COMPARTILHE
Quer aprender a lidar com as emoções? Conheça o primeiro passo
Unsplash | Lidya Nada
Siga-nos no Seguir no Google News

A dificuldade que temos em sustentar nossas emoções é proporcional à incapacidade de vivermos no momento presente. Para aprender a lidar melhor com o que sente, aprenda a aceitar o lugar onde se encontra. Descubra agora por que isso é importante.

Antes de começar, uma pergunta: Você sabe acolher o seu momento presente?

Um dia, a minha professora de Mindfulness, perguntou à turma: “alguém sabe qual é a melhor forma de chegarmos de A a B?”

Todos os alunos arriscaram respostas como: “ter objetivos claros”, “fazer um bom planeamento”, “ter um mentor” etc.

Depois de ouvir pacientemente todas as propostas, a professora avançou: “ficar em A”.

Foi visível o ar simultaneamente confuso e surpreendido da turma. “Como assim?”, pensei para mim.

Ela continuou: “O fato de não aceitarmos o momento presente faz-nos viver na amargura do passado ou na ansiedade do futuro. Saibam que quando aceitamos o lugar onde nos encontramos, podemos acessar os recursos necessários para darmos um passo em frente. Mas só podemos dá-lo – bem dado – quando nos enraizamos aqui e agora.”

Essa tomada de consciência foi determinante para o meu próprio processo de maturidade emocional. A verdade é que quando experimentamos emoções agradáveis, apegamo-nos a elas, tendo medo que acabem ou sofrendo quando terminam. Quando vivemos emoções desagradáveis, fazemos de tudo para mudar a nossa experiência como se fosse errado sentir o que estamos a sentir.

Combatemos o momento presente porque vivemos em guerra com o nosso sentir.

Aprender a ficar onde estamos é aprendermos a acolher todas as emoções com abertura e legitimidade.

Qual a relação entre Mindfulness e Regulação Emocional?

Mindfulness ou atenção plena é a prática de prestar atenção ao momento presente de um modo intencional e não ajuizador. É um estado mental de curiosidade, abertura e uma mente de principiante, em relação à vida.

Veja bem que essa é exatamente a postura que precisa ter em relação às suas emoções e pensamentos. Porque, sem isso, somos apenas reféns dos nossos fenômenos afetivos.

De fato, evidências empíricas apontam que a prática de atenção plena tem  direto no processo de regulação emocional. Reduz a resposta negativa ao estresse e contribui nos processos de autotranquilização. Isto significa que níveis mais elevados de Mindfulness têm sido associados a processos de regulação emocional mais adaptativos, potenciando o bem-estar psicológico dos indivíduos.

ANSIEDADE E AFETO: entenda a relação entre ambos

Estar presente significa aceitar a experiência tal como ela é (incluindo todas as emoções!)

Apesar disso, temos a tendência para temer algumas emoções, especialmente as que são mais intensas e desagradáveis. Assim, é comum tentarmos evitá-las, reprimi-las ou até fugir de situações ou pessoas que possam levar a estados de humor desconfortáveis.

É especialmente comum isso acontecer quando não temos intimidade com o nosso sentir. Não sabemos distinguir afetos nem como funcionam. Por isso, surge a crença de que as emoções são insuportáveis, duram para sempre e que não é possível controlá-las.

No entanto, quando tentamos suprimir emoções, sentimentos, pensamentos e qualquer processo mental, com frequência, eles se intensificam. Isso significa que quanto mais tentar eliminar uma emoção intensa, mais forte e evidente ela se tornará.

O benefício do Mindfulness está no fato de ser um espaço para observar as emoções por completo, sem querer mudar, controlar ou suprimir. Sem julgar, descrever ou avaliar. Ao estar com consciência plena, poderá entender como a emoção se manifesta no corpo e como se desenrola, momento a momento. Perceberá, ao fim de algumas experiências, que todas as emoções e pensamentos têm um início, um meio e um fim. E se não tiverem, significa que se apegou a algum deles!

Através da prática, aprende-se que não somos o que pensamos ou sentimos. E que podemos treinar a mente e escolher conscientemente qual será o foco da nossa atenção.

