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Por menos consumo e mais sustentabilidade na infância
(Foto: Christopher Luther/Unsplash)
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Neste artigo:

Desde que me tornei mãe, há dois anos, tenho me dedicado olhar com mais atenção os múltiplos universos que envolvem o maternar. Entre eles, está a sustentabilidade e sua relação com a infância.

Parece pouco tempo, mas já vivi com intensidade o bastante para compartilhar com convicção uma grande lição. Aprendi que o universo infantil e a sustentabilidade não se encontram em fraldas de pano, Danoninho de inhame, brinquedos de madeira e colar de âmbar. São escolhas as quais eu aderi sim, mas logo entendi que há uma camada mais profunda que deve ser acessada antes disso.

É sobre uma mentalidade que conecta atenção plena, tempo de qualidade, intencionalidades, escuta ativa e visão de mundo ecológica e holística.

E isso trouxe uma leveza e tanto, além de sustento para a minha saúde mental, sendo eu uma mãe conhecida pelo trabalho com sustentabilidade e, por isso, cheia de expectativas e de pressão sobre mim, não só pressão social, quanto auto-pressão.

Sustentabilidade na infância não é só sobre consumo consciente

Realizei todas as escolhas acima com alguns êxitos. Consegui, e continuo conseguindo, sustentar uma alimentação vegana e natural, e dispor de tempo de qualidade maternando integralmente. Porém também vieram algumas frustrações. Abandonei as fraldas de pano antes do que eu pensava, por exemplo.

Apesar de algumas frustrações e mudanças necessárias de rota, celebro e compartilho algumas das atitudes que adotamos com nosso menino e nos trazem o alívio de estar em um caminho sustentável que não é perfeito, mas possível e sensível.

1. Atenção plena offline rende autonomia na infância

Matheus acorda. Após amamentá-lo, ouço o que costuma ser seu primeiro pedido: ir para a cozinha. Não porque está com fome, mas porque ele se sente bem e seguro por lá.

Fazemos mingau juntos quase todas as manhãs; ele me ajuda a picar legumes e fica atento ao preparo do alimento. Já pega frutas sozinho da fruteira.

Em um dia comum, observei-o com atenção. Ele pegou uma metade de mamão, separou as sementes e as colocou cuidadosamente na cestinha da pia, destinada à composteira. Exatamente como eu faço, mas nunca ensinei racionalmente.

Ao final, ele fechou e disse: “papá de minhoca” (e o sso eu celebro no próximo tópico!). Essa pequena ação revelou uma compreensão intuitiva da importância de cuidar do meio ambiente, despertando em mim uma profunda admiração (e orgulho!).

Entre tampas quebradas e panelas arranhadas, além de mais vezes ao dia limpando o chão, vale muito a pena ver como a inclusão da criança em atividades cotidianas é uma boa substituição democrática às telas.

Falando nelas, em minha casa a TV é usada apenas para tocar músicas. Só usamos o celular para controlar a playlist que toca na TV e para ele falar com a vovó, que mora em outro estado.

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2. Exemplo é valioso e comida não é lixo

Se comigo a diversão é descartar legumes e frutas, com o pai o ritual é levar as cascas até a composteira.

Momento que ele chama de “papá de minhoca”, e quer praticar até quando estamos na rua ou no parque.

Ele cisma em jogar a casca de banana no chão porque vê que tem terra e, por isso, entende que é o correto.

Como não celebrar que, despretensiosamente, como uma brincadeira, plantamos ainda na infância dele a sementinha de que comida não é lixo!?

3. Ninguém nasce consumista

Nesses dois anos e pouco, tivemos a sorte de ganhar muitos brinquedos interessantes de filhos de amigos. Juntou-se isso à nossa relação e cuidado já antigo com o consumo responsável.

Então, dia desses, me dei conta de que só compramos brinquedos umas três vezes para ele. E todos bem simples.

Meu presente de aniversário, por exemplo, foi um apito com som de passado que custou menos de trinta reais. Ele amou.

E tudo funcionou muito bem. Ele não tem consciência agora, mas imaginamos que logo mais terá. Tanto para repassar para outras crianças, quanto para entender que seus brinquedos já foram de alguém. E assim também plantamos a semente da economia circular, promovendo uma infância sustentável não só para ele, como também para a nossa rede.

4. A natureza é o melhor brinquedo

Nossa atitude mais potente como pais, pensando em nutrir o florescimento da nossa criança, além de moldar nossa rotina para proporcionar tempo de qualidade, foi mudar para uma casinha com quintal.

Um pequeno canteiro no chão transformado em horta e um cantinho com pedras e a fonte de água transformada em Buda o fazem ficar um longo tempo imerso em criatividade e atenção.

A árvore em outra parte do quintal atrai pássaros e saguis (moramos em São Paulo) que roubam atenção até da música na TV.

E tive ainda mais certeza de que a natureza é o melhor brinquedo. Mariana Sorgan, psicóloga focada em psicoecologia, me apresentou o pensamento do estudioso peruano Juan Leguía.

Ele contou que, segundo ele, a criança deve ser convidada a estar na natureza, mas sem direcionamento (vamos fazer isso ou fazer aquilo).

Livre para fazer o que quiser, sem restrições, entretanto, sob o olhar atento dos pais, a própria criança pode interagir com o espaço que a cerca (seja o quintal, a praça ou o parque) de forma intuitiva, aprendendo ainda mais sobre o ambiente em que estamos imersos, amadurecendo a sua própria capacidade de ter atenção plena.

Realmente natureza, autonomia e presença ajudam a sustentabilidade na infância acontecer de forma simples, justa e democrática.

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