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Entre o otimismo e o pessimismo
Kristopher Roller | Unsplash
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Podemos seguir por qualquer um desses caminhos. Tudo é uma questão de olhar e de escolha

Em tempos bicudos como o que estamos vivendo, uma boa dose de otimismo pode nos ajudar a enfrentar as dificuldades do dia a dia. Os otimistas costumam ser mais positivos mesmo diante das adversidades, e, com isso, têm mais chance não só de encontrar meios para sobreviver à crise como de criar alternativas para sair dela, independentemente dos acontecimentos ao seu redor.

Reconhecemos os otimistas de algumas maneiras. Uma delas é pelo tempo de seu discurso. Enquanto os pessimistas falam no pretérito, os otimistas preferem falar sobre o futuro. Os pessimistas insistem em ponderar como deveria ter sido. Os otimistas ocupam-se em discorrer como poderá vir a ser. Ao mesmo tempo em que um pessimista culpa o passado pelo presente, o otimista encontra nele os elementos para alavancar o futuro. É o jogo dos tempos, e cada um é mais hábil a seu jeito.

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Outra maneira de diferenciar um pessimista de um otimista é pelo uso do “mas”. Sim, do mas… a conjunção coordenativa adversativa, a palavrinha de três letras muito usada quando dois pensamentos se complementam, e parecem ser opostos. Usamos esse artifício linguístico todos os dias e nem nos damos conta disso. Cada vez que você diz “agora faz sol, mas mais tarde vai chover”, ou “minha cabeça dói, mas já vai passar”, está usando uma conjunção que, assim como a preposição, tem a finalidade de ligar termos de uma mesma oração. Lembra das aulas de língua portuguesa no colégio? Vale recordar. As conjunções podem ser aditivas, conclusivas, alternativas, explicativas e também adversativas, que são as que indicam oposição entre duas ideias. O mas é uma delas. As demais nós conhecemos: porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante.

Pulando da gramática para a psicologia, quem abusa das conjunções adversativas passa uma imagem de certa indecisão perante os fatos da vida. Tipo: “Não sei bem o que quero, mas me dá este aqui”, ou “Acho que vou tentar, mas não tenho certeza se vou conseguir”.

Voltando ao tema do otimismo e do pessimismo, sabemos que esses dois estados, que demonstram a visão que as pessoas têm da situação em que se encontram, bem como das perspectivas futuras, se refletem no uso dos recursos linguísticos. Um deles é o uso do mas. Ou melhor, da ordem em que se colocam os termos da oração em torno dele. Explico. Uma coisa é dizer: “Eu sei que está ruim, mas vai melhorar”. Outra é afirmar: “Eu sei que vai melhorar, mas que está ruim, está”.

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As duas frases acima envolvem exatamente os mesmos elementos em sua construção. Ambas fazem uma ponderação sobre a situação presente e uma consideração relativa ao futuro. A diferença está no foco. Enquanto a primeira frase está claramente focada no futuro, a segunda denuncia uma preocupação maior com o presente. E esse, com sabemos, não é nada bom.

Lembro de uma colega de trabalho que sempre terminava as frases com “mas veja bem…”. Não importava o que vinha antes. Ela podia estar falando de um projeto, de uma conquista, de uma notícia boa, sempre emendava o “mas veja bem…”, e depois vinha uma consideração do tipo “é preciso ser cauteloso”, ou “as coisas nem sempre são como parecem ser”. De pouco importava quão auspiciosa era a notícia, sempre tinha um mas para colocar as coisas em perspectiva. A dela, claro, que quase sempre era pessimista.

Outra pessoa que emerge de minha memória é outro amigo querido, otimista de carteirinha. Ele também usava o mas, só que em outra conotação, evidentemente. Quase sempre seu “mas” vinha antes de “vamos dar um jeito”, ou “isso vai passar, você vai ver”.

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Tem mas para todos os gostos. Depende de nós usá-lo para criar um bom ambiente, um estado de esperança racional, um estímulo à solução, ao desenlace ideal, ao melhor momento, ou não. Sempre podemos usar o mas para criar inspiração ou para jogar um balde de água fria no ânimo de qualquer um.

Li, recentemente, dois textos sobre esportes que abusavam do mas. Um era sobre um jogador conhecido de futebol. Dizia o colunista, em um texto primoroso, que o problema do tal esportista era que ele era um jogador “mas”. Era visivelmente talentoso, mas essa qualidade não estava colaborando para sua carreira. Ele é capaz de jogadas brilhantes, mas elas nem sempre aparecem quando são necessárias. Cria oportunidades fantásticas, mas nem sempre finaliza. Esse atleta carrega um “mas do mal” em seu currículo.

O segundo texto era sobre outro esportista de salto com vara. Nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, ele não conseguiu o resultado que queria, e que se esperava dele. Por suas conquistas anteriores, ele era forte candidato ao ouro para as Olimpíadas. Disse o colunista que ele não conseguiu a medalha, “mas” isso não significa que ele não foi bem-sucedido, considerando a fase do treino em que se encontra. Ele não ganhou, mas esse fato não se deve à falta de talento ou qualidade, e sim à sua inexperiência e à estratégia usada, e que foi, acima de tudo, um grande aprendizado. Agora ele amadureceu.

O primeiro mas questiona o valor do jogador de futebol. O segundo deixa claro que o saltador continua sendo uma de nossas esperanças para o Rio 2016. Essas são situações em que o mas serve para ponderar, analisar, criar uma imagem realista de um fato, uma situação, ou mesmo sobre uma pessoa, um profissional. O outro valor do mas é o de criar esperança. Quando algo não está bem, como o momento econômico, o crescimento da inflação e do desemprego, surgem dois pensamentos: o de que tudo vai piorar, e o de que daqui pra frente só é possível melhorar. “A situação é ruim, mas não será para sempre”, dizem alguns. Outros preferem afirmar: “A situação está ruim, mas ainda não chegamos ao fundo do poço”.

E, já que é assim, proponho o otimismo consciente. Aquele que não nega a realidade, mas que acredita na solução, no recomeço, na recuperação, na melhoria, no crescimento. Nosso país está como está porque fizeram com ele o que fizeram. Mas ele será o que será porque faremos o que faremos. E, neste caso, como diz o ditado, “não tem mas nem meio mas”. Só depende de nós.

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