Black Friday: como consumir de forma consciente?
Consumo consciente, sustentabilidade e formas mais saudáveis de relação com o planeta são ações e valores bem-vindos em uma época em que esses debates se tornam essenciais para o futuro das gerações. Mas como lidar com nossos impulsos? O que podemos fazer para que o futuro seja mais sustentável a partir do nosso consumo?
“30% off”, “é pegar ou largar, 40% de desconto até acabar o estoque”. Todos nós já nos deparamos com anúncios desse tipo em lojas no centro da cidade, shoppings ou feiras de bairro, seja por causa de uma promoção relâmpago, uma data comemorativa ou a renovação dos produtos de um estabelecimento. E quem nunca ficou tentado com promoções desse tipo? Afinal, mesmo não precisando desses produtos, talvez essa seja a única oportunidade de comprá-lo em um preço tão acessível.
E lá se vão acumulando pilhas de roupas, eletrodomésticos, móveis e acessórios que usamos uma ou duas vezes e perderam a importância na nossa vida. Se não faziam muita diferença no passado, talvez hoje eles nos mostrem o que já sabíamos: não nos servem. Tudo bem, eu não preciso de um secador de cabelo, mas talvez você – que lê esse texto – não consiga viver sem um, e tudo bem, são nossas necessidades individuais.
Mas, desde quando nossas necessidades individuais passaram a ficar em segundo plano nas nossas vidas, dando espaço para um consumo mais desenfreado e fruto de desejos efêmeros?
Karin Rodrigues, ativista socioambiental e consultora de comunicação para a sustentabilidade, explica que o distanciamento dos consumidores dos centros de produção criaram também um distanciamento sobre o que consumimos.
“A gente não sabe mais como as coisas são feitas, o trabalho que dá para elas serem feitas“, explica Karin.
Antes, o marceneiro morava na nossa rua, o agricultor comercializava os produtos na feira e conversava conosco, hoje – embora iniciativas assim ainda existam – são minoria. Há grandes centros de produção, fábricas imensas e um ritmo produtivo que foge aos nossos olhos.
As cidades que foram projetadas para que tudo estivesse integrado, aos poucos foram se diferenciando, tanto pela expansão territorial e crescimento populacional, quanto pelo aprofundamento do sistema econômico capitalista, que predomina na maior parte dos países e estimula um ritmo de produção cada vez mais intenso.
O que mídia tem a ver com o consumo?
É importante lembrar que nem sempre o consumo é algo ruim. Afinal, esse conceito é fundamental para a própria compreensão do ritmo da natureza. Nós consumimos água, alimentos, o ar que respiramos, assim como as plantas consomem a luz do sol para a realização da fotossíntese e dos nutrientes do solo para sobreviver.
Aos poucos, fomos associando o consumo apenas à troca de mercadorias, depois à compra de produtos e assim esse significado se estabeleceu como sendo o principal. Por isso, Karin Rodrigues lembra que precisamos recuperar esses outros conceitos: “a palavra consumo deve ser revitalizada do que ela realmente quer dizer”, defende
Mas, como todas essas questões se popularizaram? Vemos propagandas no YouTube antes de irmos para o vídeo que gostaríamos de assistir, os programas televisivos estão cheios de intervalos comerciais, as redes sociais também, e assim os nossos desejos vão sendo influenciados pelo que vemos e ouvimos nesses espaços. “Você cria mídias que fazem com que você tenha mais estímulos sensoriais“, explica a ativista.
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Consumo e produção de lixo
Você já ouviu falar em “bolsões de lixo”? Ou todo o descarte de roupas no Deserto do Atacama no Chile? Ou ainda as ilhas de lixo no oceano? São discussões para longos textos que poderíamos nos dedicar o ano inteiro aqui na Vida Simples, mas que tentaremos sintetizar neste espaço. Só para sabermos, o Brasil é o 4° país no mundo que mais produz lixo, não só porque temos uma grande população, mas também por não termos uma cultura e investimentos em reutilização e reciclagem de produtos.
As coletas seletivas dificilmente atingem todos os bairros de uma cidade, estamos pouco preocupados em comprar roupas novas em brechós e há uma grande disponibilidade de embalagens e produtos de plástico, que demoram mais a se degradarem e impactam o meio ambiente de diferentes formas.
Repensar nosso consumo é também enxergar outras formas de viver e de reduzir, ou até de zerar, a nossa produção de lixo.
“Quem não gosta de comprar? É muito difícil encontrar alguém que não goste disso, não é?”, questiona Alexandre Chahoud, autor do livro Seja Minimalista e criador de conteúdo nas redes sociais sobre o tema. De fato, às vezes entramos no supermercado para comprar algo específico e… puf, de repente estamos no caixa com um carrinho e vários produtos.
“Nós, minimalistas, trabalhamos em direção a objetivos pessoais e, claro, damos muito mais valor às experiências da vida do que a bens materiais”, explica Alexandre.
Para ele, o minimalismo não estimula a culpa ao consumo ou uma crítica ferrenha à aquisição de novas coisas, pelo contrário, mas que isso seja feito com propósito e baseado em necessidades reais. “O jeito errado de comprar é aquele feito sem consciência e sem planejamento, porque muitas vezes compramos algo pensando que iremos resolver um problema quando na verdade estamos trocando um problema por outro maior ainda”, acrescenta.
