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Será que vamos conseguir reverter o clima do planeta?
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A cena é aquela bem clichê. Após derrotar sozinho um grupo mafioso altamente perigoso, o protagonis­ta ainda precisa impedir que uma bomba-relógio acabe com a vida de inocentes.

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Olha o cronômetro e, faltando menos de cinco segundos para a tragédia se consumar, precisa escolher um dos fios para cortar. Na dúvida, fica com o de cor vermelha.

Música de suspense, suor no rosto e, enfim, o artefato é desarmado. A câmera dá um close no personagem que, esgotado, deixa transparecer um pequeno sorriso, revelando o sentimento de dever cumprido.

Lembro-me dessa sequência cine­matográfica enquanto reflito sobre o tema desta matéria: o clima do planeta. E até arrisco uma sinopse de roteiro adaptado: a humanidade se vê à beira do colap­so, após o mundo ter quase todas as suas florestas primárias destruídas.

A perda da floresta, além da emissão excessiva de gases de efeito estufa, estão provocando um enorme desequilí­brio ambiental, com perda de biodi­versidade e ecossistemas assolados. E também provocam a emergência climática (a causa de outros desastres socioambientais).

Não era para ser, mas o planeta se tornou uma bomba-relógio. Contudo, me surgem algumas questões: há um herói que irá nos salvar ou precisamos, todos nós, assumir esse papel?

Quem são os vilões? Há tem­po de desarmarmos esse explosivo? Até agora, as dúvidas estão em maior número do que as respostas.

Governos fazem acordos pelo clima do planeta

Para me socorrer nesses pensamen­tos, conversei com Cecilia Polacow Herzog, mestre em Urbanismo, especialista em Preservação Am­biental das Cidades e professora da PUC-Rio.

A princípio, a expert deixa claro que, na encruzilhada em que paramos há bastante tempo, se avis­ta um ponto no qual não há mais re­torno. Ou fazemos algo drástico a favor do clima do planeta, ou nosso amanhã não esta­rá garantido como o conhecemos.

O lado bom é que, pelo que parece, esse estado de urgência é consciente para aqueles que têm o dinheiro para agir de forma mais enérgica.

“As grandes corporações, que são, na verdade, quem domina o planeta, já se atentaram para isso. Acompanho o que acontece no mundo econômico e noto que elas perceberam que é necessário mudar esse sistema predatório”, salienta Cecilia.

Em sua opinião, entre os pontos favoráveis, pode ser destacado o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, após Biden assinar um ato em fevereiro de 2021. A assinatura fez a maior economia mundial voltar a se comprometer com as metas de re­dução de emissões de carbono na at­mosfera.

Mas é ponto favorável tam­bém, a “construção da civilização ecológica”, incluída há três anos na Constituição chinesa. Assim como o novo Pacto Ecológico Europeu, que almeja tornar o Velho Continente o primeiro com impacto neutro no cli­ma.

“No Brasil, o governo continua indo na contramão, na negação do evidente, mas, além dos exemplos citados, grandes empresários estão vendo que não há saída sem a rege­neração ecológica de nossa casa, do planeta Terra.”

Já passamos do ponto de não-retorno

Consertar a situação ambiental não é possível, ainda mais a curto e mé­dio prazo, mas amenizar o estado em que nos encontramos, sim.

Afi­nal, não se pode esconder debaixo do tapete a herança de um século e meio de industrialização, no qual a ideia da infinitude dos recursos naturais predominou.

Igualmente, não podemos ignorar que o desma­tamento, por exemplo, começou há milênios. Nem esquecer que mais de 99% das florestas originais na Europa foram substituídas por cida­des e plantações comerciais.

Todavia, amigos leitores, as pro­postas existem para além do Acor­do de Paris. Em primeiro lugar, é necessário que sejam reforçadas e ampliadas as políticas públicas am­bientais.

