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Como falar sobre bullying com crianças e adolescentes
Conversar sobre bullying é o primeiro passo para preveni-lo (Foto: Jerry Zhang/Unsplash)
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No último dia 12 de agosto, Pedro Henrique, um menino de 14 anos, tirou a própria vida depois de deixar uma mensagem no grupo de Whatsapp de sua turma. Em todos os jornais, a notícia é a de que Pedro foi vítima de bullying.

Bolsista, ele já havia reclamado com a mãe a respeito das ofensas que sofria por ser pobre, negro e abertamente homossexual. Os relatos dizem que Pedro era vítima de intimidação e humilhação, além de exclusão por diversos grupos da escola de elite que frequentava.

Infelizmente, o fim foi trágico. A escola prestou esclarecimentos, o celular do menino foi analisado pela polícia e provavelmente muitos dos que contribuíram – direta ou indiretamente – para a decisão do menino estão profundamente assustados e arrependidos. A família de Pedro nunca mais será a mesma e isso tudo foi causado por palavras cruéis.

Uma vez que não é possível desfazer o que houve com Pedro e sabendo que histórias como essa se repetem exaustivamente em todo o mundo, todos os dias, meu ponto aqui é: sobre o que estamos falando com nossos filhos e alunos, em casa e na escola?

Como estamos educando esses indivíduos não apenas para se proteger, mas também para não violentar outras pessoas?

Já passou da hora de nos comprometermos com o diálogo, com a orientação clara a respeito de tudo o que pode ofender, magoar e ferir alguém.

Por isso, deixo aqui algumas formas de trabalhar temas difíceis, de acordo com cada faixa etária.

Ensinando empatia para crianças de 4 a 7 anos

Nessa faixa etária, é importante construir a base do respeito e da empatia de forma lúdica e acessível. As conversas devem girar em torno de ensinar a perceber os sentimentos dos outros e a importância de não machucar os colegas, física ou emocionalmente.

  • Use histórias e livros ilustrados: utilize contos e histórias para exemplificar como as ações podem afetar os outros, ajudando a criança a entender o que é ser gentil e o que significa magoar alguém.
  • Ensine sobre diversidade de forma simples: fale sobre como as pessoas são diferentes e como cada uma tem suas próprias qualidades e características, reforçando que ninguém deve ser maltratado por ser diferente.
  • Estimule a empatia e o diálogo: pergunte regularmente como se sentiram as interações com os colegas. Se alguma criança se magoou, incentive seu filho a refletir sobre como seria se fosse ele no lugar dessa criança.
  • Dê exemplos práticos: procure mostrar, no cotidiano, como pequenos gestos de gentileza e inclusão fazem a diferença. Elogie esses comportamentos quando eles acontecerem.

Como falar sobre bullying com crianças de 8 a 11 anos

À medida que crescem, as crianças começam a entender melhor o impacto das palavras e das ações. As conversas precisam ser mais diretas, sempre com espaço para ouvir as dúvidas que podem aparecer. Sem julgamentos ou repreensões, apenas escuta e troca.

  • Converse sobre bullying e suas consequências: explique o que é bullying e como ele pode prejudicar tanto quem sofre quanto quem o pratica. Encoraje a criança a não ser apenas espectadora quando vê alguém sendo maltratado.
  • Desenvolva o conceito de justiça: aborde a importância de defender o que é certo e de não permitir que injustiças passem despercebidas. Converse sobre como o silêncio também pode colaborar para que situações de bullying continuem.
  • Explore a empatia mais profundamente: faça perguntas como: “Como você se sentiria se fosse excluído de um grupo?” ou “O que você poderia fazer para ajudar alguém que está triste ou sofrendo rejeição?”
  • Apoie a criação de ambientes seguros: estimule as crianças a falarem com um adulto de confiança caso presenciem ou vivenciem situações de bullying. Reforce que não é “dedurar”, mas sim cuidar dos outros e de si mesmo.

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Franqueza com adolescentes de 12 a 14 anos

Nessa fase, os jovens começam a buscar identidade e pertencimento em grupos, o que pode amplificar os riscos de envolvimento com comportamentos nocivos. A comunicação aberta e honesta pode literalmente salvar vidas.

  • Fale sobre pressão dos pares e exclusão: ajude os adolescentes a refletirem sobre as consequências de seguir o grupo para evitar serem excluídos, e como esse comportamento pode prejudicar outros.
  • Converse sobre o impacto das palavras e das redes sociais: explique como as palavras podem ser armas, especialmente na internet. Fale sobre o impacto do cyberbullying e a importância de pensar antes de postar ou compartilhar algo.
  • Estabeleça um canal de diálogo: crie um ambiente em que seu filho ou aluno se sinta seguro para falar sobre suas dúvidas e medos sem julgamento. Ademais, reforce que ele pode sempre procurar um adulto se sentir que algo está errado.
  • Discuta o privilégio e a diversidade: use exemplos do cotidiano para explorar o que é privilégio, desigualdade e preconceito, sempre incentivando a solidariedade e o respeito às diferenças.

Incentive a responsabilidade com pessoas de 15 a 18 anos

Com os adolescentes mais velhos, a conversa pode e deve ser mais aprofundada, refletindo sobre questões sociais amplas e incentivando o pensamento crítico.

  • Conscientize sobre responsabilidade e consequências legais: fale sobre como o bullying pode resultar em consequências legais e como ações impensadas podem prejudicar tanto a vida da vítima quanto a do agressor.
  • Fale sobre preconceito e discriminação: aborde temas como racismo, homofobia, misoginia e classismo de forma clara. Além disso, incentive os adolescentes a reconhecerem e questionarem comportamentos preconceituosos no ambiente escolar e nas redes sociais.
  • Desenvolva a responsabilidade social: incentive o engajamento em projetos que promovam inclusão e diversidade na escola ou na comunidade. A ideia é que o adolescente perceba que tem o poder de fazer mudanças positivas ao seu redor.
  • Promova a autorreflexão: incentive os adolescentes a refletirem sobre suas próprias atitudes e sobre como lidar com situações de conflito. Pergunte se já foram, mesmo sem querer, agressores ou omissos, e como podem mudar isso.

Você pode ser a pessoa adulta de confiança

Essas são algumas dicas mais amplas que podem ajudar a iniciar uma rotina de diálogos importantes, mas há muitas outras formas de criar esse hábito.

Ninguém é melhor do que você para conhecer seu filho ou aluno, mas para ter uma clara visão do contexto em que ele está inserido, é preciso observar, acompanhar de perto. E sobretudo, buscar compreender o que leva uma criança ou adolescente a pensar ou se comportar de determinada forma.

Como as outras famílias, as das crianças que convivem com eles, falam sobre esses temas? Como acontece na sua família?

Ou seja, ainda que você não seja uma pessoa preconceituosa, por exemplo, o que os demais adultos falam sobre diversidade? Alguém faz “piadas” inapropriadas nos almoços de domingo? Como é a reação das demais pessoas? Em sala de aula, você aponta quando escuta um comentário inadequado ou finge que não escutou?

A parceria entre a escola e a família é absolutamente necessária, mas nem sempre possível. Por isso, é importante lembrar que se a criança ou o adolescente tiverem apenas uma pessoa de confiança, que os oriente e escute com honestidade e transparência, muitos problemas podem ser evitados.

Por que não sermos exatamente esses adultos?

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