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Como acolher crianças que sofrem com bullying?
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Apesar de ser um tema bastante discutido e difundido no século XXI, o bullying ainda é muito exercido, principalmente nas escolas e na internet. Na maior parte dos casos, ele é praticado durante a infância e a adolescência. Desse modo, as crianças e os jovens que se tornam vítimas desse tipo de agressão, precisam de muita orientação e acolhimento para evitar traumas psicológicos no futuro. Aprenda a identificar e a lidar com o bullying infantil

Diferenças entre bullying e cyberbullying

O bullying pode ser caracterizado como uma ação de violência repetida que ocorre em ambiente físico, praticada por um agressor (bully) ou um grupo deles, com intenção de causar mal, diminuir, magoar, ridicularizar a uma ou mais vítimas. E essa prática pode se manifestar de inúmeras formas. Algumas delas são:

  • Intimidação;
  • Perseguição; 
  • Agressão;
  • Violência;
  • Opressão;
  • Ameaça;
  • Provocação;
  • Implicância; 
  • Humilhação; 
  • Coação;
  • Zombaria.

Já o cyberbullying é uma forma virtual do Bullying que se caracteriza por usar a internet, principalmente as redes sociais, para a agressão. 

Apesar do impacto emocional causado pelo bullying virtual e presencial serem semelhantes, existem algumas diferenças entre eles. 

A pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Anna Dominguez Bohn, pontua 3 diferenças entre o bullying e o cyberbullying: 

  1.  O cyberbullying pode ocorrer a qualquer momento e em maior intensidade, dificultando a proteção da criança que sofre e a percepção dos pais e cuidadores, já que pode ocorrer em silêncio 
  2. Dificuldade em identificar o agressor nas plataformas cibernéticas. A forma anônima deste tipo de violência é comum, dificultando a identificação, responsabilização e combate à violência. 
  3. Rápida divulgação. A internet facilita muito a dispersão rápida destas formas de violência. É o chamado “viralizou”. Dessa forma, é comum o cyberbullying tomar grandes proporções, intensificando e escalonando sentimentos ruins e perigosos por parte de quem sofre.

Não à toa, uma em cada seis crianças entre 11 e 15 anos afirma que foi vítima de cyberbullying em 2022, conforme apontou um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

“O relatório é um alerta que nos convida a lutar contra o assédio e a violência, onde e quando ocorrerem”, ressaltou o diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge.

Leia mais: A violência disfarçada de brincadeiras

Como identificar uma vítima?

Geralmente, as crianças e os adolescentes que sofrem bullying se sentem humilhados, ridicularizados e até coagidos. Isso faz com que elas tenham vergonha e até medo de se abrir para pedir ajuda.

Mas, é possível identificar o que está acontecendo, já que na maioria das vezes, os comportamentos se modificam. 

Segundo os especialistas, os pais ou tutores devem ficar atentos se a criança ou o adolescente começar a dar sinais, como, por exemplo: 

  • Insônia;
  • Irritação;
  • Perda de apetite;
  • Desânimo e desmotivação;
  • Choro frequente; 
  • Isolamento social;
  • Falta de vontade ou medo de ir à escola;
  • Queda de rendimento escolar;
  • Alteração de humor.

Caso você note alguns desses sinais no comportamento do seu filho ou de qualquer outra criança, existem perguntas que, segundo a também pediatra da SBP, Anna Dominguez Bohn, são eficazes para deixar a criança confortável para se abrir. 

“Você pode iniciar com perguntas simples e abertas: ‘como está a escola?’, ‘o que você acha das outras crianças da sua sala?’, ‘tem alguém que sofre bullying ou que é incomodada com frequência?’, ‘como é o recreio?’, “alguém escreve coisas ‘desagradáveis nas redes sociais?’”. 

Consequências do bullying

A médio e a longo prazo, o bullying pode trazer consequências irreversíveis, gerando  traumas até para a vida adulta

Segundo o pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Paulo Telles, as crianças que sofrem bullying podem apresentar problemas físicos por causa da somatização, como dores de cabeça, de barriga ou aftas na boca, e mentais, acarretando ansiedade, depressão e baixa autoestima. 

Além disso, esse tipo de violência ainda desencadeia problemas de socialização tanto na infância quanto na vida adulta. 

“As vítimas podem ter dificuldade em fazer amigos, confiar nas pessoas e desenvolver relacionamentos saudáveis devido à falta de confiança e ao medo de serem feridas novamente”, afirma Gabriela Borba, psicóloga clínica especialista em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC). 

E não para por aí. As consequências do bullying podem ser até mais sérias. De acordo com Paulo, esse tipo de violência é, hoje, um dos maiores causadores de estresse, transtorno de ansiedade, síndrome do pânico, automutilação e até suicídio infantil. 

