No meio da terra, da chuva e do barro, cada ação faz a diferença
Às vezes, não temos escolha a não ser fazer o que precisa ser feito. Para o nosso bem ou daqueles que amamos, mesmo em meio à terra, chuva e barro
Escrever todo mês para a Vida Simples tem sido um belo exercício para vasculhar minha história de vida e encontrar propósito e ensinamentos em vários momentos que antes tinham passado despercebidos.
Meu bairro de infância se chama Edgar Moreira, um lugar simples e projetado, onde as ruas eram denominadas por letras. A minha era a “L”, no número 28.
As vias eram de terra, e só foram calçadas muitos anos depois que nós já morávamos lá. O muro de casa era uma cerca de bambu que meu pai reformava de tempos em tempos.
Porque, quando o clima virava, o cenário mudava para terra, chuva e barro. A cerca também cedia do tanto de bola que a gente chutava. Meu pai, inclusive. A bola pesava, suja de terra, chuva e barro.
Em um dos Natais, por volta dos meus 9, 10 anos de idade, acordamos com o barranco que tinha nos fundos do quintal da minha casa praticamente dentro da nossa cozinha.
Por conta das chuvas de dezembro, isso acontecia muitas vezes. Imposição da natureza. Mas, poxa, logo no Natal? A chuva seguia forte durante toda a manhã, e era impossível deixar aquela terra, que logo viraria barro, ali parada.
Entretanto, meu pai, proativo, corajoso e desejoso de um Natal minimamente digno para nossa família, iniciou o transporte de toda aquela terra, com carrinho de mão, pás e enxadas, para um terreno vazio que tinha ao lado.
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Proatividade em meio a terra, chuva e barro
Eu tive bastante preguiça para começar a ajudar, confesso. Mas logo me pus a levantar, quase como uma brincadeira.
Terra, chuva, barro. Terra, chuva e barro… passamos praticamente o dia todo naquele trabalho em equipe e, no fim, fui recompensado com umas bolhas nas mãos, um quintal livre do barranco desmoronado e uma história de que nunca vou me esquecer.
Meu pai talvez também tenha pensado duas vezes quando acordou e viu nossa cozinha daquele jeito. Provavelmente ficou chateado, provavelmente questionou Deus e o Universo. Entretanto, ou ele fazia, ou aquilo ficaria ali como estava. Terra, chuva, barro. Terra, chuva e barro…
Naquele dia, quase que por diversão, eu aprendi que em muitos momentos na vida existem ações que precisam ser executadas por nós, e que nenhuma pessoa poderá fazer.
E que, com frequência, não vai haver uma motivação específica, a não ser salvar o dia de alguém. Às vezes, será o seu dia mesmo. Nesses casos, não existe outra alternativa a não ser fazer. Então, faça.
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Conteúdo publicado originalmente na Edição 268 da Vida Simples
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