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Como lidar com o envelhecimento?
Como lidar com o envelhecimento nosso e de quem amamos? (Foto: Serj Sakharovskiy/Unsplash)
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“Como sua mãe está lidando com isso?”. A pergunta foi feita por uma amiga. Ela queria saber como está sendo para ma­mãe ver o companheiro de vida dela cheio de limitações, em processo de envelhecimento.

Papai está com 87 anos. Está bem em relação à memória, mas precisa da ajuda da bengala e se movimenta com dificuldade. Sente dores o tempo todo. Não saber o que responder para a amiga me inquietou.

Passei a observar melhor minha mãe. Ela está com 83 anos. Segue bem. E por isso acumula pequenas tarefas no dia a dia. Ao me abrir para ouvi-la, de­parei-me com as seguintes frases: ele não me ajuda; não faz nada; só fica deitado ou sentado.

Do outro lado, percebo papai in­quieto por não poder ajudar. No início, julguei, achei-a cruel. Até que, recentemente, vi-me em uma situação diferente, mas pa­recida.

Marcos, meu namorado, teve den­gue e precisou ficar em repouso. Senti falta do parceiro que se mantém sempre ao meu lado. Senti-me egoísta por esse pensamen­to.

E, para me desculpar e redimir, sentei­-me ao lado dele com um pote de uvas. Va­mos dividir? Recuperei a paz.

A difícil convivência com a velhice

Marcos ficou doente por 15 dias e fui vi­sitada por um emaranhado de pensamen­tos pequenos. Como seria conviver com alguém que está tomado por limitações, sem rota de volta? Triste e solitário. É fácil julgar. Difícil é viver.

Da terapeuta, escutei: a vida não é tão simples e bonita como na literatura, na qual as pessoas são compas­sivas com o outro ao longo do envelheci­mento.

Não quero mais apontar o dedo para minha mãe. Percebo que ela está fazendo o que pode e consegue. O problema não são meus pais, mas a expectativa alimentada por mim de que me apontem o caminho de como (eu mesma) devo envelhecer.

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Pelo envelhecimento amoroso

Talvez devêssemos conversar – eu, você, todos nós – sobre a velhice. Talvez devês­semos olhar para os nossos velhos – todos eles, não apenas os pais – como pessoas que sobretudo precisam de nós, de amparo, tolerân­cia, respeito.

Gostaria que já existisse uma rota de acesso para um envelhecimento amoroso. Entretanto, não há. Com meus pais es­tou aprendendo sobre desvios, terrenos difíceis.

Não existe, ainda, paisagem para apreciar. Existe o amor. A esperança, quem sabe, esteja nele. Um sentimento que vai além dos laços de sangue e nos arrebata a todos como irmãos de jornada.

Idealismo? Pode ser. Prefiro acreditar nisso ao conformismo, segundo o qual fica­remos à deriva. Entregues. À própria sorte.

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Conteúdo publicado originalmente na Edição 269 da Vida Simples

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