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Sobre o auto-julgamento: você tem sido duro consigo?
Carolina Heza | Unsplash
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Quero começar agradecendo as pessoas que se dispuseram a me escrever. Muito gentil usarem o tempo de vocês para estabelecermos essa troca. Vou respondendo aos poucos e aproveitando para juntar as questões em temáticas próximas, de modo a facilitar nossas conversas. Nosso papo sobre julgamento rendeu, por isso vou apontar algumas questões que me chegaram sobre ele.

O “julgar o outro”, do modo como costumamos fazer: contundente, imperativo, categórico, só é possível porque nos julgamos muito antes. Desde crianças, ainda muito cedo, o julgamento aparece como se fosse uma saída para os medos e dúvidas de quem acompanha o desenvolvimento do bebê sem nunca saber ao certo se ele está indo num “bom caminho”.

É comum ouvirmos julgamentos sobre os comportamentos de bebês como se fosse necessário, para o bom adestramento da alma e das paixões, domar a natureza selvagem da criança para que ela possa vir a ser um adulto bem adaptado: como se isso fosse sinônimo de felicidade e sucesso. Como se esse fosse “o” caminho. É muito comum comprarmos esse processo educacional como se fosse dado, fato, correto. E aí passamos a reproduzir conosco o mesmo comportamento.

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Esses dias um paciente meu estava doente mas, ainda assim, insistindo em ir trabalhar. Isso é realmente muito comum. Parece que um mínimo grau de auto-sacrifício é o que o coletivo espera para te acreditar como alguém de boa vontade.

Outra paciente doente me disse que, talvez, seus sintomas pudessem ser um “capricho”. Eu gostei muito do termo, porque ele nos abre um portal. Somos criados a acreditar que devemos julgar alguns comportamentos ou desejos como “caprichos”, de modo a diminuir a importância deles.

Automaticamente, eu me difamo. Esse projeto é o que eu digo que é um dispositivo do patriarcado. O assim chamado “capricho” na verdade é um portal que me conecta com meu coração, com minha alma. Que me abre as portas da percepção para que eu entenda um pouco mais sobre minha intimidade.

No fim, um capricho deveria chamar uma arqueologia de si mesmo, jamais um encaminhamento e muito menos uma punição.

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Colocar-se automaticamente na auto-difamação é um modo de nos afastarmos dos convites que a vida nos traz para aprofundarmos em nós mesmos, no autoconhecimento.

E essa auto-difamação faz parte de um projeto para superficializar e uniformizar as relações. Um projeto que estamos contribuindo coletivamente há séculos sem nos darmos conta disso.

Difamação nos distancia da nossa própria história, da nossa memória e dos sentidos suaves que as múltiplas camadas das nossas experiências podem abrir. Auto-julgamento como difamação é pressa, é ansiedade, é medo, e vira culpa fácil, fácil…

Se pudermos nos deter em nós mesmos, com calmaria, foco e profundidade, vamos acessando mais gentileza no cuidado com nossos afetos e esse cuidado transborda para todas as nossas outras relações.

Ficar um dia em casa jogando videogame ou maratonando série o dia todo não significa que você ficará viciado nisso pra sempre… E esse desejo pode não ser um capricho, pode ser apenas cansaço mesmo, fadiga… Não procrastinação de deveres.

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Myrna Coelho é psicóloga clínica, professora e doutora pela USP. Decidiu recomeçar a vida do outro lado do oceano, onde segue atendendo seus pacientes e dando supervisão online. Por aqui, semanalmente, reflete sobre como podemos viver com mais liberdade de ser. Mande sua mensagem para: [email protected].

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