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O que aprendi ao não usar absorventes de plástico na menstruação
Foto: Reproductive Health Supplies Coalition
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Eu não lembro bem quando descartei meu último absorvente de plástico na lixeira do banheiro, se era em casa ou no trabalho, tampouco qual a marca.

Mas é impossível esquecer minha reação quando me deparei com a primeira alternativa a este item que faz parte do cuidado pessoal da menstruação desde os anos 1930.

Era 2011 quando fiz uma reportagem sobre menstruação natural (tema pouquíssimo falado na mídia da época) e o protagonista acabou se tornando um tal “mooncup”.

Um copinho feito de silicone cirúrgico que seria acoplado internamente na vagina, colhendo nosso sangue. Encheu, descartou (no vaso sanitário ou vasinho de planta – um ato chamado “plantar a lua”). Simples assim.

Quando a reportagem foi publicada, uma das personagens me mandou um coletor menstrual de presente. Detalhe: ela revendia o apetrecho importado do Reino Unido, e hoje temos diversas empresas que fabricam aqui no Brasil.

Apesar do encanto, ele ficou guardado na gaveta por alguns anos enquanto eu me abria, pouco a pouco, ao tema do autocuidado natural.

Até que, em 2014, já uma buscadora de um estilo de vida natural e do consumo consciente (eu acabara de criar o que na é minha plataforma para compartilhar essa jornada, a Naturalíssima) passei um ciclo inteiro usando apenas o copinho que, até então, havia sido apenas “testado”.

Eu, que já andava alternando o convencional com a versão de reutilizável (de pano), adquirida numa feirinha, nunca mais coloquei minha vulva em contato com plástico (até o meu pós-parto, em 2022. Mas essa é outra história).

Menos poluição, mais autoconhecimento

Segundo estudos, a maioria das mulheres dos Estados Unidos menstrua por cerca de quarenta anos. Isso com fluxo de cerca de cinco dias por mês, ou cerca de 2,4 mil dias ao longo da vida – por volta de seis anos e meio, ao todo. Um impacto positivo para motivar tal troca ecológica.

Se naquela época a substituição pedia um tanto de resiliência à adaptação que impacta diretamente no social, hoje temos ainda as chamadas calcinhas menstruais.

São roupas íntimas com inovação no design e na matéria-prima para absorver o sangue diretamente. Por aqui, sigo alternando com mais apreço, confesso, ao absorvente de pano.

Para além do alívio de reduzir o impacto ambiental da minha própria rotina de higiene e cuidados – tema que se tornou uma bandeira no meu ativismo pelo consumo consciente – minhas maiores lições se deram na seara do autoconhecimento.

Cinco lições sobre não usar absorventes de plástico

1 – A menstruação não é sujeira, tampouco tem cheiro ruim

Os absorventes descartáveis são recheados de componentes químicos e são esses componentes os responsáveis pelo cheiro ruim que sentimos! Quando o sangue menstrual entra em contato com estas substâncias, ocorre uma reação química que exala esse cheiro forte e nada agradável! E é por este motivo que muitas marcas fazem absorventes perfumados, para disfarçar este odor.

2 – O sangue menstrual é uma ferramenta de autoconhecimento

Quando usamos o absorvente de plástico, ao fazer a troca da higiene íntima, pouco olhamos para ele. E nem adiantaria, porque o mesmo processo que libera um odor ruim, também escurece o sangue. Nem mesmo podemos analisar textura. Já quando ele está em um copinho ou em um paninho, podemos observar as características e ter mais sinais se algo anda diferente no ciclo e, assim, ter até mais detalhes para repassar durantes as nossas consultas ginecológicas.

3 – É uma ressignificação com o próprio corpo

Ainda que, hoje, para muitas pessoas a primeira motivação seja sobre redução de plástico, há um processo revolucionário neste caminho. Em uma sociedade que nos ensinou a enxergar a menstruação como algo ruim, sujo e feio, entender nosso sangue como parte dos ciclos da natureza e cultivar até mesmo um olhar sagrado para ele, é revolucionário.

4 – Nosso sangue é sagrado e pode ser um resgate de relação com a Mãe Terra

Um movimento que se popularizou nos últimos anos e foi, inclusive, minha motivação para usar as versões ecológicas dos absorventes, é o movimento “plantar a lua”. A ideia é enxergar o sangue como sagrado, como parte da mãe natureza por uma perspectiva ancestral.

Aliás, um dos livros que marcou a minha jornada de pesquisas sobre sagrado feminino, A Lua Vermelha (Miranda Gray), celebra as energias criativas dos ciclos femininos.

A autora enxerga-os como forma de empoderamento emocional e espiritual. Mas como abrir-se a este caminho tendo nojo do próprio sangue?

5 – É um caminho sem volta

Uma vez que você entende que algumas trocas provocam impactos sistêmicos da nossa rotina ao mundo que nos cerca, como sucumbir a um modo convencional de consumir?

Até o “de vez em quando” (um tipo de equilíbrio falacioso, na minha opinião) não cabe. Gera desconfortos na mesma intensidade que fazer boas e conscientes escolhas nos gera alívio.

Há quem diga que todo esse movimento de incentivo a olhar para os ciclos menstruais com mais gentileza seja romantização, eu acredito que, na verdade, é sobre reconhecimento de si. Uma forma de resistência nesse sistema que nos ensinou a ter vergonha e nojo de menstruar.

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