Presente é muito menos importante que presença
Presente é muito menos importante que presença. Tem um significado muito diferente.
Um novo significado para presentear
As árvores aqui em casa já estão montadas. No plural mesmo. Minha filha adora o Natal e quis inclusive produzir alguns enfeites. Escreveu carta para o Papai Noel e disse que entende se esse ano ele não aparecer, por causa do coronavírus. Mas que ele pode passar rapidinho de máscara e deixar o presente que ela pediu em uma cartinha cuidadosamente desenhada, fechada e colada. Apesar de um ano triste, me alegra poder acompanhar cada momento desse, bem perto dela.
As festas de fim de ano são, normalmente, marcadas por maratonas de amigos-ocultos (ou secretos), festas da firma e grandes encontros de família. Em 2020, a saúde – nossa e dos outros – nos pede algo diferente. Sei que depois de tantos meses, doi pensar em não dividir momentos felizes com pessoas que gostamos. Mas o cuidado é uma manifestação do nosso carinho por elas também. Estar longe, pode ser a maior prova do nosso afeto.
Tentamos, ano após ano, aqui em casa, mostrar para minha filha e para nós mesmos que é o gesto por trás do presente, muito mais importante do que o objeto em si. No fim, presentear alguém é dizer sem palavras, me importo com você e quero celebrar sua presença na minha vida. Entretanto, quando descobrimos esse significado simbólico, entendemos que o símbolo pode ser recriado. No lugar de presente, presença. Ao invés de proximidade física, proximidade afetiva. Que nos conecta, que nos une e mostra verdadeiramente a importância de cada pessoa que faz parte da nossa vida.
As histórias são plurais, os desafios também. O ano, sem dúvida, foi mais difícil para uns do que pra outros de nós. Mais um motivo de sermos apoio e o acolhimento, ouvindo quem está a nossa volta e enxergando além da superfície, que por vezes engana, como papel de presente.
Não pretendo fazer uma declaração contra o ato de presentear. Inclusive já precisei providenciar o que o Papai Noel silenciosamente vai deixar embaixo da árvore no dia 25. Mas que tal, ao invés de esperarmos até lá para trocarmos e enviarmos nossos presentes, começarmos agora a estar mais presentes na vida uns dos outros? E mesmo que não sejamos tão ligados a essas datas, sempre é tempo de afeto, mais ainda no momento que vivemos, nosso presente.
Sugiro um novo significado para o verbo presentear. Que ele agora seja para nós a tradução de fisicamente próximos ou afastados, darmos aos outros o que temos de mais importante, nosso tempo, atenção e cuidado.
Tiago Belotte é fundador e curador de conhecimento no CoolHow – laboratório de educação corporativa que auxilia pessoas e negócios a se conectarem com as novas habilidades da Nova Economia. É também professor de pesquisa e análise de tendências na PUC Minas e no Uni-BH. Seu Instagram é @tiago_belotte. Escreve nesta coluna semanalmente, aos sábados.
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