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Mau humor, ansiedade, estresse… os perigos das redes sociais
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Eu tive a felicidade de conviver com o meu avô e fui testemunha do seu espanto diante dos celulares. Ele não entendia como, de uma hora para outra, todos passaram a ter muita coisa para dizer e — com urgência — já que não podiam esperar para falar pessoalmente ou pelo telefone fixo. E desconfio que ele seguiria estupefato diante do fenômeno das redes sociais, principalmente pelos seus efeitos perversos. E ele não seria o único. O alerta sobre os perigos do uso excessivo da tecnologia existe desde o surgimento dos smartphones. Dentre os mais conhecidos estão as fobias (como o medo de sair de casa sem celular) e os vícios, como o de estar conectado (e contactável) 24 horas por dia. Porém, nada se compara aos malefícios causados pelas redes sociais. Em toda parte proliferam estudos sobre os efeitos negativos do uso do Facebook, Instagram, Twitter e outros.

Pesquisas apontam que duas a cada três pessoas sentem-se mais insatisfeitas depois de acessar o Facebook. Nos usuários de longo prazo foi diagnosticado aumento de tensão, isolamento, ansiedade e depressão. Outra pesquisa registra o aumento do estresse — devido a exposição ao estresse dos outros — já que muitos usam as plataformas para desabafar e agredir. Bastam apenas 20 minutos de acesso para surgir o mau humor, motivados pela consciência do  tempo perdido. Há um estudo que mapeia os altos níveis de inveja no Facebook. E já foi falado aqui nesta coluna sobre os malefícios profundos deste sentimento, ruinoso para o bem-estar e a satisfação com a vida.

Para quem pensa que está a salvo porque não é um usuário ativo, está na categoria do “só dou uma olhada” — os malefícios são iguais ou piores. Um estudo aponta que a presença passiva é igualmente danosa. Sentimentos de exaustão, irritação e sobrecarga também alcançam aqueles que estão apenas “olhando”.

Para sair, basta um clique

Estudos à parte, muitos já notaram os efeitos nocivos, mas permanecem. Primeiro porque enfrentam pressões dos outros para manterem-se no ativo e, segundo — e aqui a pior notícia —  muitos estão dependentes e não conseguem sair. Todos os estudos sobre a não utilização das redes sociais tiverem uma dificuldade acrescida: cerca de 30% não resistiram a tentação do acesso. E detalhe: os participantes são voluntários que aceitaram participar no estudo porque tinham intenção de deixar de usar o Facebook ou a começar a utilizá-lo por menos tempo. No item vícios, alguns cientistas argumentam que tuitar pode ser mais difícil de resistir do que cigarros e álcool.

Há vida após o Facebook? Há. Um estudo recente mostra que basta apenas uma semana para se notar níveis mais elevados de bem-estar. Foi constatado que os recém abstêmios estavam mais felizes, menos tristes e menos solitários. Além dos sentimentos positivos, notaram um aumento nos encontros cara a cara e menos dificuldade de concentração. Para finalizar, depararam-se com a grata sensação de que tinham desperdiçado menos tempo ao longo da semana.

Estes estudos são incompreensíveis para a maioria. Aumentar o número de interações, fazer novos amigos, combater a solidão não são justamente o que prometem as redes sociais? O fato é que prometem, mas não cumprem. E as razões são as que todos já desconfiam. O mundo virtual está muito distante da vida real. É sabido que cerca de 60% do conteúdo é “dourado” (e até mesmo inventado), as fotos são retocadas, os cenários “filtrados”… Porém, apesar dessa realidade ser conhecida, ela não impede que metade dos usuários inveje as experiências alheias e enxergue a sua vida com amargura. Afinal, bem que podia ser verdade!

Mas como chegamos até aqui? As redes sociais trazem uma combinação irresistível: a tecnologia (que sempre nos maravilha) e o anseio humano pela comunicação. E é aqui que reside o grande equívoco: acreditamos que a tecnologia garante a comunicação, o que não é verdade. De acordo com o pensador francês Dominique Wolton, a técnica é eficiente, mas o quesito comunicação continua em aberto. Assim como mais informação não traz mais democracia (estamos perdidos no excesso — com a avalanche de fake news — e não sabemos mais o que é verdade e o que não é), mais interação não significa mais relações. O amor, os sentimentos, as ligações não acontecem via tecnologia. A outra razão dos prejuízos é óbvia: a vida virtual rouba tempo da vida real. Devemos parar de adorar as redes sociais e assumir uma certa reserva em relação a elas. Há muitos que tem mais de 700 amigos no Facebook e seguem outros 700 no Instagram em suas viagens, lugares maravilhosos e histórias para contar… Mas estão sós. A sedução através da internet pode ser divertida, mas o que realmente importa, o que faz uma vida de verdade é quando duas pessoas se encontram pela primeira vez num café e pensam: “Nossa! É muito mais gorda (ou gordo) do que eu imaginava”.

MARGOT CARDOSO (@margotcardoso) é jornalista e pós-graduada em filosofia. Mora em Portugal há 16 anos, mas não perdeu seu adorável sotaque paulistano. Nesta coluna, semanalmente, contará histórias de vida e experiências sempre à luz dos grandes pensadores.

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