?

Por essas e outras, muitos parceiros vão se afastando e se isolando cada qual em seu próprio idioma emocional. Frustrados e ressentidos, ficam à mercê de um abismo que só faz se alargar. “Quando o casal não entende corretamente a linguagem predominante de cada um, a comunicação é afetada, impedindo que se sintam amados, aceitos e valorizados”, alerta Chapman.

Exatamente o que vemos numa cena marcante do filme O Amante de Lady Chatterley (Netflix, 2022). A certa altura do casamento com Clifford, Connie explode com o marido: “Você não me deu nem uma gota de afeição ou gentileza. Pior, me fez sentir vergonha por querer essas coisas”. Ao que o homem, atônito, retorque: “Sempre cuidei de você”. Ela prossegue: “Sempre cuidou de mim, como cuida de seus livros e de seu rádio, mas nunca do jeito que eu preciso”.

O desafio de alinhar o fluxo do amor está posto a quem se relaciona de um jeito próximo e íntimo, seja num vínculo familiar ou de amizade. Como dizem, onde há convivência, há atrito. Não tem escapatória. E, como sabemos, as dificuldades tendem a se exacerbar quando estamos lidando com a parceria romântica, cercada de projeções e expectativas. Se quisermos desfazer os nós da comunicação ou prevenir que eles se apertem demais, vamos ter não só de tomar alguns cuidados conscientes, como também expandir nossa percepção para as distintas possibilidades que o amor nos oferece.

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Fronteiras elásticas

Especialmente hoje em dia, em que muita gente está se redescobrindo em arranjos novos, como a não monogamia, o poliamor, o trisal, ou mesmo casais monogâmicos que decidem morar em casas separadas para dar mais espaço para suas individualidades, essa atualização chega como um sopro de ar fresco. Em suma, as fronteiras do afeto podem ser muito mais elásticas do que os “bons costumes” nos fizeram acreditar. E cabe a cada um ser honesto consigo mesmo e com o outro para sustentar: “Isso faz sentido ou não para mim nesse momento da minha vida”.

“Identificar e compreender como você e seu parceiro funcionam pode evitar frustrações, sentimento de rejeição e afastamento mútuo. Não existe uma regra única e exclusiva em dar e receber amor, e ampliar o olhar para isso reduz os desapontamentos”, afirma Marina.

De acordo com Chapman, não adianta, por exemplo, insistirmos em atos de serviço, por mais devotados que eles sejam, se nosso par se sente visto e amado por meio do toque físico ou do tempo de qualidade. Ajustes precisam ser feitos nessa relação. “Devemos estar dispostos a aprender a primeira linguagem do amor de nossos cônjuges se quisermos comunicar o amor de forma efetiva”, propõe o autor. Por mais estranho que possa parecer no começo, ele frisa, há de se ter abertura para aprender e testar novas formas de se expressar, errando aqui, derrapando ali, acertando acolá.

Manter-se aferrado ao seu jeito de amar feito criança birrenta, que só enxerga a si própria, certamente comprometerá o porvir da relação. “Imaturidade seria nós não evoluirmos nesse conceito de que existem outras formas de amar, de demonstrar amor, que não a individual, sabendo que, pela forma que o outro demonstra, eu sou amada”, avalia Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexologia Clínica e membro da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana (SBRASH). O que ela vê na prática entre os casais é a solidificação dos vínculos a partir do entendimento de quem o outro é, do que ele precisa e deseja, e como se manifesta e vice-versa. Sobre esse chão bem assentado, a comunicação pode ser aprimorada, respeitando o que é importante para cada um. “A questão é descobrir como conciliar a necessidade de um com a facilidade do outro em demonstrar o que sente à sua maneira”, sintetiza a especialista.

Mulher segurando um presente. Linguagens do amor. Freestocks / Unsplash

Entendendo a linguagem do amor do seu parceiro

Por outro lado, é preciso calibrar expectativas inadequadas ou ilusórias, para não esperar o que o outro jamais será capaz de nos oferecer. Na visão da especialista Marina, a relação precisa ser, na maior parte das vezes, um ganha-ganha para ambos dentro de um desenho construído por meio de bons diálogos e da cooperação.

Vi isso acontecer no casamento de Ana Paula e Roberto, amigos queridos. Ela, emotiva e intensa; ele, pragmático e contido. Dá para imaginar o que se estabeleceu ali, né? Ela sentia falta das juras de amor, dos bilhetinhos e das surpresas apaixonadas; ele, por sua vez, providenciava o que de melhor era possível dentro da realidade deles e gerenciava as planilhas com gosto, achando que assim a preenchia com afeto genuíno.

Descompassos em série entremeados por conversas caudalosas levaram-nos a se reajustar de um jeito bom para os dois. Hoje ela não só enxerga o amor empenhado que ele oferta todos os dias, como o aprecia e valoriza; ele, ainda encabulado, aproveita momentos festivos para soltar seus sentimentos com um pouco mais de exaltação. Claro que esse aprendizado pode e deve incluir a criatividade, o bom humor e a ousadia. Quanto mais leve e divertido, melhor. “Quando você surpreende seu parceiro com o que deseja viver, sentir, escutar, facilita a entrega na relação. Com maior proximidade e movimentação, ela se torna mais espontânea, positiva e fácil”, salienta Marina.

A troca de afeto consciente não apaga os tropeços do passado, mas pode, sim, remodelar o futuro do relacionamento, nos lembra Chapman. “Quando escolhemos expressar nosso amor de forma mais ativa, criamos um clima emocional que pode curar as feridas dos conflitos e fracassos.” Pois, então, que cada idioma que nos leve a bem amar tenha seu lugar e seu valor reconhecidos. Assim, as relações podem ser, também, fontes de aprendizado sobre como amamos.


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