Por onde andam os vagalumes?
Em uma reflexão sobre o passado, me vi pensando em por onde andam os vagalumes, e refletindo sobre uma infância ao lado de minha avó
Recentemente sonhei com vagalumes. Mais do que tentar entender a relação do sonho com a minha vida ou então tentar captar algum recado urgente vindo do meu inconsciente, fui tomado primeiro por um impulso de memória e, em seguida, por um questionamento. Ainda na cama perguntei para Andréia: Por onde andam os vagalumes?
Passado seu espanto com minha pergunta, antes mesmo de lhe dar um bom dia, meu questionamento ganhou reforço com sua resposta:
“Pois é, por onde andam? Eles ainda existem?”. Ah, os vagalumes….
Um lapso de memória
Minha memória me levou à infância, mais precisamente a Peruíbe, no litoral paulista, nos anos 1980.
Lembrei-me das noites em que muitos vagalumes salpicaram suas luzes entre os galhos das enormes Primaveras vermelhas do jardim de minha avó.
Havia muitos outros que também transformavam o terreno pantanoso do outro lado da rua em que morávamos numa pequena constelação de luzes. Que lembrança boa!
Como qualquer ser humano nesses tempos conectados e de respostas na palma da mão, corri para o Google e digitei:
“Por onde andam os vagalumes?”
Resposta: “Infelizmente, esses animais estão desaparecendo rapidamente em todo o mundo. Se trata de uma perda significativa para a biodiversidade, além de ser um alerta para a saúde do nosso ecossistema.”
Quis saber um pouco mais e fiz uma segunda pergunta: Mas por que isso tá acontecendo?
“Com o crescente aumento da população humana, mais e mais habitats selvagens estão sendo invadidos para atender nossas “necessidades”. À medida que construímos casas, pavimentamos áreas verdes e drenamos pântanos, estamos destruindo o habitat natural dos vagalumes”.
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A verdadeira sustentabilidade é o amor
Minha fase mais reflexiva desses últimos tempos me manteve no jardim de minha avó para além do meu sonho daquela manhã. Tive uma forte intuição – a ponto de querer escrever uma coluna sobre o isso aqui em Vida Simples – de que a crise ecológica que tanto se fala e se discute hoje, não é uma crise técnica em que a geoengenharia resolverá todos os problemas, e nos “salvará” da catástrofe iminente como muitos querem nos fazer crer.
Penso que a natureza também tem morrido em nome de uma falsa sustentabilidade, que hoje virou um negócio também. Deixa eu voltar para o jardim de minha avó para explicar um pouco melhor o que quero dizer nesta breve reflexão. Dona Nena jamais tentaria “salvar” qualquer ecossistema que fosse, como muitos vivem propagando como grandes “salvadores”.
O cuidado com a natureza é constante
Aliás, dado ao seu jeito muito mais voltado ao universo do sentir do que do falar, desconfio que minha avó jamais cairia na tentação de “salvar” o que quer que fosse nesse mundo. Não que ela ignorasse as causas e sofrimentos humanos, mas é que ela já intuía que não se “salva” aquilo que já está dentro de nós. O cuidado com o ecossistema já estava subentendido no jardim de sua casa, regado pelo coração.
Tenho certeza que se a minha avó estivesse viva, ela concordaria com um certo espírito do ambientalista genuíno, que mesmo que o aumento da temperatura parasse ou fosse revertido – como almejam os especialistas e entidades ao redor do planeta –, valeria a pena continuar cuidando com todo o empenho de nossas florestas e, “consequentemente”, dos nossos vagalumes. Não apenas porque são o epicentro da biodiversidade, vida e beleza, mas porque são sagrados por direito.
Jamais cuidaremos do mundo se não amarmos o mundo. O mundo somos nós. Saudades dos vagalumes. Saudades de Dona Nena.
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