COMPARTILHE
A onda das “bets”: o perigo por trás dos aplicativos de aposta
Paul Hanaoka
Siga-nos no Seguir no Google News

Ganhar nos jogos de azar? Se fosse fácil, seriam chamados de “jogos de sorte”. A probabilidade de perder é esmagadoramente maior, mas a invasão de novas modalidades de apostas online, na onda das “bets” como “jogo do tigrinho” e “jogo do foguetinho”, tem sido avassaladora.

Os jogos de apostas online, uma febre moderna de diversão digital, proporcionam um universo envolvente que transcende a tela. No entanto, essa imersão virtual também traz consigo desafios que podem comprometer outras áreas da nossa vida.

Num mundo onde a conectividade é a norma, a dependência de jogos online emerge como um ponto crítico. O fácil acesso e a complexidade desses jogos podem prender os jogadores em ciclos viciantes, substituindo o calor das interações cara a cara por um isolamento digital prejudicial.

Esses jogos, envolvidos em marketing multimilionário com celebridades e megainfluenciadores, vão além do entretenimento. Relatos alarmantes destacam pessoas perdendo todo o seu salário, inclusive vendendo bens para apostar.

Os jogos de azar, embora não sejam novidade, atingem uma escala sem precedentes com essas novas plataformas, incluindo crianças e jovens. O desafio não é apenas financeiro, mas uma batalha interna entre prazer, adrenalina e o desejo de vitória.

Como o cérebro se comporta durante as partidas

A complexidade do cérebro humano durante as apostas é fascinante. Quando perdemos, a tentação de mudar a sorte ativa partes específicas do cérebro, criando um ciclo vicioso de apego às apostas. Estudos da psicologia comportamental mostram que a redução no atraso entre risco e recompensa, característicos das apostas de jogos ao vivo, provoca aumento na velocidade e frequência do apostar.

Além das perdas financeiras, o impacto negativo atinge qualidade de vida, produtividade, relacionamentos e saúde mental e física. Ao contrário de vícios mais evidentes, o jogo silencioso se torna uma batalha devastadora.

À medida que mergulhamos nesse reino virtual, os riscos à saúde mental tornam-se evidentes. A pressão para alcançar metas fictícias, a constante competição e a exposição a conteúdos potencialmente prejudiciais contribuem para a ansiedade e a depressão.

Os impactos físicos também se fazem sentir. O sedentarismo resultante de longas sessões de jogo pode desencadear uma série de problemas de saúde, desde dores musculares até o fantasma da obesidade. O corpo, muitas vezes negligenciado nesse universo digital, paga o preço dessa imersão prolongada.

De acordo com a OMS, em 2016, as perdas globais dos apostadores atingiram US$ 400 bilhões.

Conheça a armadilha psicológica: a Falácia do Jogador

Também conhecida como “Falácia de Monte Carlo”, essa ilusão se baseia na distorção de padrões e na aversão à aleatoriedade. Ancorada em vieses cognitivos como representatividade e aversão à incerteza, essa crença errônea influencia eventos futuros independentes.

A falácia do jogador, um fenômeno psicológico explorado por Tversky e Kahneman, destaca como eventos passados erroneamente influenciam escolhas. Por exemplo, uma pessoa pode achar que tem mais chances de ganhar no futuro porque já perdeu muitas vezes ou, por estar ganhando, acha que continuará com a mesma chance nas próximas rodadas. Sem se basear na probabilidade realista, essa falsa percepção transcende os jogos de azar, influenciando decisões financeiras e padrões cognitivos.

Quando o uso de aplicativos de aposta é preocupante?

Fique atento se você ou alguém conhecido apresenta alguns padrões comportamentais específicos. Eles podem ser um indicativo de desequilíbrio. A seguir, sete indícios de um possível quadro de jogo patológico:

(1) a atividade de jogo ocupa significativa parte dos pensamentos da pessoa,

(2) há uma constante necessidade de aumentar apostas para obter a mesma satisfação,

(3) alterações de humor surgem ao tentar reduzir o jogo,

(4) o jogo é utilizado como escape emocional,

(5) há uma frequente volta ao jogo na tentativa de recuperar perdas,

(6) há mentiras para encobrir o envolvimento e, ainda,

(7) endividamento ou envolvimento em atos ilegais em busca de mais jogo.

LEIA TAMBÉM

Vício em redes sociais: como usar o seu celular de maneira inteligente

Como escapar dos problemas com jogos online em 4 etapas

  1. Autoconsciência: Reconheça o impacto negativo dos jogos em sua vida.
  2. Estabeleça limites: Se não consegue deixar de jogar, ao menos defina limites claros para gastos e tempo dedicado aos jogos.
  3. Busque apoio: Compartilhe seus desafios com amigos, familiares ou profissionais.
  4. Desconexão gradual: Reduza gradualmente o envolvimento com jogos online, substituindo por atividades saudáveis.

Os jogos de apostas online podem parecer inofensivos, principalmente por serem embalados de formas coloridas, divertidas e com apoio de grandes celebridades.

Mas, por trás dessa aparência colorida inocente das “bets”, há uma grande nuvem cinza de problemas graves: alto endividamento, perda de patrimônio, declínio na saúde mental e física, problemas nos relacionamentos e no trabalho.

Crianças e jovens em risco com a onda das “bets”

Além disso, essa epidemia dos jogos está chegando intensamente entre as crianças e jovens, o que agrava ainda mais a situação. Oferecem um vasto mundo de entretenimento, mas não sem seus próprios desafios. A supervisão parental cuidadosa e educação sobre o uso responsável da tecnologia são passos cruciais para evitar que a diversão digital se transforme em uma jornada arriscada para a saúde e o bem-estar.

É essencial entender o mecanismo de recompensa por trás das apostas online. Esse é o primeiro passo para a efetiva mudança. A responsabilidade para mudarmos esse cenário é de todos nós.

LEIA TAMBÉM

Nomofobia: entenda o medo de ficar sem celular


Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião da Vida Simples

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário