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O que borboletas azuis têm a dizer sobre nossas escolhas
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Não dá mais para fazer escolhas “vibrando” apenas no medo, outras paisagens precisam ganhar vida dentro de nós no ano que está começando

O Universo conversa com a gente o tempo todo e de diversas formas, inclusive através das borboletas. O segredo para acessar essas palavras está em tornar nossa vida um pouco mais sutil e deixar que uma outra frequência guiar nossos olhares e nossos passos.

Descobri isso após sair do mundo corporativo em 2018 para viver um sabático, após 20 anos de empresa. Hoje tem sido mais fácil encontrar respostas para o que anseio naquilo em que eu mal enxergava. Há três anos, troquei meu molho de chaves e uma vida mais compartimentada, por portas sem travas. Tenho gostado das minhas novas visitas, principalmente daquelas que se comunicam comigo de forma mais leve.

Borboleta azul

Na semana passada, vivi uma das sensações mais incríveis dos últimos tempos e que me fez refletir sobre nossas escolhas. Estava na Chapada dos Veadeiros (GO) fazendo uma trilha pela manhã em meio a uma fina garoa, quando avistei uma queda d’água que ganhava vazão pelas corredeiras de um rio que cortava as paredes do cânion. Um verdadeiro quadro vivo emoldurado à minha frente. Cenário lindo.

Eu me posicionei numa pedra para contemplar tamanha beleza, após uma hora de caminhada. Quando notei, há poucos metros de mim, o bailar de uma linda borboleta azul. Ela ia e voltava sobre as águas batendo suas asas agasalhadas num azul metálico hipnotizante. Nunca tinha visto algo tão belo. Fiquei encantado. Era como se ela assinasse, em cada movimento no ar, aquele pequeno recorte de uma tela do paraíso.

Fui tomado por uma forte emoção. Sua sutileza se comunicou comigo naquilo que temos de mais verdadeiro: o coração.

Deixei meus olhos vagarem por suas asas e senti uma forte intuição de presença, como se naquele instante o tempo tivesse parado. A borboleta azul me dava as boas-vindas a 2022, com um recado.

PARA LER DEPOIS: Atender o chamado do coração é dar ouvidos à voz interior

Lenda oriental

Encantado com a cena daquela manhã, pesquisei muito sobre borboletas azuis. Além de descobrir que elas são mais raras, encontrei uma lenda oriental que traz um ensinamento muito bonito sobre como tudo está em nossas mãos, só precisamos acreditar. Como o ano está apenas começando fiquei com vontade de compartilhar e escrever este texto numa tentativa de reforçar para mim mesmo que a vida é sábia.

Conta-se que há muitos anos um homem ficou viúvo e teve que se responsabilizar por suas duas filhas. Elas eram curiosas, inteligentes e sempre tinham o desejo de aprender. Constantemente lançavam perguntas ao pai que nem sempre sabia responder tudo.

Vendo a inquietação das duas meninas, ele decidiu enviá-las por um tempo a um sábio que vivia numa colina. Sem titubear, o guru respondia a todas as perguntas lançadas pelas pequenas.

Dispostas a buscar um jeito de fazer com que o sábio errasse ao menos uma vez, elas elaboraram um plano. Numa manhã, uma delas foi ao bosque e retornou com uma linda borboleta azul nas mãos. A ideia era fazer uma pergunta que o sábio jamais conseguiria responder: se a borboleta estava viva ou morta.

A estratégia estava definida. Se o sábio respondesse que estava viva, a garota iria apertá-la em sua mão e matá-la, e se respondesse que a borboleta estava morta, ela abriria as mãos e a soltaria para voar livremente. Portanto, qualquer que fosse a resposta do sábio, ela estaria errada.

Chegou o grande dia.

“Mestre”, disse uma das jovens. “Pode nos dizer se esta borboleta azul que está em minhas mãos está viva ou morta?”

O sábio respirou lentamente e com um leve sorriso respondeu: “Depende de você, ela está em suas mãos”.

Como fazer escolhas

De volta a minha rotina, após 10 dias em contato com a natureza viajando pelo Cerrado brasileiro, foi inevitável olhar as notícias dos últimos dias: explosão de novos casos de Covid, surto de gripe e a possibilidade de novo lockdown. É só ligar a TV e um cardápio completo de tragédias invade o seu dia.

Realmente estamos atravessando um período difícil da nossa história o que tem nos obrigado a mergulhar em questões mais profundas. Eu mesmo perdi duas pessoas queridas nesses tempos pandêmicos. Estou também tentando me localizar melhor profissionalmente num mundo cada vez mais em transformação.

É um desafio constante, mas é o momento em que também precisamos fazer escolhas e decidir por onde caminhar. E com quem caminhar.

Não dá mais para ficar “vibrando” apenas no medo, outras paisagens precisam ganhar vida dentro de nós e isso em nada é negar o que está acontecendo. É apenas jogar um pouco de luz onde a sombra tem imperado. Mudar a frequência nos ajuda a sutilizar a vida.

Mais um recado da borboleta

Um primeiro passo para um ano que promete muitos desafios é ter menos certezas das coisas, entender que a nossa opinião é apenas a nossa opinião, e que o outro não é meu inimigo, apenas um companheiro de viagem tentando buscar a melhor rota para sua história. Afinal, o que essa pandemia tem nos mostrado é que não temos controle sobre muito do que nos acontece.

Então, quando as coisas ficarem mais complicadas, antes de fazer escolhas, talvez a saída seja olhar um pouco para o alto. Quem sabe a resposta que você busca esteja no bailar de uma borboleta bem próxima a sua janela. A vida se comunica com a gente o tempo todo.

Leia todos os textos de Patrick Santos em Vida Simples.


PATRICK SANTOS é jornalista, escritor e apresentador do podcast 45 Do primeiro tempo que semanalmente traz histórias de pessoas que se reinventaram. Depois do sabático em 2018, não abre mão de estar sempre em contato com a natureza.

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