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A mania de tentar se blindar contra todos os males não apenas é inútil, mas também um baita gatilho de ansiedade, mal-estar e desânimo

Deu no NY Times: “Temos uma epidemia causada pelo coronavírus e uma pandemia causada pelo medo”. A frase foi dita pelo governador de Nova York depois que onze casos foram confirmados no estado neste começo de março. Sim, a doença chega em mais um lugar do mundo, mas o medo sempre aterrissa antes do vírus em todos os países.

Duas semanas atrás, prestes a embarcar para Manhattan, me vi contaminada pelo pânico, prestes a desistir da viagem, ainda que não houvesse um só caso na cidade de destino. O que seria uma semana feliz e planejada, ao lado de várias pessoas da minha família, começou a se tornar um martírio e um gatilho de ansiedade a cada capítulo de telejornal. A sensação de medo tirou de mim aquilo que considero uma das partes mais legais de uma viagem, os dias que a antecedem.

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“Eu sou um homem velho e conheci um grande número de preocupações, mas a maioria delas nunca aconteceu.” Essa famosa citação de Mark Twain veio à minha mente como um antídoto contra esse pânico imaginário generalizado que nos tira até a capacidade de discernimento. Existem riscos reais de pegar uma gripe (a do corona ou qualquer outra) em uma viagem? Claro. Mas também há outros tantos riscos na vida e se ficarmos presos a todos eles não poderemos sequer respirar. Nem viver! É utopia pura achar que podemos nos blindar contra todos os perigos. A precaução termina quando começa a autodestruição da pre-ocupação – que nada mais é do que se ocupar, além da conta, de algo antes da hora.

Blindar-se contra tudo é inútil

Não cancelei a viagem e, enquanto estava no voo, em uma destas sincronicidades mágicas, assisti a um dos capítulos do documentário Goop Lab (a marca de bem-estar e estilo de vida de Gwyneth Paltrow). Até me assustei ao ouvir, no trecho sobre questões mentais, que “muito da nossa ansiedade vem do que tem a ver com controle.” Bingo! O que traz a pandemia do medo – nesta e em qualquer outra questão mundial – é o desconhecido, é a vontade de controlar o incontrolável e evitar qualquer sinal de risco. É o não saber de onde pode vir o vírus, é a tentativa de se proteger além da conta, é o desejo de se blindar contra todo e qualquer mal.

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Serve para o tema de saúde pública da vez, mas também se encaixa a tudo que te assusta: o medo de perder um emprego, o medo de não ser adequado, o medo de desagradar alguém que você ama. O antídoto? Entender que não temos nada sob controle. Que talvez você perca o emprego. Ou não. Que talvez você se contamine. Ou não. E que caso caia no pior cenário vai trabalhar rumo a uma solução – não vai fazer tanta diferença assim se você sofreu por antecipação nestes casos.

A mania de tentar se blindar contra todos os males não apenas é inútil, mas também um baita gatilho de ansiedade, mal-estar e desânimo. Martírio mesmo é querer controlar o incontrolável.

P.s.: para uma explicação muito interessante sobre o assunto, recomendo o TED “O que o medo pode nos ensinar”, de Karen Thompson Walker. Na palestra, acima de tudo, ela explica como focamos no que parece mais assustador, deixando de lado o que é mais comum.

Ale Garattoni é carioca, formada em Administração de Empresas, com especializações em Marketing e Jornalismo de Moda. Fundadora da Amo Branding, que trabalha imagens de marcas com base no autoconhecimento, e do @Blog5Sentidos, que criou para compartilhar seu processo de transformação pessoal. Por aqui, mensalmente, divide sua experiência nesta caminhada.

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