Criadora da plataforma de conteúdo “Por Favor Menos Lixo”, Karin tem como um de seus objetivos a busca por um mundo sem lixo e onde haja uma maior circularidade dos nossos produtos. Segundo ela, a compra desenfreada nos desconecta dos recursos naturais que foram utilizados para a fabricação dos produtos que adquirimos, “eu não sei do impacto, então eu deixo de enxergar que cada coisa que a gente tem é um pedaço do planeta”, afirma.
“Se a gente depende do planeta para viver, então a gente precisa dele saudável“, conclui a ativista.
Ainda assim, o consumo zero é um longo percurso que precisa ser dado coletivamente para a construção de um outro modelo de sociedade. Imagina se todo mundo parasse de comprar agora? “A gente teria um grande problema econômico, a forma como a sociedade moderna está organizada é completamente dependente disso. Então se você para, ela quebra”, explica Karin.
“É uma transição, e ela seria sim por meio da conscientização de pessoas, de experienciar mais e ter menos coisa física, viver mais, se relacionar mais. A gente foi se isolando e isso também reflete no nosso emocional”, defende a consultora.
É importante o apoio das empresas e governos na mudança da lógica consumista e desenfreada que vivemos, seja com ações educativas ou punições para áreas mais poluentes. “A gente precisa de leis de incentivo, políticas públicas. Não dá para você ganhar dinheiro em cima de poluição e extração completamente prejudicial”, defende Karin.
Aderir ao minimalismo pode ser uma alternativa
Esse estilo de vida se popularizou no mundo todo a partir do filme Minimalismo: um documentário sobre as coisas importantes (2016), produzido por Matt D’Avella, Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus. É claro que já havia livros e inúmeras pessoas no mundo debatendo o assunto, embora a produção tenha impulsionado a divulgação das práticas minimalistas.
“O minimalismo na maioria das vezes é visto como voto de pobreza, de viver com o mínimo possível”, explica Alexandre Chahoud, que tenta desmistificar esses estereótipos nas redes sociais. Não é sobre isso. O minimalismo é, sim, sobre viver com aquilo que é essencial a você. E isso varia de pessoa para pessoa, de localidade para localidade, afinal, você não vai sair doando todos os seus casacos de frios se mora em uma cidade que atinge temperaturas próximas a zero no inverno.
“[O minimalismo] é sobre verificar o que é mais importante, é eliminar o que não for necessário. Devo lembrar que o minimalismo é um estilo de vida que não depende de condição financeira”, defende Alexandre.
E como minimalistas se comportam diante do consumo? Segundo o escritor, há dois tipos de consumidores: aqueles que circulam de site em site, aplicativos ou redes sociais buscando o preço mais conveniente, e aqueles que se planejaram, identificaram suas necessidades reais e encontram a melhor oportunidade para comprar um produto ou serviço. “Nem preciso dizer que o primeiro consumidor é o consumista de fato e geralmente é o cliente ideal dessas lojas. A grande maioria das promoções destas lojas geralmente não são tão expressivas a ponto de convencer o consumidor nº2 que busca realmente uma compra mais consciente”, explica. Pessoas adeptas ao minimalismo são mais próximas do segundo tipo de consumidor, que geralmente está mais atento ao que precisa.
Consumo e Black Friday: dicas e reflexões sobre a promoção
A Black Friday não é a primeira e nem a única data criada no Brasil para estimular a compra e movimentar a economia. Há o Dia das Mães, Dia dos Namorados, o Natal e muitas outras nas quais celebramos o amor, a união e o cuidado com o outro, mas que acabam sendo apropriadas pelo mercado para estimular a venda de produtos e presentes. Se essas datas deveriam existir ou não, essa é uma outra discussão, mas é importante saber nesses momentos se você realmente necessita de algo.
“Não acho que as campanhas deveriam deixar de existir. É claro que a saída para não cair em ciladas é sempre se planejar antes da data, anotar preços anteriores e analisar se realmente vale a pena consumir naquele momento”, explica Alexandre.
Para Karin Rodrigues, perceber as dimensões de produção no capitalismo e os problemas ambientais que isso gera é um passo essencial para repensarmos nosso consumo. É preciso “trabalhar mais nossa relação, nossa conexão com o planeta e, principalmente, rever a forma como a nossa economia funciona“, afirma a ativista.
“Entender as nossas necessidades é um mergulho interno e entender essa relação com a sua vida é uma revolução pessoal em cada um de nós”, diz Karin.
Outra dica útil é colocar tudo o que gostaríamos de comprar no carrinho de compras e ao longo dos dias ver o que realmente faz sentido para nossa vida. “Já fiz isso várias vezes e acabei desistindo de comprar por entender que aquilo não era necessário no momento”, conta Alexandre.
Novembro consciente na Vida Simples
A Black Friday chegou e, como muitos de nossos leitores já sabem, nós da Vida Simples não costumamos aderir à data. Nosso posicionamento em prol da sustentabilidade e do consumo consciente não combina com o clima de compras desenfreadas que as promoções malucas com hora para acabar podem gerar.
Apesar disso, entendemos que muitas pessoas aguardam o período para comprar o que realmente precisam com valores mais acessíveis. Por isso, decidimos adotar uma roupagem mais próxima da Green Friday e criamos o Novembro Consciente da Vida Simples.
Até o dia 27 de Novembro, quem assinar o nosso plano anual digital (o mais verde de nossos planos – pois tem menor impacto ambiental) paga R$199,00, ao invés de R$219,00, e pode parcelar o valor em até 10x.
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