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    Educação para esperançar
    Fotos: arquivo pessoal/divulgação
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    É pela educação que crianças e jovens constroem caminhos para um futuro mais digno, próspero, feliz. Apesar de sabermos disso, será que mantemos o nosso esperançar em relação a isso, sabendo das tantas desigualdades que temos em nosso país?

    Para quando bater uma descrença ou sensação de impotência diante de cenários desafiadores, os inúmeros professores que trabalham com garra e muito amor em todos os cantos do Brasil podem nos ajudar. Sim, a educação está viva!

    Certa vez, o educador Paulo Freire comentou sobre um dos verbos mais lindos da língua portuguesa. Ele disse:

    “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, ir atrás, construir, é não desistir! Esperançar é levar adiante, juntar-se com outros para fazer de outro modo”.

    Quem esperança à moda Freire transforma desafios em mobilização que multiplica. Quer ver só?

    Educadores que são nota 10

    Há 26 anos, o Prêmio Educador Nota 10, maior e mais importante premiação de educação básica no Brasil, realizado pelo Instituto SOMOS, destaca projetos transformadores e de impacto em suas comunidades. Além disso, celebra práticas que criam um vínculo importante entre alunos e professores.

    Em 2024, nove projetos foram selecionados entre 2.700 ótimas iniciativas com alto potencial de inspirar outros educadores brasileiros – e nós também.

    “Ao longo dos anos, observamos a mudança que o prêmio traz para a vida do professor que o ganha, pois a visibilidade da premiação transforma não só a sala de aula, mas outras esferas”, argumenta Guilherme Mélega, presidente do Instituto SOMOS, comentando sobre a educadora vencedora de 2023. Ela se tornou vereadora em Canaã dos Carajás, no Pará, um ano depois, sendo a única mulher a se eleger na cidade.

    Para inspirar você, apresentamos os três projetos que levaram o primeiro lugar em cada categoria da premiação: respectivamente, Inovação e Tecnologia, Sustentabilidade e Direitos Humanos.

    Em um momento em que as telas e as redes sociais andam roubando a cena de muitas infâncias, o professor Helder Guastti, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Nolasco, em João Neiva, Espírito Santo, não perdeu de vista o poder do objeto livro.

    À frente das 21 crianças da turma do 5º ano A, ele conduziu por cinco meses o projeto “Como diz o outro…”, de 2023.

    Inicialmente, a ideia era simples: resgatar contos populares com os alunos e culminar a pesquisa coletiva em um livro. “Mas elas foram se dedicando tanto, incluindo adivinhas, quadrinhas, parlendas etc. Até as ilustrações, que seriam feitas à mão pelos estudantes, ganharam novo formato depois de uma conversa com um aluno incomodado com o mau uso da inteligência artificial, que queria usá-la de um jeito bom, criando as imagens do futuro livro”, conta o professor.

    Dessa mistura entre tradição oral e IA nasceu um deslumbramento das crianças pelo trabalho realizado.

    “Envolvemos as famílias e a comunidade local, e as crianças se entenderam não apenas como consumidoras, mas também como produtoras de cultura”, comenta. O encerramento do projeto teve sarau literário com entrega de um exemplar do livro produzido para cada aluno.

    “Foi uma choradeira, muita emoção. E, um ano depois, quando o projeto foi premiado [e o professor ainda recebeu o troféu de Educador do Ano], os alunos comemoraram como se fosse uma final de Copa do Mundo”, ele lembra, emocionado.

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    Robótica e (muita) educação ambiental

    Em Santos, litoral paulista, o professor José Simões de Andrade, da Unidade Municipal de Educação Professor Avelino da Paz Vieira, sabe que criança gosta mesmo é de pôr a mão na massa.

    “Elas preferem trabalhar com projeto e se envolvem muito mais”, diz. Com isso em mente, ele conduziu 64 estudantes do 7º ano por um semestre inteiro no projeto “Praia limpa, futuro sustentável: Enfrentando os desafios da poluição causada pelo homem no ecossistema de praia”.

    Na primeira etapa, os alunos pesquisaram sobre o ecossistema de praia e as ações humanas no meio ambiente. Depois, entrevistaram pessoas da escola, parentes e amigos para entender a percepção que eles tinham dessa interferência humana. E, então, produziram maquetes para expressar o que descobriram e mostrar à comunidade.

    Os estudantes representaram artisticamente problemas como poluição da água e da areia, lixo, plástico, animais mortos, dentre outros. “Na sequência, selecionamos materiais reaproveitáveis como garrafas PET e canos de PVC para produzir pegadores de lixo com princípios de robótica, que usamos em uma ação de coleta de lixo na praia e estudo do meio”, explica o professor.

    Por fim, as crianças construíram jogos usando parte do lixo coletado. “O mais incrível, além da sensibilização sobre a importância do manejo sustentável das praias, foi ver cada criança descobrindo talentos diversos com as diferentes atividades que realizamos, umas mais artísticas, outras de raciocínio lógico-matemático ou de comunicação”, relembra o educador, que também foi premiado como Educador Santista no mesmo ano, pela prefeitura.

    Janela para o futuro

    A educadora Alana Calado Franco é diretora da Escola Municipal Quilombola Áurea Pires da Gama, em Angra dos Reis, Rio de Janeiro. Ela é a responsável pelo projeto Educa Bracuí, que oferece na unidade um curso preparatório aos sábados (com professores voluntários) para os estudantes do 9º ano da escola. O objetivo é reduzir a evasão e ajudá-los a criar uma ponte segura para o ensino médio.

    O foco é sobretudo a aprovação na prova de seleção para o curso técnico do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ), uma profissionalização que pode mudar a vida de muitos jovens carentes da comunidade.

    Segundo a educadora, 70% dos estudantes são ligados ao Bolsa Família. Além disso, a maioria é negra, indígena ou caiçara, populações em situação de vulnerabilidade social.

    “Os pais vinham trazendo para a escola uma angústia muito grande em relação ao futuro dos filhos, alguns já cooptados pelo tráfico de drogas. Por isso, queríamos apontar uma alternativa contra o abandono escolar e inspirar novos sonhos e outros futuros”, diz Alana.

    Logo no início, os resultados foram incríveis. Em 2023, das 20 vagas que o CEFET ofereceu, 12 foram preenchidas por participantes do projeto aprovados na prova.

    “Eles hoje inspiram os que estão chegando ao 9º ano a completarem os estudos e seguirem adiante”, acredita. Com o prêmio e a repercussão na comunidade, outros professores se voluntariaram a dar aulas aos sábados e os pais dizem que o projeto resgatou a autoestima do bairro e trouxe de volta a esperança para os jovens. Afinal, esperançar é também uma emoção – e das boas.

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    Giuliana Capello é jornalista e mãe encantada e grata pelos projetos que a filha de dez anos realiza na escola, com curiosidade e olhinhos brilhantes.

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