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Pais e escolas devem combater o bullying juntos
Escolas devem ensinar tolerância para romper ciclos de violência e bullying (Foto: Kenny Eliason/Unsplash)
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Nos últimos meses, dois casos de bullying chamaram atenção nos noticiários. O primeiro foi o do menino Carlos Teixeira, de 13 anos, que teve duas paradas cardíacas após ter sofrido agressões de colegas de sala, em Praia Grande, litoral de São Paulo.

O segundo foi o caso de racismo envolvendo a filha de Samara Felippo, em que duas meninas que estudam na mesma escola escreveram ofensas racistas em seu caderno.

Algumas pessoas podem questionar: mas racismo é bullying? Sim, é totalmente válido afirmar que o racismo pode ser considerado uma forma de bullying.

Afinal, o que é bullying?

O bullying é geralmente definido como comportamento agressivo e repetido que é intencional e envolve um desequilíbrio de poder, onde o autor busca exercer controle sobre a vítima.

O racismo muitas vezes se encaixa nessa definição, especialmente quando é manifestado de forma repetida e deliberada, com o objetivo de prejudicar, intimidar ou marginalizar alguém com base em sua raça ou etnia.

Fato é que o racismo é crime e, a partir de 2024, o bullying também passou a ser. E o que muda com essa definição?

Por um lado, é importante que certas violências sejam configuradas como crimes, já que é uma das formas de conscientizar e tentar impedir que os casos se multipliquem.

No entanto, o que me preocupa é o papel da escola nesses casos, especificamente uma abstenção de responsabilidade, uma vez que lidar com esses casos, teoricamente, seria papel da justiça.

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O papel da escola no combate a violência

A função essencial da escola é (ou deveria ser) educar, instruir, informar. O que vi nos comentários após esses casos foi uma sede de vingança muito intensa por parte de pessoas, que muitas vezes, nunca demonstraram interesse em entender como funciona o ambiente escolar. “Tem que expulsar”, “Tem que prender”, “São marginais” foram alguns dos comentários que li e escutei depois da divulgação dos dois casos.

Eu entendo a raiva e a revolta dos pais e a mágoa das crianças, mas será que expulsar realmente é a melhor solução?

Se todas as escolas agirem dessa forma, o estudante autor apenas muda de ambiente, tem poucas oportunidades de reflexão e tende a repetir o erro.

Dessa forma, não cumprimos nossa função essencial e mantivemos uma pessoa que pode continuar acreditando que a violência cabe de alguma forma.

Vivemos em uma sociedade violenta. Muitas vezes, o autor de bullying está perpetuando o ciclo de violência que vive em casa.

A série “Os Outros”, da GloboPlay, ilustra perfeitamente essa situação. Recomendo a qualquer pessoa educadora ou cuidadora de crianças e adolescentes.

Dificilmente sabemos o que faz com que um estudante seja cruel, mas é muito importante pensarmos em formas mais eficazes do que a punição isolada, uma vez que ela resolve pouca coisa, na maioria das vezes.

Como lidar com o bullying

Nessa perspectiva, uma das ações preventivas mais efetivas é a parceria entre família e escola. Não podemos nos interessar pelas dinâmicas e questões que acontecem nesse ambiente somente quando há um problema.

É preciso fazer o exercício diário de fortalecer comportamentos positivos e incentivar a reflexão de alunos, famílias e educadores sobre o bullying.

Por isso, deixo algumas sugestões que podem contribuir para uma vida escolar mais saudável:

1. Converse diretamente, frequentemente e de forma transparente com seus filhos sobre bullying.

Não apenas sobre o assunto em si, mas sobre a sua base: respeito, tolerância, cuidado com o outro, autopreservação. Mostre exemplos, conte histórias reais, leia livros que tratem desses temas com crianças menores.

Além disso, é importante falar sobre a omissão e sobre a importância de comunicar à direção da escola ou a algum adulto de confiança quando presenciar casos de violência, em maior ou menor escala.

O estudante precisa saber que pode confiar nos adultos que o rodeiam, independentemente da idade.

2. Fique atento aos sinais de que as crianças estão em sofrimento.

Mudanças repentinas de humor, perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas – excluindo-se as mudanças naturais da adolescência -, apreensão na hora de ir à escola, explosões inesperadas de raiva ou choro, problemas de sono (insônia ou excesso de sono) e mudanças na alimentação (passar a comer demais ou de menos).

Normalmente, um desses sinais isolados não significa muito, mas se sentir que há algum tipo de sofrimento mental, procure a escola e até ajuda psicológica, se for o caso.

3. Mantenha contato frequente com a direção ou a coordenação escolar.

Procurar saber periodicamente sobre comportamentos e posturas dos nossos filhos é a melhor forma de evitar surpresas.

E não se limite a essas pessoas: ouvir as versões e percepções das crianças e adolescentes sobre o que acontece lá demonstra respeito e consideração da sua parte. Podemos acreditar que isso não faz diferença, mas eles percebem o acolhimento e colaboram mais.

4. Se seu filho foi alvo de bullying, tente se autorregular na hora de tratar o tema.

Evite procurar diretamente a família do autor, peça o auxílio e a mediação da escola. Nem sempre é possível compreender a situação em um dia, na maioria das vezes, é preciso algum tempo até que se chegue à atuação mais responsável e cuidadosa.

Vá até a escola, explique a situação, preserve o estudante, inclusive permitindo que ele se afaste por alguns dias até que haja uma tomada de decisões. Colabore com os educadores, escute com atenção quais são as sugestões de atuação e cobre para que elas sejam cumpridas.

5. Se seu filho foi acusado de cometer bullying, evite o impulso de defendê-lo a qualquer custo.

O estudante não é um monstro violento por ter cometido bullying, mas é preciso entender o que está gerando esse comportamento e corrigi-lo. Dizer que a punição não resolve não significa dizer que não deve haver consequências.

Estude, junto com a escola, formas de conscientizar seu filho e de evitar que novos episódios aconteçam. Acima de tudo, não leve ainda mais violência para a vida do seu filho.

Não agrida ou humilhe a criança ou adolescente como uma forma de “sentir na pele” o que ele fez. Converse, convide-o a refletir sobre o que houve e a propor formas de amenizar o sofrimento do alvo.

6. Antes de matricular seu filho, faça perguntas objetivas sobre como a escola lida com casos de bullying.

Questione se há algum trabalho bem estruturado nesse sentido, como um bom programa de educação socioemocional e um protocolo claro para essas situações.

Entenda se os professores recebem formação para observar, identificar e lidar com casos de violência em sala de aula.

Todos devem participar do combate ao bullying

Ainda que falássemos de bullying todos os dias na escola, nenhuma delas estaria blindada de vivenciar o problema. Recebemos estudantes com personalidades, experiências, famílias e trajetórias diferentes. Eles passam cinco, seis ou mais horas diárias naquele espaço justamente no momento em que estão aprendendo a conviver em sociedade.

Os conflitos são inevitáveis, mas a violência precisa ser inadmissível. Há alguns anos a palavra “bullying” nem existia, mas o problema – que é histórico e cultural – sempre esteve presente no ambiente escolar.

A mudança exige tempo, investimento em formação e conscientização. Colabore e contribua para que, de fato, tenhamos uma sociedade menos violenta nos próximos anos.

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