Uma rotina de ‘esquentar o sol’ que ilumina a vida

Depois do almoço, ela tinha um ritual sagrado: se sen­tava no portão de casa e deixava que a luz do dia aque­cesse aquele corpo pequeno que carregava 90 anos de afetos, dores, alegrias e histórias de vida.

“Estou esquen­tando o sol”, minha avó dizia. Aquela senhora de cabelo lilás me inspirava por se manter ativa mesmo depois de acumular tantas décadas – e algumas limitações.

Alimentava-se com comida caseira, movia-se com auto­nomia e, às vezes, deixava os filhos de cabelo em pé por fazer tarefas que não pareciam se encaixar na sua idade.

Já se passaram 16 anos desde que aqueles olhinhos pe­quenos não viram mais a luz do sol, mas a vida de quem amamos permanece em nós. Dia desses, me vi repro­duzindo algo dela.

Agora, depois do almoço, pego meu chapéu e meu livro e me sento no quintal do prédio. São meus 20 minutinhos de sintetizar vitamina D.

Nos últi­mos tempos, depois de corpo e mente darem seus sinais, entendi que precisava parar. E recriar uma rotina na qual minha saúde e bem-estar fossem prioridade – afinal, sem estar bem, nada do que a gente toca também se sustenta.

Esquentar o sol para seguir com saúde

Por isso, com uma boa dose de paciência e gentileza, a atividade física entrou para a agenda. Os pratos, mesmo simples, ficaram mais nutritivos. O celular tem estado mais distante das mãos (especialmente antes de dor­mir), e há espaço para a contemplação.

Para não perder a constância, criei um diário em que registro as adapta­ções. Em uma folha, anotei valores inegociáveis e frases que me ajudam a sustentar essa mudança.

Não tem fór­mula mágica, apenas erros, ajustes e acertos. É verdade que não há como ter garantias, mas faço a minha parte porque quero estar aqui por muito tempo para criar me­mórias especiais com aqueles que amo.

Especialmente o garotinho de olhos de jabuticaba que coloquei no mundo. Bem, deu 12h. É hora de almoçar. E de esquentar o sol.

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Conteúdo publicado originalmente na Edição 268 da Vida Simples