Taoísmo, a tradição que une filosofia, espiritualidade e bem-estar físico

A arquiteta de formação Laryssa Valente sempre se interessou por filosofia. Na sua busca por respostas a questões existenciais passou por algumas escolas filosóficas até chegar ao taoísmo. Há quase 25 anos nesse caminho, ela o escolheu por ser uma linha filosófica que incentiva o pensamento independente.

“Todo grande professor de Tao vai dizer para construir nossa confiança com base na nossa própria experiência. Falamos das pessoas que fizeram testes, experiências e seguiram pela vida tirando suas conclusões, mas a experiência que observamos nunca é dada como uma verdade absoluta”, declara Laryssa.

Para além de algumas respostas e um estilo de vida, o taoísmo faz parte da vida de Laryssa de forma profissional. Hoje, ela atua oferecendo serviços relacionados à medicina tradicional chinesa, além de outras práticas taoístas.

Ela revela que, o taoísmo trouxe perspectivas de apaziguamento e tranquilidade para sua vida. “Não tem nada errado com a gente, mesmo que às vezes estejamos mal, doentes. Isso faz parte de entender que tudo é processo da vida. A vida é um fluxo, um grande mistério, e nós temos a oportunidade de estar um pouquinho mais conscientes do grande fluxo em que vivemos.”

Taoísmo como prática filosófica e religiosa

O taoísmo tem origem chinesa e tem como base o Tao, definido como “caminho”. Encontrar o Tao ou o caminho é o objetivo para a libertação da alma. Essa busca aparece em dimensões filosóficas, artes de sabedoria e também religiosas.

Wagner Canalonga, sacerdote da Sociedade Taoísta do Brasil, explica que o taoísmo é algo antigo e muito diverso, e por isso apresenta diferentes práticas. Mas que, no início, a filosofia e as práticas religiosas eram algo único. A pluralidade do taoísmo permite portanto que as pessoas pratiquem e sigam o que é mais interessante para elas.

“Os ensinamentos filosóficos para viver o taoísmo como um estilo de vida que prima pela saúde, pelo equilíbrio, pela harmonia e pela integração com a natureza e mundo natural. É um estilo de vida muito interessante e que pode ser aplicado para qualquer tradição espiritual.”

“Quem quer se aproximar do taoísmo pela filosofia e quer ficar por aí, tudo bem, mas se consegue perceber que isso tem conexão com as artes de sabedoria e com a parte do caminho espiritual e com a religião, a porta também está aberta”, explica o sacerdote.

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No taoísmo, o equilíbrio é movimento

Um dos pilares do taoísmo é o equilíbrio, que ao contrário do que se espera, não é algo estático. Ele ocorre em movimento, criando também harmonia. O equilíbrio é representado pelas energias ying e yang, ilustradas na imagem abaixo.

Yin Yang, símbolo do Taoísmo. Reprodução: Tao.org

José Bizerril, antropólogo de formação e especialista em medicina chinesa e filosofia taoísta, explica que essas duas energias formam algo único e inseparável, já que uma se transforma na outra de maneira constante. “Quando a manifestação chegou ao máximo, ela vira o seu contrário. Esse pulso, esse movimento espiral circundado o universo e todos os fenômenos, é o Tao, é o caminho, a natureza das coisas.”

Segundo ele, é possível sentir essas energias e se harmonizar com elas por meio de práticas corporais e meditativas. Os taoístas observam a natureza e descrevem seus processos. Entretanto, alguns processos só podem ser compreendidos pelo caminho contemplativo.

Abandonar os julgamento e o apego traz leveza para a vida

A essência de movimento se manifesta no taoísmo também através do desapego ao julgamento e às emoções, relata Larrysa.

“Nós tiramos o julgamento sobre as coisas. As coisas são o que são e nós aceitamos. Claro que ficamos felizes e tristes, não é sobre não ter sentimentos, mas sobre não se apegar a eles e ao julgamentos sobre eles. As coisas acontecem. Essa perspectiva leva as pessoas a terem uma vida mais leve”, relata.

Ela explica que o não apego aos sentimentos é abraçar o fluxo e o movimento da própria vida. “Temos que sentir, faz bem sentir. Mas o legal é que possamos sentir coisas diferentes, ter experiências diferentes e não ficar preso na mesma condição.”

Para ela, respeitar essa condição traz mais lucidez para as ações das pessoas e o entendimento da transitoriedade das situações. “ Observar na nossa vida dentro desses princípios faz a gente não se desesperar com o que está acontecendo e entender que tudo é fase. Tudo vai passar, as coisas boas e as coisas ruins também. Isso é muito acolhedor”, declara.

Práticas de bem-estar

Em seus fundamentos, o taoísmo tem a preocupação com a longevidade e a saúde, de modo que há práticas voltadas para garantir o Bem Viver. A medicina tradicional chinesa, que preza pela confiança na própria recuperação do corpo, assim como o tai chi chuan, arte marcial de baixo impacto, são exemplos dessas práticas.

“A vida longa e saudável é considerada um valor, até para aproveitar a oportunidade. O cuidado com a saúde é uma parte do caminho espiritual, não são duas coisas opostas. Grandes mestres taoístas também foram médicos, artistas marciais ou praticantes dos exercícios terapêuticos”, exemplifica José Bizerril.

Taoísmo busca a harmonia

Wagner Canalonga pontua também que as práticas relacionadas ao corpo são uma forma de harmonizar e trazer um estado de unidade, o que é benéfico também para lidar com estados de ansiedade ou depressão.

“Na visão do taoísmo, os estados de ansiedade ou de depressão derivam dos desequilíbrios entre as energias na nossa própria constituição, no nosso corpo. Não só o corpo físico, os sutis também. E várias práticas nos ajudam a restaurar um estado de equilíbrio do nosso corpo com as nossas emoções, em uma visão de que tudo está muito integrado”, explica o sacerdote.

Ele destaca a existência de exercícios e movimentos que estabelecem sincronização entre corpo e mente e que criam um estado de atenção e presença. “Um estado de unidade – em que a atenção está ligada ao corpo e à respiração, e em que os movimentos são sincronizados com a respiração -, traz um estado de presença plena para o presente. Além disso, evita a dispersão de mente e de energia, que quando ocorre, enfraquece orgânica, emocional e psiquicamente.”

Além disso, o taoísmo também traz a perspectiva psicossomática. Isso porque, uma vez que corpo, mente, espírito e emoções estão conectados, alterações em um influenciam os outros. Wagner explica que existem “cinco órgãos preciosos” no corpo e cada um está relacionado a uma emoção básica.

O coração está ligado à alegria, o baço à preocupação, os rins ao medo , pulmão à tristeza e o fígado à raiva. Dessa forma, quando um órgão está em desarmonia, aquela emoção também fica desarmônica, exacerbada ou enfraquecida. Por outro lado, um estado prolongado em uma dessas emoções também gera um desequilíbrio energético do órgão.”

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