Nos caminhos da vida, qual é a sua estrada?
Cada um de nós escolhe seus próprios caminhos da vida. Se nos esforçamos para que a estrada seja idêntica a do coleguinha, jamais teremos as mesmas experiências.
Cada um de nós escolhe seus próprios caminhos da vida. Se nos esforçamos para que a estrada seja idêntica a do coleguinha, jamais teremos as mesmas experiências.
No apagar das luzes de 2021, ao finalzinho da live de lançamento do livro “Quem é a estrada – uma viagem de 270 dias pelo mundo e ao redor de mim”, a jornalista e viajante Fernanda Pandolfi me desafiou com a indagação título da sua obra: “Lu, quem é a estrada?”.
Na semana seguinte, numa úmida e típica tarde de calor lá me fui pra sessão de autógrafos, ansiosa pelo meu exemplar. Ainda sem saber como novamente me portar em eventos públicos, desapareci feito corisco após receber a dedicatória carinhosa, guardando a novidade para os dias de pausa que acenavam logo à frente.
Assim exatamente o fiz; no sossego dos dias de férias, deitada na cama improvisada da kombi com a qual viajo por trajetos sem pressa, percorri pelo mundo e ao redor de mim em cada uma das 253 páginas, exatamente como o título sugere.
Pegando uma carona
De escrita gostosa e reflexiva, a autora inicia com a coletiva dedicatória das mais simples e assertivas: “para todos que foram estrada”. Silenciosa e imediatamente levantei a mão e ali mesmo me alistei em total sensação de pertencimento, afinal de contas, entre caminhos asfaltados e de chão batido, áreas urbanas e rurais, eu vivo em trânsito a maior parte do ano.
No intuito de esticar a leitura e me auto proporcionar preciosos instantes, dividi os capítulos em 3, talvez 4 partes demoradamente percorridas pelo trajeto repleto de manifestações que orbitam entre coragem e ânimo de nos mantermos protagonistas da nossa própria estrada… Ops! Da nossa própria história.
Durante duas manhãs de sol, uma tarde chuvosa e uma noite insone, permiti que o pensamento viajasse fluidamente, contemplando temas simples e mundanos sobre…
- Nossa missão versus dom,
- A escolha do que carregamos em nossas mochilas (ou malas com rodinhas),
- Mudanças, pausas para respirar, organizar as ideias e entender a saudade de quem faz sentido nas nossas vidas;
- A importância do perdão nas estradas futuras,
- Fraquezas diante do julgamento alheio;
- Ser tatu-bola pra nos protegermos das ameaças que vêm de fora,
- Descobertas de aptidões que insistimos em manter guardadas no nosso íntimo,
- Vasculhar todos os nossos cantos,
- A cadência do danado do tempo,
- Nossos estrondosos silêncios,
- Ser mais meditação e menos reação,
- Agarrar as oportunidades, pois elas não costumam voltar.
PARA LER DEPOIS: Tempos de revisar a bagagem
Um buraco na estrada
Eis que, vagando por esse caminho farto de reflexões, num certo quilômetro da rodovia a autora me virou de ponta-cabeça e, sem pedir licença, chacoalhou cada miolo existente na minha cachola.
Talvez a causa foi o encontrar de um dos assuntos mais pedregosos da minha estrada: as tais despedidas (acho que em 90% da minha existência delas fugi imatura e desesperadamente):
“Despedidas são uma chance de reafirmar o amor. Abraçar com vontade, olhar na alma, repetir que vai sentir falta. A despedida é um ato completo. Significa que a história teve início, meio e fim. Com sorte, diz até breve”.
Como um forte tapa na minha cara, Fernanda sugere sempre darmos adeus para quem a gente ama encarando como um verdadeiro término, a não deixarmos o café pra depois, a pedirmos desculpas, a abraçarmos com vontade e sem ressalvas.
Os caminhos da vida
A quem tenha preguiça de desacomodar, de estourar algumas bolhas internas e repensar valores e preconceitos, sugiro manter distância do livro. Entretanto, se por acaso você, que hoje aqui me lê, estiver a fim de olhar para o céu a procura da sua própria estrela-guia, fica dica:
“Quem é a estrada” deixa claro que o mundo nômade parece o ideal pela falta de raízes e pela oportunidade infinita de se reinventar e recomeçar. Mas esse caminho não é eterno. Também deixa claro que, além do presente, a vida real é constituída de passados e futuros, com convivências, com hábitos (ou falta deles) distribuídos em cotidianos “irrotináveis“, com tropeços e acertos.
Eu sei, você sabe, todo mundo sabe, cada um de nós escolhe seus próprios trajetos e, se acaso nos esforçarmos para que seja idêntico ao do coleguinha, jamais teremos as mesmas experiências, porque, parafraseando Renato Teixeira e Almir Sater, “cada um de nós compõe a sua história”.
PARA ACALMAR A MENTE: Pensamentos ponto a ponto
Aproveitando as paradas
Nos meus caminhos, entre as variadas formas de percurso, usufruo cada possiblidade conforme a situação. Isso acontece nos cochilos enquanto sacolejo a bunda com as pernas apertadas entre dois bancos num carro enorme conhecido como ônibus. Também enquanto piloto meu próprio veículo e administro as paradas de beira de estrada para abastecer o tanque com combustível e reanimar o corpo ingerindo cafés mornos temperados com açúcar cristal.
Quem comigo viaja pelos stories do Instagram sabe que não resisto a pontos estratégicos que vendem melancia, cebola, abóbora de pescoço, das paradas de estrada repletas de quinquilharias ao ferro velho onde entro e nem compro nada, porque alimentar a alma alegra meus deslocamentos.
Ah… ! Respondendo à pergunta que a Fe me fez lá na prosa em dezembro, finalizo essa coluna confidenciando: a estrada é o meu coração. E a sua, qual é?
Pense nisso com carinho. Beijos meus!
Leia todos os textos da coluna de Lu Gastal.
LU GASTAL trocou o mundo das formalidades pelo das manualidades. É advogada por formação, artesã por convicção. Autora do livro Relicário de Afetos (Editora Satolep Press), participa de palestras por todos os cantos. Desde que escolheu tecer seus sonhos e compartilhar suas ideias criativas, não parou mais de colorir o mundo ao seu redor.
*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
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