O médico alerta que, em menos de uma década, o número de crianças e adolescentes hospitalizadas pela tentativa de suicídio dobrou em menos de uma década. 

As ações decorrentes do bullying podem, ainda, levar à alta incidência de violência e ataques nas escolas. Por esse motivo, é importante saber agir e orientar crianças e adolescentes que passam por esse tipo de situação. 

Saiba mais: Saúde mental dos adolescentes: 11 sinais para ligar o alerta amarelo

Como acolher crianças que sofrem bullying?

Primeiramente, uma criança ou um adolescente que sofre bullying precisa de amor, atenção e cuidado. Portanto, os pais devem estar sempre ao lado dos jovens, estabelecendo um canal aberto de comunicação, para que eles se sintam confortáveis para falar tudo o que quiserem. 

O ponto principal é fazer a vítima não se sentir de forma alguma culpada e deixar claro que o problema não está nela, mas sim no agressor que também deve estar passando por problemas e, por isso, faz o bullying para se sentir mais poderoso, buscando minimizar suas fraquezas e inseguranças”, orienta o pediatra. 

A doutora Ana também chama a atenção para a importância das famílias falarem sobre o assunto, já que a abertura para o diálogo é um importante fator de proteção. 

“Ouvir atentamente a criança agredida é essencial, pois estudos mostram que só de falar sobre o tema e se sentir acolhida, é uma grande ajuda em como lidar com o ocorrido”, alerta a pediatra. 

Além disso, reconhecer e validar os sentimentos da criança, mostrando empatia e compreensão, também é uma ferramenta, conforme orienta a psicóloga. 

“Demonstrar apoio emocional e reafirmar o valor da criança ou adolescente e considerar buscar orientação de um psicólogo ou terapeuta para ajudar a criança a lidar com as emoções relacionadas ao bullying também é uma boa forma de acolhimento”, diz Gabriela. 

Ensinamento para lidar sem revidar

Ensinar as crianças e adolescentes a lidar com bullying não é uma tarefa fácil. E as orientações precisam ser passadas de forma incisiva e claro, de modo que não incentivem nenhum tipo de revanche. 

Para isso, os pais ou tutores e a escola precisam estar à frente, preparando os jovens para evitar que aconteça um episódio ainda mais violento. 

A Academia Americana de Pediatria (APP), se baseia em três pontos para orientar como a vítima deve agir diante do agressor: 

  1. Dizer que não gostou de forma firme e clara;
  2. Afastar-se do agressor caminhando para longe com segurança; 
  3. Buscar, imediatamente, um adulto, tutor, ou responsável. 

Sendo assim, os especialistas alertam que é de suma importância ajudar as crianças a desenvolverem habilidades de comunicação e expressão dos sentimentos de maneira clara e assertiva, bem como praticar o autocontrole para que elas entendam como controlar suas emoções e a responder de forma calma e racional diante do bullying, ao invés de reagir impulsivamente. Além de incentivá-las a buscar a ajuda de um adulto de confiança ou de um profissional da escola.  

Ações de combate ao bullying

Mesmo com a sanção de uma lei que criminaliza o bullying e o cyberbullying, ainda é preciso avançar e investir em ferramentas para o combate dessa prática no Brasil, pois ainda existe pouco controle e punição. 

De acordo com Paulo Telles, é fundamental que as escolas tenham projetos e programas anti-bullying e que os alunos sejam sempre informados para que se sintam protegidos e seguros ao realizar uma denúncia. Desse modo, eles se sentirão confortáveis para falar.

Além disso, o pediatra ainda alerta para a necessidade das escolas aproximarem os pais dos alunos com o tema. 

“As escolas devem cada vez mais aproximar as famílias a suas atividades tema. É importante que os pais dominem o assunto, entendendo seu significado e consequências, na prática. Dessa forma, além de conseguir identificar possíveis comportamentos em seus filhos com mais facilidades, os pais passam a fortalecer o assunto que a escola está trabalhando”, afirma Paulo. 

Já Gabriela chama a atenção para recursos de apoio nas escolas, como conselheiros, psicólogos e programas de apoio à saúde mental. 

Por fim, uma das ferramentas mais importantes do combate ao bullying é a criação. As crianças e adolescentes precisam ser orientados a compreenderem o poder da empatia, da comunicação aberta e, sobretudo, ter um modelo positivo no dia a dia. 

“Os pais devem tratar os filhos e as pessoas de maneira respeitosa e gentil. Uma vez que você trata seus filhos com amor e carinho e ensina o quão importante é tratar os outros da mesma forma, dificilmente irá gerar um agressor (bully), que terá atitudes violentas de cunho físico ou psicológico com suas vítimas”, finaliza o pediatra. 

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