Você tem se permitido chorar? Entenda por que isso é importante
As lágrimas expõem as nossas emoções e essa vulnerabilidade é fundamental para as ligações humanas, desencadeando vínculos sociais mais fortes.
O ato de chorar expõe as nossas emoções e essa vulnerabilidade é fundamental para as ligações humanas, desencadeando vínculos sociais mais fortes.
Já sentiu algum sentimento de vergonha por ter vontade de chorar? É comum cobrirmos o rosto e nos precipitarmos para enxugar as lágrimas rapidamente, como se o fato de as secarmos pudesse também limpar o embaraço, o sofrimento ou a dor que sentimos.
Se, por um lado, o mundo nos ensinou a esconder as lágrimas, por outro, a ciência explica-nos por que é que devemos aceitá-las.
O efeito protetor
As lágrimas fazem parte de um processo fisiológico simples: lubrificam os olhos, nutrem e desinfetam a córnea. No entanto, elas não são todas iguais e o chamado “choro emocional” é, ainda, um dos mais intrigantes mistérios acerca do ser humano.
Uma investigação liderada por William Frey, bioquímico no Ramsay Dry Eye and Tear Research Center, revelou que cerca de 85% das mulheres e 75% dos homens, se sentem muito mais tranquilos depois de chorar.
Para além desse efeito libertador, o investigador concluiu que chorar permite que o corpo expulse substâncias químicas que o organismo produz perante situações de estresse emocional ou dor física.
Henry Maudsley, psiquiatra britânico, acredita mesmo que quando a tristeza não encontra escape nas lágrimas, pode fazer outros órgãos “chorarem”, sendo que desequilíbrios emocionais podem gerar, também, múltiplos desequilíbrios e doenças físicas.
A química das emoções
Não são só as razões que distinguem o choro humano. As lágrimas emocionais são quimicamente diferentes daquelas que produzimos quando cortamos cebolas, por exemplo. Além das enzimas, lipídios, metabólitos e eletrólitos que compõem as lágrimas comuns, as emocionais contêm mais proteína do que as outras.
Algumas conclusões apontam para o fato de que a maior concentração desta macromolécula torna as lágrimas emocionais mais viscosas que as normais, para que adiram melhor à pele e corram mais devagar pelo rosto, tornando mais provável que os outros as vejam.
Além disso, as lágrimas emocionais contêm elementos neuromoduladores que funcionam como analgésicos naturais.
As conexões humanas
As lágrimas expõem as nossas emoções e essa vulnerabilidade é fundamental para as ligações humanas, desencadeando vínculos sociais mais fortes. Por nos sentirmos fisicamente pouco equipados para lidarmos sozinhos com os perigos do mundo, choramos desde uma idade precoce, procurando estabelecer conexão.
As lágrimas permitem sinalizar (para nós e para os outros) a existência de um problema com o qual, naquele momento, não somos capazes de lidar (precisando que as emoções transbordem a matéria). Essa reação causa empatia no outro, por se tornar uma espécie de alerta de conflito.
Cord Benecke, psicólogo clínico e professor na Universidade de Kassel, na Alemanha, acredita que as pessoas que não choram têm tendência a isolar-se mais, descrevendo as suas relações interpessoais como menos profundas.
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O equilíbrio emocional
As lágrimas de dor precisam de tempo para que o choro se instale sem medo ou necessidade de justificação. Também precisam de espaço para que possam curar e transformar os estados emocionais mais duros. Esse exercício permite compreender o efeito positivo do choro, diluir o sentimento de confusão e clarificar as perspectivas para que se encontrem soluções.
Aprenda a lidar com as lágrimas para saber aceitar a tristeza. Deixe de temer a dor para que possa compreender que ela é real, mas que também passa e que, mesmo durante o sofrimento, é possível imaginar alternativas.
O verdadeiro valor terapêutico das lágrimas acontece quando o choro se torna um complemento da linguagem e um mecanismo de expressão da emoção, sendo uma forma “física” de atravessar e diluir o sofrimento, assim como de transbordar e perpetuar a alegria.
De fato, o modo como expressamos ou controlamos as nossas emoções, está também relacionado com o estado da nossa saúde física e mental, com a qualidade das nossas relações e até com a forma como comunicamos e interpretamos o mundo.
Por todas estas razões: chore, permita-se, apoie-se e aceite todas as suas lágrimas porque, afinal, elas não nos conectam apenas com os outros. O choro tem o poder de nos conectar com partes nossas às quais raramente temos acesso, sendo uma necessidade visceral de chegarmos à nossa própria essência.
Leia todos os textos da coluna de Márcia Inês Coelho em Vida Simples.
MÁRCIA INÊS COELHO é terapeuta e especialista em inteligência emocional. Ensina pessoas e grupos a gerir suas emoções, a reconstruir a sua autoestima e a conectar-se com uma vida mais livre, leve e autêntica. Compartilha diariamente os seus textos e conteúdos de educação emocional em seu perfil no Instagram (@marciainescoelho).
*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
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