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Como aprender a lidar com o medo e a ansiedade?
Les Anderson | Unsplash
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Aprender a descobrir as causas do medo e da ansiedade é de fundamental importância. Olhar para esses sentimentos faz bem para seu autocuidado e pode ser mais simples do que você imagina.

Fugir de si mesmo nunca será uma boa escolha. Quando estamos desconectados dos nossos sentimentos, muitas coisas podem acontecer. Uma delas é sermos levados pela ansiedade e pelo medo.

Por não damos a devida atenção a eles, permanecem com a gente por tempo indeterminado. E, como uma água parada que vai dar dengue, podemos acumular “bichinhos” dentro do psiquismo.

Por isso, é parte da autorresponsabilidade, estarmos em contato, sim, com o mundo externo, mas sem nos esquecer do nosso interior. E isso não precisa ser feito com rigidez e obsessão e nem mesmo estar em estado meditativo. Basta colocar no dia a dia investigações, indagações, elaborações e reconhecimento daquilo que te afeta, que te toca, que traz emoções mais fortes.

Cuidado terapêutico diário

Um exemplo desse olhar para dentro:

“Me sinto ansiosa.”

  • Ok. Quando começou?

“Ontem.”

  • Em qual momento?

“Quando estava no trabalho.”

  • O que acontecia lá?

“Ouvia a conversa de dois colegas que falavam sobre o término de um relacionamento e senti algo estranho.”

  • O que era esse algo estranho? Tente dar palavras.

“Não sei, um aperto no peito.”

  • Ok, mas qual sentimento essa conversa te causou?

“Medo e culpa”

  • Por que, isso te lembra algo?

“Acho que lembrei do meu ex-namorado do quanto fui egoísta na nossa separação e hoje fico com um sentimento de que vou ser punida por ter feito mal a ele…”

Esse exemplo de autoelaboração tem, em algumas situações, o poder de resolver por completo o mal-estar e, em outras, pode simplesmente jogar luz naquilo que estava perdido em nós. E isso é muita coisa quando falamos do universo psíquico e emocional.

Uma das coisas que mais traz alívio é dar nome, legitimar uma dor, um sofrimento, uma sensação.

Entre nos detalhes do seu viver

Ansiedade e medo são dois sintomas genéricos e estão na superfície do que sentimos. É importante esmiuçar, mergulhar nas águas profundas para descobrir suas causas.

Muitas pessoas se dizem ansiosas e com medo antes de alguns encontros. Por que será? Pergunte-se: “por que estou ansioso? Tenho medo do quê?”. Talvez seja porque você vai encontrar alguém que te interessa e o fato de não saber se ela vai te dar bola ou não causa ansiedade.

Nesse caso, só de você se confrontar com o seu desejo, já traz uma certa tranquilidade. A partir daí, você pode fazer algumas elaborações: “tá bem, eu curto essa pessoa, vou chegar lá e dar um jeito de seduzi-la, mas tudo tem limite e eu não sei se vou conseguir, mas vou fazer o meu melhor”.

LEIA MAIS: O equilíbrio entre o controle e a entrega

Perceba que você se apropria do seu desejo, assume o que dá para fazer e o que não dá. Com isso, aquele estado de ser levado, como se você não tivesse na condução da sua própria vida, já diminui.

Não reprima a raiva

Falar sobre esse assunto é abrir espaço para falar de dois aspectos que, na maioria das vezes, estão por detrás da ansiedade e do medo: a raiva e a repressão da sexualidade.

De uma forma geral, por conta da moral religiosa que recebemos em nossa educação, a raiva é vista como algo ruim, um sentimento do mau, que não podemos sentir e que, se sentimos, temos que tirar ele da gente o quanto antes ou fingir que ele não existe.

Esse tipo de crença não é legal. A raiva é um sentimento humano, faz parte da vida e durante o viver vamos senti-la centenas de vezes. Identificá-la, senti-la e, depois, saber o que fazer com ela é a melhor forma de transformar a raiva em algo novo.

Mais um exemplo: seu pai te diz algo que te deixa furioso, mas você, rapidamente, dá um jeito de esquecer o assunto. Tudo fica bem por um tempo até que você começa a se sentir agitado, com muitos diálogos mentais e insônia.

Volte no tempo e, detalhadamente, vá olhando o que viveu nos últimos dias, com quem esteve, onde esteve, o que falou, o que ouviu, como foi tratado… Você vai chegar na raiva que, naquele momento, não recebeu espaço suficiente para ser legitimada. Mas agora você a viu. Um mundo de coisas vai se abrir nesse momento, olhe para tudo. Depois, decida o que fazer. Falar com o seu pai pode ser uma saída. Outra pode ser assumir o compromisso consigo mesmo de: “desta vez vai passar, mas da próxima eu vou me posicionar e vou responder à altura”. Enfim, descubra uma ação que considera coerente e siga adiante.

Ame a sua sexualidade

Para a sexualidade vale a mesma autoinvestigação. Alguém te desperta tesão, mas você não quer assumir porque é casada, porque é o crush do seu amigo ou porque não é da mesma classe social e econômica que a sua… Podem ser muitos os motivos da repressão sexual, descubra os seus.

Aproprie-se do seu desejo sexual e decida o que vai fazer com ele. Se não quer dar em cima do crush da sua amiga porque a amizade de vocês vale mais do que isso, olhe para esse tesão já se despedindo dele para abrir espaço para outra pessoa. Faça o mesmo com outras possibilidades de encontrar uma solução para essa questão.

Tudo isso faz com que aquela água parada se mexa. E, ao se mexer, o seu psiquismo respira, ganha movimentos.

O medo e a ansiedade, olhados com empatia e curiosidade, se transformam em outros sentimentos ou se dissolvem. Essa a potência do seu encontro com o seu mundo interno.

Confira todos os textos da coluna de Keila Bis em Vida Simples.


KEILA BIS é psicanalista e jornalista ([email protected]) que adora compartilhar segredos do autoconhecimento para um viver sem neuras. Descobrir as causas da ansiedade e do medo é um deles.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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