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Sabedoria de artista: 3 lições que aprendi com Mondrian
Arquivo pessoal / Iasmine Souza
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Durante as férias no mês de julho, Iasmine visitou a megaexposição dedicada à obra de Mondrian em Basel, na Suíça, e, de quebra, saiu de lá com três grandes ensinamentos sobre a vida.


Harmonia nunca é simetria”, é o que li sobre a extensa retrospectiva que marca o aniversário de 150 anos de Piet Mondrian (1872-1944) na Fundação Beyeler, em Basel, cidade que ferve culturalmente na Suíça.

Nunca fui muito fã da infinidade de linhas e cores primárias do artista holandês. Aliás, sempre achei que aquilo tudo parecia rígido demais. Mas, diante da afirmação tão atraente do curador, fiquei convencida de que deveria cair na estrada de Zurique a Basel, logo no primeiro dia das férias de julho em família.

A atmosfera do local da exposição também valia o desvio no roteiro: uma construção do arquiteto italiano Renzo Piano, projetada em meio a um jardim, em que obras de arte extraordinárias prometiam encontrar o verde reluzente do verão suíço. 

Lição nº 1 – Evoluir

Durante todo o trajeto, rabiscando ideias para o Instagram do @minutodearte no banco traseiro do carro, permaneci desconfiada da mostra cujo nome (“Mondrian Evolution”) leva a palavra “evolução”. Estaria o caminho da figuração à abstração na obra de Mondrian sendo associado, no sentido mais darwinista do termo, a alguma espécie de aperfeiçoamento ou progresso?

De fato, é surpreendente (e confuso!) perceber como as coloridas paisagens naturalistas, árvores e moinhos de vento dos trabalhos iniciais foram completamente abduzidas pelo Mondrian “padrão” que a gente tanto conhece.

Foto: Arquivo pessoal / Iasmine Souza

Ainda assim, a resposta é um categórico não. O próprio artista teria utilizado o termo “evolução” com uma intenção distinta: demonstrar o acúmulo de experiências e percepções não lineares que adquiriu ao longo da carreira.

Ou seja, evoluímos quando estamos abertos aos movimentos da vida, que chegam trazendo novas potencialidades, insights e arranjos, não necessariamente melhores que os anteriores.

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Lição nº 2 – Reinventar

Mondrian lembra azul, vermelho e amarelo. Linhas pretas verticais e horizontais. Lembra grades também. E se você gosta de moda, talvez pense nisso tudo e nos famosos tubinhos Yves Saint Laurent da década de 60, estampados na capa da Vogue Francesa de 1965.

Mas, fui precipitada quando associei sua obra à extrema precisão: ele nunca usou uma régua. Era um artista intuitivo. Apagava, olhava, recomeçava lentamente. Essa obstinada busca pela essência e harmonia da imagem, reduzindo a arte a elementos mais simples, ele chamou de neoplasticismo. Eu prefiro chamar de capacidade de reinvenção.

Geometrias deram a Mondrian infinitas possibilidades de aproximar-se da sua verdade. Nós, igualmente, seguimos refugiados em processos internos de busca, em que nunca é tarde para recalcular rotas, desde que não sejamos severos demais com as nossas próprias histórias.

Foto: Arquivo pessoal / Iasmine Souza

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Lição nº 3 – Equilibrar 

Não sei dizer se a visita me deixou mais próxima de compreender Mondrian (e, no campo da arte, gosto de aceitar que não há nada a ser decifrado com exatidão), mas é certo que foi uma oportunidade de perceber como, em alguma medida, mesmo concentradíssimo em sua missão estética, em seus esforços de equilíbrio e pura abstração – cor, linha e forma -, ele nos deixou livres para ver o que queremos.

Afinal, a vida é também uma composição de blocos que lutam para resistir dentro das linhas, senão cada um ocupando exatamente os seus devidos lugares, ao menos convivendo em harmonia

Leia todos os textos da coluna de Iasmine Souza em Vida Simples.


IASMINE SOUZA é advogada e entusiasta de arte, autora do perfil @minutodearte. A paixão por esse mundo foi tamanha que agora está cursando uma especialização em Crítica e Curadoria de Arte na PUC-SP. Há grandes chances de encontrá-la em alguma exposição. No tempo livre, escreve.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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