O Mindfulness está para a mente, como o exercício físico está para o corpo

Praticar Mindulness não é treinar para mudar a nossa experiência. É treinar para estar com a nossa experiência.

Aos poucos, você começa a compreender que gostar ou não gostar das suas emoções desagradáveis não muda nada (só as intensifica). Então, aprenderá a soltar mais facilmente.

Simplesmente, não se apegue a nenhum dos seus fenómenos internos. Testemunhe a experiência e perceberá como ela muda, se transforma… e passa. O bom e o mau. A alegria e a tristeza. Como o dia e a noite.

UM CONSELHO: Como viver a sua dor (sem se destruir no caminho!)

A atenção plena funciona como:

  1. Um amortecedor, reduzindo a nossa reatividade ao stress (quem não tem amortecedores acaba por destruir a carroçaria toda, não é verdade?). Atenção plena é aquilo que nos permite amparar a nossa experiência, sem reatividade.
  2. Uma ferramenta que ajusta o seu relógio para o agora. Quando estamos presentes podemos ter maior consciência da nossa flutuação emocional. Podemos detectar o desenvolvimento de uma emoção, a formação de uma narrativa mental e, portanto, teremos maiores recursos para escolher em vez de reagir.
  3. Uma amiga compassiva que nos lembra que tudo é temporário. Que as emoções não são boas nem más (ainda que algumas sejam agradáveis e outras desagradáveis). Desenvolver uma mente não julgadora, é criar espaço para receber a vida por inteiro, sabendo que a dor também faz parte (e que resistir-lhe só criará maior sofrimento).

E se isso não estiver alinhado com o meu estilo de vida?

Antes de mais: qualquer pessoa tem a capacidade de praticar Mindfulness. Há uma influência de cerca de 30% que é genética. Os outros 70%, são treináveis. Acontece que a maior dificuldade não é a prática em si.

A maior dificuldade é lembrarmo-nos de integrar a atenção plena na nossa vida.

As pessoas dizem-me que não têm tempo. Mas veja bem: não ter tempo para estar com atenção plena, significa não ter tempo para o presente. Algo parece muito errado nessa equação, não é mesmo? Se esse é o seu caso, preciso dizer-lhe: não é o Mindfulness que é difícil. O seu estilo de vida é que está do avesso.

Não abandone a prática de Mindfulness. Abandone tudo aquilo que for excesso na sua rotina. Sem desculpas. Se averiguar bem, quase tudo é ruído na nossa vida.

Poucas são as coisas verdadeiramente essenciais. Aprenda a priorizar o que é essencial e logo o Mindfulness ganhará espaço e valor na sua rotina.

E se a minha mente divagar?

Perguntam-me várias vezes: como vou impedir que minha mente divague?

O objetivo não é controlar a mente. O Mindfulness é como uma âncora no nosso barco. Você já viu algum barco ancorado que permanece estático na margem de um rio? Não.

O barco ancorado nunca está fixo. Ele balança, aproxima-se e afasta-se da margem, mas regressa sempre ao seu centro. Então, não é esperado que a sua atenção permaneça fixa num lugar. Ela vai fugir, naturalmente. Quando isso ocorrer, apenas observe o que quer que esteja acontecendo. Observe seus pensamentos, sentimentos, emoções e retorne a atenção para a respiração ou o seu corpo. A sua única intenção deve ser trazer a atenção de volta. Apenas isso. As vezes que forem necessárias.

Em resumo: lembre-se de aprender a ficar onde está.

Quanto mais aberto e curioso for com a sua experiência presente (seja ela qual for) mais tolerante e compassivo será com os seus estados emocionais.

Leia todos os textos da coluna de Márcia Inês Coelho em Vida Simples.


MÁRCIA INÊS COELHO é terapeuta e especialista em inteligência emocional. Ensina pessoas e grupos a gerir suas emoções, a reconstruir a sua autoestima e a conectar-se com uma vida mais livre, leve e autêntica. Compartilha diariamente os seus textos e conteúdos de educação emocional em seu perfil no Instagram (@marciainescoelho).

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

A vida pode ser simples, comece hoje mesmo a viver a sua.

Vida Simples transforma vidas há 20 anos. Queremos te acompanhar na sua jornada de autoconhecimento e evolução.

Assine agora e junte-se à nossa comunidade.

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário