Comece a desatar os nós que a vida dá
O que a vida tem a ver com um novelo de lã? "Não há como continuar a tricotar com o novelo todo emaranhado". Veja como desatar os nós que a vida dá.
Neste mês, nosso amigo colunista anônimo responde à carta de uma leitora que passa por um momento conturbado: a perda de um bebê, problemas no trabalho e dúvidas sobre seu casamento. O conselho que ele dá envolve uma metáfora que compara a nossa vida a um novelo de lã. “Não há como continuar a tricotar com o novelo todo emaranhado”, diz. Veja a explicação completa do Caro Estranho.
Caro Estranho,
Há algum tempo, estava grávida e perdi o meu bebê. Foi um choque muito grande, que até agora não superei. Desde então, o desânimo tomou conta de mim. Para piorar, detesto o meu trabalho, mas não posso me dar ao luxo de ficar sem ele neste momento.
Como se não bastasse, devo me casar em breve. Porém, não estou segura quanto a isso. Afinal, ainda tenho um ou outro problema com o meu noivo. Enfim, estou perdida e não sei que rumo seguir. Escrevo-lhe para pedir ajuda. Como enfrentar tudo isso junto?
Agradeço por me ouvir,
Leona
A paciência e o novelo emaranhado
Cara Leona,
Quando eu era criança, gostava de assistir à minha mãe tricotar. Era incrível como, com um ponto por vez, ela parecia fazer o que quisesse. No entanto, o meu momento favorito era quando ela pedia a minha ajuda para desembaraçar algo. Pode parecer estranho, mas foi essa a imagem que me veio à mente, ao ler a carta que você me mandou. A de um novelo emaranhado.
Não é mais ou menos assim que você se sente? Como se precisasse encontrar uma única ponta solta para, então, começar a desatar cada nó que se fez? Eu imagino que sim.
Contudo, desembaraçar um novelo requer calma, concentração e bastante paciência. Além disso, não há uma garantia de quando o trabalho será concluído. Portanto, respire fundo para poder começar. Na carta, o primeiro fato que você me relata é que, há algum tempo, perdeu um bebê. Está aí, portanto, o primeiro grande nó. Então, eu me pergunto. Será que você deu a devida importância a isso e viveu esse luto? Enfim, não se trata de algo tão corriqueiro. Essa dor deve ser respeitada. Não precisa acelerar a vida, minha cara.
Na sequência, você me diz que detesta o trabalho que exerce, não é isso? Logo, mais um nó no novelo. Você já parou para pensar em procurar outra ocupação ou até mesmo mudar de área? Não seria prudente desembaraçar essa situação antes de se casar? Mais uma vez, peço que pare, respire e pense um pouco. Quanto ao casamento, inclusive, permita-me perguntar. Por que levar esse plano adiante agora, se você não se sente segura? De onde vem tanta pressa, Leona? Não há como sentar com esse noivo e reprogramar a rota, se for o caso?
Você está certa, minha cara. É óbvio que está perdida e não sabe que rumo seguir. Afinal, não há como continuar a tricotar com o novelo todo emaranhado, concorda? Por isso, como eu disse, é preciso primeiro encontrar uma ponta solta. Esteja ela no luto, na carreira ou no casamento. Cabe a você descobrir.
Para mim, você precisa de uma dose de calma e outra de paciência, minha cara. Pois a vida acontece no tempo certo. Não adianta querer correr.
Lembre-se de que toda e qualquer peça nasce do mesmo jeito. Com um ponto de cada vez.
Um grande abraço,
Estranho
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CARO ESTRANHO (@caro_estranho) não sabe ao certo o que é ser um escritor, mas escreve na tentativa de ajudar o outro. Autor do livro homônimo, acredita viver em um mundo carente de amor e, sobretudo, de empatia. Não é médico, psicanalista ou psicólogo. É apenas alguém que tem fé na força de cada ser humano.
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