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Aprenda a lidar com o medo de tentar coisas novas
Dmitry Ratushny | Unsplash
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Este texto é sobre aquele passo que você quer dar, mas que te parece arriscado demais.

Sobre este assunto, gostaria de compartilhar um trecho da biografia de Marsha Linehan. Para te dar um contexto, Marsha é uma das psicólogas contemporâneas mais respeitadas. E ela deu um passo arriscadíssimo, dedicando a sua carreira e a sua vida para criar uma terapia que pudesse tratar efetivamente pacientes altamente suicidas.

Fazer isto é arriscado porque estes pacientes respondiam pouco à psicoterapia. Mas, mais do que isso, Marsha tem um currículo pouco usual para a posição acadêmica que pretendia – afinal, ela foi uma destas pacientes suicidas e difíceis. Internada por dois anos em um hospital psiquiátrico, Marsha foi liberada quando os médicos já não sabiam mais como ajudá-la. Em 1963, ela escreveu para seu psiquiatra:

“Caro Dr. O’Brien, do que tenho medo? Tenho medo de nunca me casar, então fico aqui para me dar um bom motivo. Tenho medo de ser socialmente inadequada, então quebro janelas para me dar uma boa razão. Tenho medo de que ser magra não resolva meus problemas, e para evitar descobrir, fico gorda. Tenho medo de que minha mãe não me ame mesmo se eu for magra, então, continuo gorda.”

Claro que agir contra os próprios interesses, ou deixar de persegui-los, não foi uma decisão consciente de Marsha. Claro que um quadro complexo não pode ser reduzido a um único elemento. Mesmo assim, a carta expressa com clareza uma das grandes razões pela qual permanecemos presos na realidade que já conhecemos.

O desconforto da zona de conforto

Costumamos estacionar em lugares que chamamos de zona de conforto. Mas não porque a realidade destes lugares seja, de fato, agradável. Mas, sim, porque preferimos os desconfortos da realidade que conhecemos a arriscar a mudança.

Assim como Marsha, temos medo de dar o nosso melhor e falhar mesmo assim. Temos medo de descobrir que o nosso melhor não é bom o suficiente. Portanto, permanecemos imóveis, evitamos o desconhecido, não queremos chamar atenção.

Olhamos para a vida daqueles que admiramos como se fossem parapentes plainando em céu azul. Mas, por mais que desejemos voar nas alturas, não nos sentimos seguros o suficiente para saltar.

Comentando sobre o assunto em um de seus TED Talks, Brené Brown explicou que os pensamentos que nos paralisam são de dois tipos. “Não sou bom o suficiente” é o pensamento que te mantém sentado no topo da montanha, sem coragem para saltar. Mas quando você decide alçar o seu próprio voo, e finalmente dá o primeiro passo, “quem você pensa que você é?” é o pensamento que te faz sentar de novo.

Sentado, você pode desistir e concluir que o seu sonho não é para você. Ou, então, você pode decidir se preparar melhor. Isto normalmente significa se inscrever em outro curso, mais uma pós, outra dieta, aumentar as reservas, elaborar outro plano. Afinal de contas, você acredita que quando realmente estiver bem-preparado, vai conseguir superar o medo e, então, saltar.

Mas, o tempo passa e você percebe que, por mais que você se prepare, o medo nunca vai embora. Quanto mais você aprende, mais entende que há muito que ainda não sabe. Você nunca será perfeito e seu plano nunca será infalível.

PARA SAIR DA ZONA DE CONFORTO:

– Pequenos hábitos na rotina

O crítico interno de cada um

Eu sei que tem uma voz que te diz que as vulnerabilidades do seu plano e as suas imperfeições são provas de que o seu melhor ainda não é bom o suficiente. Mas, veja, se pensarmos em nossas vozes internas como personagens, mora em cada um de nós um crítico rigoroso e completamente iludido sobre a natureza humana. Este crítico se recusa a entender que a realidade é imperfeita mesmo, e que as quedas existem em todas as trajetórias. E é por isso que ele costuma idealizar os lugares que você não está.

O crítico fantasia que as pessoas que plainam seus parapentes são mais talentosas do que você.  Mais do que isso, ele supõe que estas pessoas não caem, não esfolam os joelhos, não são arremessadas pelo vento em direções indesejadas de tempos em tempos. Então ele te cobra mais preparo, te envergonha por suas vulnerabilidades e te cobra uma receita para o voo sem risco de queda. E esta é a riqueza de ter acesso à história das pessoas que plainam. Por exemplo, através de suas biografias, descobrimos que estas pessoas também sentem medo, e falham miseravelmente. Estas histórias nos dão pistas de que a receita mágica não existe.

E, se à esta altura você está odiando o seu crítico, saiba que assassiná-lo não é possível. O autojulgamento faz parte da nossa natureza. Na verdade, matar o crítico não seria desejável. Para fins evolutivos, é importante julgar o próprio comportamento e adequar-se de maneira proativa.

O medo como parâmetro

É igualmente importante perceber quando estamos imobilizados por medo dos riscos naturais de uma trajetória. É importante perceber que, se os seres da nossa espécie são programados para evoluir através da queda, não faz o menor sentido sentir-se inferior por cair.

Pelo menos em um primeiro momento, o medo de cair nos paralisa mesmo. Na verdade, esta é a função do medo.

Pense bem: se você sente medo de entrar no carro de um motorista que bebeu demais, é o medo que salva a sua vida. Dada a embriaguez do cidadão, sentir medo é apropriado.

Mas, esta é a questão. Nem sempre o medo que nos paralisa é coerente com os fatos. Ou seja, sentir medo não significa que o próximo passo seja ruim ou deva ser evitado.

MAIS SOBRE O ASSUNTO:

– Saiba lidar com as incertezas

Duas escolhas possíveis

Quando você está paramentado no topo da montanha, desejando voar, você tem duas escolhas.

A primeira delas é o salto. Se você saltar, certamente vai se esfolar e vai ser arremessado em direções indesejadas de tempos em tempos. Por outro lado, saltando você também vai aperfeiçoar a sua técnica, terá a chance de fazer bons voos, plainar e aproveitar a vista.

A segunda escolha é permanecer estacionado na zona de conforto. Mas, saiba que parado você nunca colherá os frutos que deseja. Ou seja, por mais que este lugar te pareça seguro, a verdade é que seus pés estão agarrados a um solo em erosão.

Ao ficar parado, você está caindo também, embora lentamente e sem a possibilidade de voar.

Leia todos os textos da coluna de Adriana Drulla em Vida Simples

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