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Precisamos falar sobre a depressão
(Foto: Adrian Swancar/Unsplash)
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Neste artigo:

As coisas ficaram difíceis nos últimos meses. Um desânimo e cansaço persistentes. Falta de disposição. Para qualquer coisa. Caminhar me faria bem, mas parecia que tinha duas bolas de ferro nos pés. Alguns trabalhos começaram a me causar mal-estar. A terapeuta já tinha cantado a primeira nota: “Você precisa voltar ao psiquiatra”. Tive diagnóstico de depressão em 2020.

As coisas caminharam bem depois disso, estava feliz e acreditava que, em breve, poderia conversar com o médico sobre a redução da medicação.

Mas, de vez em quando, a vida manda uma série de ondas sem que a gente se dê conta e perdemos completamente o controle das coisas. Afogamento.

O mais difícil para mim, confesso, é admitir esse descontrole. Saber que não dei conta, me exigindo demais. Só que primeiro temos que nos acolher.

Parar de nos punir, como se o problema fosse um desvio de caráter e não uma doença. Em seguida, buscar suporte, alguém que nos ajude a entender o que está acontecendo.

A solidão da depressão

Acho a depressão uma das doenças mais solitárias que existem. E isso deveria estar na descrição do problema. Quando quebrei a perna, vários amigos me deslocaram de um lado para o outro. Havia solidariedade.

Quando tive um problema renal, covid, ou quando passo por uma crise de enxaqueca, todo mundo me ajuda de alguma forma. Existe compreensão.

Acontece que quem tem depressão passa por dias de muita escuridão. E trabalhar torna-se muito, muito difícil. Quase impossível.

Muitas das vezes em que me levantei e não me rendi à cama o fiz porque tenho meus filhos. E eles dependem de mim. Não sei, de verdade, como consegui.

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Um pedido de ajuda ao coletivo

Lembro do dia em que mandei uma mensagem de áudio para um grupo de trabalho, aos prantos, e disse que não sabia se a condução estratégica daquilo era boa e falei sobre o tanto que estava perdida.

As pessoas me ouviram e acolheram, entenderam meu sentimento de criança que se perde da mãe no meio da multidão. Senti muita vergonha por ter me exposto. Por ter me permitido transbordar daquela maneira.

Dias depois, marquei a consulta com o psiquiatra. Mudança de medicação. Fez efeito. Já me sinto melhor.

Mas precisei escrever este texto como um pedido de ajuda. Por todos nós. Não deveria ser assim. A gente não merece se sentir sozinha dessa forma. Porque não estamos. Mas, para isso, é preciso amor, compreensão e acolhimento. Será que os outros estão preparados?

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Conteúdo publicado originalmente na edição 275 da Vida Simples.

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