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A responsabilidade dos homens no amadurecimento dos meninos
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Há um provérbio africano que diz: “Se nós não iniciarmos os meninos na tribo, eles vão colocar fogo no vilarejo”.

Li essa frase alguns anos atrás, logo depois de iniciar meus estudos sobre masculinidades. E acredito que ela diz muito sobre o que acontece no mundo hoje e sobre as mudanças que precisamos realizar.

Recentemente, iniciamos no Brotherhood um trabalho com jovens de repúblicas universitárias do interior de São Paulo. Foi uma grata surpresa termos sido procurados por estes jovens, que pediram apoio para compreenderem melhor como lidar com situações de abuso que haviam acontecido. Eles estavam começando a tomar consciência da cultura de masculinidade tóxica que estavam replicando inconscientemente.

De menino a homem

Quando é que um menino se torna um homem? Quando acontece essa passagem? Já escrevemos anteriormente neste espaço sobre como a ausência de ritos de passagem contribui para a manutenção de uma psicologia infantilizada nos homens.

Na nossa busca pela identificação destes ritos, encontramos um momento bem propício a um trabalho desse tipo.

O momento em que jovens entram na universidade é bem importante na formação do homem que sairá deste processo. É neste contexto que muitos dos comportamentos começam a se cristalizar. A entrada na universidade já os coloca em contato com o bullying que vem com o trote, a hierarquia dos veteranos sobre os calouros, o estímulo ao consumo exagerado de álcool, as festas e a competição por quem “fica com mais garotas”. Tudo isso com pouca ou nenhuma abertura para vulnerabilidade e zero espaço para conversas sobre sexualidade.

Quando iniciamos as conversas com estes jovens, pude perceber como estávamos ali ocupando um espaço que me faltou naquele momento em minha vida.

Como eu gostaria de poder ter uma referência de homem que me ajudasse a compreender os meus desafios pessoais, que me desse permissão para me vulnerabilizar e que me orientasse sobre o que seria correto ou não de se fazer com uma menina.

Fiquei muito feliz em oferecer aquela escuta e criar o espaço para que conversas vulneráveis e honestas estivessem acontecendo com eles.

Mudanças nos jovens homens

Bastaram poucos encontros para perceber uma mudança sensível na forma como eles estavam enxergando o mundo e a mudança que aconteceu nas suas relações. Mais que isso, vi nascer uma consciência sobre justiça de gênero e responsabilidade social.

Por isso, acredito que essa é uma das nossas responsabilidades. Ajudar os jovens a entrarem na vida adulta com mais consciência sobre a responsabilidade de ser um homem.

Este é um bom momento para que as mudanças culturais possam acontecer, antes do homem cristalizar comportamentos que levarão mais tempo para poderem ser transformados. E assim, aos poucos, a cada pequeno grupo mudando, podemos contribuir para uma mudança de cultura que já está em curso.

P.S.: Agradecimento especial ao pessoal das Repúblicas Doze Doses e Loks da USP Ribeirão Preto pela dedicação e comprometimento.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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