No Brasil, por exemplo, já vigoram a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97) e Política Nacional de Re­síduos Sólidos (Lei 12.305/10).

A recuperação de ecossistemas de­gradados é outra necessidade laten­te para reverter a emergência no clima do planeta. Para tanto, há dois anos, a ONU Meio Ambiente, em conjunto com a FAO (Organização das Nações Uni­das para a Alimentação e a Agricul­tura), determinaram que o período de 2020 até 2030 seria a Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas.

Busca-se apoio políti­co, empresarial e, consequentemen­te, financeiro para o cumprimento do Desafio de Bonn, criado em 2011, de restaurar 350 milhões de hectares de terras degradadas até 2030.

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Educação e comunicação pelo clima do planeta

Não se pode esquecer a educação ambiental massiva, que deve ser aplicada às pessoas em todas as fases escolares. Além disso, como explica Fabiana Mongeli Peneirei­ro, engenheira agrônoma e mestre em Ciências Florestais, é preciso também que haja outras ações.

“A transformação radical da atividade agropecuária e a potencialização do uso da energia solar em mais fotossíntese e fixação de carbono (agrofloresta sintrópi­ca). Os transportes e indústrias menos poluentes. O comércio em circuitos curtos, valorizando alimentos pro­venientes de sistemas de produção agroflorestais agroecológicos”.

Outra forma de ação relevante para o clima do planeta é a implantação nas metrópoles de so­luções baseadas na natureza, permi­tindo a integração da urbanização com o meio ambiente.

Recuperação e conexão dos sistemas naturais para garantia da água, conservação de áreas protegidas e telhados verdes, por exemplo, fazem parte disso.

Reduzir o consumismo vale como medida individual

E quanto a nós: o que, individualmen­te, podemos fazer? Segundo Fabiana, há várias medidas ao nosso alcance. Além da tão falada coleta seletiva de lixo, precisamos olhar para o consu­mismo desmedido, um grande vilão dos impactos negativos ambientais.

“Separar o lixo é uma ação importan­te, mas mais importante é reduzir o consumismo. Evitar embalagens e tudo o que não precisa realmente”, assinala Fabiana, que é membro da ONG Mutirão Agroflorestal.

“Evitar o desperdício de alimentos e compostar seu lixo or­gânico em casa, ou mesmo depositar diretamente sobre o solo, cobrindo­-o com palha, são ações que impac­tam positivamente o ambiente. Plan­tar seu alimento e/ou consumir ali­mentos produzidos por agricultores familiares, também é.”

Como não esmorecer e manter a esperança de que a vida seguirá nes­te planeta? Entre entusiasmo e des­crença, guardo a fala de Fabiana Pe­neireiro: “Precisamos manter viva a chama da transformação latente, do caminho possível e viável para uma humanidade comprometida com a vida, que promova a vida e aumente os recursos para ela”.

Sobre a série De Olho no Futuro

A proposta dessa série é investigar o que se tem pensado para temas centrais da vida humana, como trabalho, educação, alimentação, clima do planeta, moradia e sociedade. Compreendendo o passado e o presente, espiamos o futuro com olhos mais disponíveis para viver essas mudanças e criar um mundo melhor.

A SÉRIE DE OLHO NO FUTURO recebe consultoria da Oxygen (@oxygen.brasil), uma plata­forma de conteúdo em inovação. Com seu olhar apurado para a curadoria de tendências, a fundadora Andrea Janér tem como missão compartilhar conteúdos para ajudar empresas e pessoas a entender para onde cada transformação poderá nos levar.

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GUSTAVO RANIERI é jornalista, escritor, padeiro e oficineiro. Alegra-se ao ver minhocas felizes em sua composteira, delicia-se ao colher e preparar seus próprios alimentos e se enche de esperança ao observar as filhas pequenas tirarem insetos de dentro de casa para devolvê-los ao gramado, respeitando e honrando toda a natureza.


Conteúdo publicado originalmente na Edição 232 da Vida Simples

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