Por que é difícil pedir perdão?
Convido você a comigo refletir: por que convencionamos que devemos ser guerreiros, produtivos, alegres, corajosos e ainda estampar um sorriso diariamente no rosto.
Convido você a comigo refletir: por que convencionamos que devemos ser guerreiros, produtivos, alegres, corajosos e ainda estampar um sorriso diariamente no rosto.
Querido leitor, se você por aqui me lê, saberá que sou uma eterna apaixonada pelas cores, por dias iluminados. E pratico no meu lifestyle diversas possibilidades de bem-estar, conectando mãos e coração. Mas, porém, contudo, entretanto, todavia, sabemos que dentro da gente também há dias cinzentos. E que para o fluir da vida são necessárias infinitas atenções diárias. E não há receita de bolo, há tentativas e erros, em sucessivas e tantas quantas necessárias vezes.
Recentemente precisei me silenciar um pouco. E como trabalho com comunicação, diversas vezes fui questionada, via direct, sobre “se estava tudo bem”. Para alguns, apenas enviei um emoji de coraçãozinho, que fala tudo e não diz nada. Para os mais íntimos, tive a vitória de conseguir dizer que as coisas não estavam muito bem, mas em breve ficariam melhores.
Em tempos onde a felicidade plena é exaustiva e diariamente reforçada pelas redes sociais, assumir que “as coisas não vão bem” é como assinar um atestado de fracasso pessoal. E aí chega a tal da culpa, de forma avassaladora sem pedir licença. Evitamos dizer o que sentimos, com medo da rejeição e do julgamento… Convido você a comigo refletir: por que convencionamos que devemos ser guerreiros, produtivos, alegres, corajosos e ainda estampar um sorriso diariamente no rosto? Por que a dificuldade em dizer não, em se colocar em primeiro lugar diante de situações desafiadoras?
busca do perdão
Em busca da resposta que sei não existir, dei um google na palavra PERDÃO, e segundos depois me deparei com as três principais frases de busca atualmente: Como fazer para perdoar a si mesmo?
Por que é tão difícil perdoar? Como se perdoar e seguir em frente?
Ufa… papo longo digno de muitos parágrafos, mas prometo, serei breve. Quantas vezes ferimos ao outro, quantas vezes ferimos a nós mesmos? Não há fórmula, somos imperfeitos e ponto final. Mas refletir a respeito, na minha humilde opinião, é um grande passo. Um sinal explícito de que queremos afastar de dentro de nós aquilo que não nos faz bem. Fato é, o que passou, passou. O tempo não volta e os acontecimentos idem. Então cabe a nós lidarmos com nossas dificuldades e nossos equívocos de olho no futuro, talvez seja o momento ideal para sair do papel de vítima e aceitar nossos próprios erros.
Lembrei da voz rouca do multiartista Leonard Cohen ao profetizar na canção Anthem: “há uma fresta em tudo, é assim que a luz entra”. E essa é a exata sensação para dias em que tudo parece escuro, a vontade de que um simples feixe de luz invada nosso coração. Feliz de quem perdoa o outro, feliz de quem se autoperdoa. Mais que um ato de piedade, transforma-se em libertação, tanto para quem o recebe quanto para quem o dá. E talvez aqui esteja embutida a necessidade de terminar um capítulo do livro antes de abrir os próximos. É exaustivo guardar mágoas, rancores, sensações que nos puxam ao fundo do poço. É cansativo fingir que tudo está bem. Por que se torna tão difícil nos autoperdoar pelos erros, se cada um deles é decorrência de uma tentativa constante de acertar, com o outro e conosco? Acredito que nesse fluxo a vida flua de maneira mais constante.
Amor e perdão
Gandhi fazia uma associação entre o perdão e o amor, porque tanto para amar quanto para perdoar é necessário ser forte. Martin Luther King tinha a mesma visão, afirmando “quem é incapaz de perdoar é incapaz de amar”. Há sempre a necessidade de perdão quando se ama… e no perdão sempre há capacidade de amar. Nesses tempos estranhos de pandemia, muitas vezes nos sentimos estáticos. Enquanto fazemos mil coisas ao mesmo tempo fica aquela sensação de que não se sai do lugar. E entendo esse gatilho como um sinal da importância de aceitar nossos próprios erros.
O perdão a Deus pertence, ele só nos empresta para aliviarmos nossa busca por respostas daquilo que é inexplicável. Nós humanos errantes por natureza, podemos desculpar, relevar, esquecer — e por que não dizer — pedir ajuda e assumir que há dias em que o sol não brilha, mas por alguma fresta a luz pode entrar timidamente. Nem todos os dias são coloridos, nem todos os dias são prósperos e intensos. Por aqui sigo a máxima “um dia de cada vez”, atualmente esse é meu fluxo. E o seu, qual é? Pense aí, com carinho. Beijos meus!
Lu Gastal trocou o mundo das formalidades pelo das manualidades. Advogada por formação, artesã por convicção. É autora do livro “Relicário de afetos” e participa de palestras por todos os cantos. Desde que escolheu tecer seus sonhos e compartilhar suas ideias criativas, não parou mais de colorir o mundo ao seu redor. Seu instagram é @lugastal.
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